Neste ano, o público do Festival Universitário da Canção (FUC) vai acompanhar apenas apresentações de músicos dos Campos Gerais. Após mudanças no formato do evento, artistas de outras regiões do Paraná e do país não podem participar da competição. Segundo a organização, a medida foi tomada para reduzir gastos e valorizar a cultura local.
De acordo com a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Proex UEPG), responsável pelo evento, entre 2006 e 2018 o FUC recebeu 1.672 inscrições. Desse total, 1.395 representam músicos inscritos na etapa nacional e apenas 277 na regional. Sandra Borsoi, coordenadora do evento, explica que a realização da etapa nacional gerou um custo elevado. “Nós dependemos de investimento institucional que, no momento, as universidades não estão recebendo para investir na cultura”, diz.
Por conta da pandemia, o formato do festival foi alterado novamente. O atual regulamento permite que apenas músicos que moram em cidades que abarcam a Associação dos Municípios dos Campos Gerais (AMCG) participem. Neste ano, o FUC recebeu 41 inscrições de artistas de Ponta Grossa, uma de Carambeí e uma de Tibagi.
O FUC foi criado em 1980 por iniciativa do Diretório Central dos Estudantes da UEPG (DCE). Em 1986, devido a problemas financeiros e desinteresse da gestão em realizar o evento, o festival foi interrompido. Oito anos depois, a UEPG assumiu a promoção do evento. Desde então, o FUC acontecia sem nenhuma interrupção. Em 2020, pela primeira vez desde que a UEPG se tornou responsável pela realização, o FUC não aconteceu. Em fevereiro daquele ano, antes mesmo da pandemia, a Proex informou que as apresentações só aconteceriam em 2021. Entretanto, o anúncio veio após a aprovação do 33º Festival Universitário da Canção no Programa Municipal de Incentivo Fiscal à Cultura (PROMIFIC). Na ocasião, foram apresentadas outras mudanças, como o fim da etapa nacional e a criação de duas novas categorias.
Encontros e parcerias
Artistas que já se apresentaram na competição reconhecem a importância da participação de músicos nacionais. Gabriel Guedez e Thobias Jacó formam o Duo Aduar. Eles venceram o FUC com a canção “Silêncio do Rio”, em 2019. Esse foi o primeiro festival em que a dupla participou fora do estado de Minas Gerais, onde reside atualmente. O fato da competição ser realizada por uma universidade pública incentivou a inscrição dos músicos.
Para Gabriel, o contato com músicos de diferentes localidades traz benefícios para a cidade e para os próprios artistas. “É uma oportunidade para trocar experiências, fazer amizades e parcerias, além de escutar e se inspirar em grandes canções”, explica. Já Thobias define a participação nacional como um momento de partilha. “Os músicos semeiam um pouco da sua canção e também levam uma semente para casa. As cidades são afetadas por esse movimento”, ressalta.
A dupla entende a mudança como uma estratégia para evitar a interrupção do evento. Eles lembram que o FUC é promovido por uma instituição de ensino e que várias universidades públicas sofreram cortes no orçamento. “Em um momento de crise, é muito mais sensato estimular o festival regionalmente. Fazer com que ele cresça a partir da região e atinja os artistas locais”, avalia Jacó.
Mulheres no FUC
Ao todo, 25 artistas estarão envolvidos na realização dos shows entre vocalistas e instrumentistas. Desse total, 22 são homens e apenas três são mulheres. A bailarina e cantora Phayga Gruber se apresenta pela terceira vez na competição. Ela e a cunhada, que também é artista e vai se apresentar no FUC, notaram a diferença entre a participação masculina e feminina no evento. “Não sei o que aconteceu. Existem grandes mulheres na música em Ponta Grossa”, observa.
Apesar de não trabalhar diretamente com música, Phayga participa do festival sempre que possível, seja no palco ou na plateia. Para ela, o FUC é uma oportunidade para construir experiências. A artista espera que o novo formato da competição seja capaz de valorizar a música local e que incentive novos músicos da região a se inscreverem na competição.
Do palco para as telas
Diferente das edições anteriores, o 33º Festival Universitário da Canção será totalmente online em razão da pandemia. Uma comissão formada por três jurados irá avaliar as apresentações durante o evento e as 10 canções selecionadas serão gravadas previamente e exibidas no dia 06 de outubro nas plataformas oficiais da UEPG. Mesmo em casa, o público ainda poderá indicar uma música ao prêmio Júri Popular. A votação ocorrerá em uma plataforma digital. A veterana Phayga não perde o entusiasmo, “Vai ser algo novo”, diz a bailarina.
Reportagem produzida na disciplina de Produção e Edição de Textos Jornalísticos II do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Assista a reportagem no formato audiovisual publicada no canal Youtube do Portal Periódico.
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