A fundadora do Grupo Renascer de Ponta Grossa, Débora Lee, mediou o debate sobre religião e diversidade sexual nesta terça-feira, dia 17, no Cine Teatro Ópera. Com início às 19h, o XIV Seminário da Diversidade Sexual dos Campos Gerais e o XIII Fórum de Direitos Humanos trataram do tema “Família e Religiosidade: Nós temos Direito”.
Disposta no palco principal havia uma mesa com a bandeira que representa a comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), que comemora no dia 17 o Dia Internacional contra a Homofobia.
O evento contou com a presença de três representantes religiosos, com o objetivo de conhecer o posicionamento de diferentes igrejas na discussão LGBT. Participaram do debate o bispo Naudal Alves Gomes (pela Igreja Anglicana), Emmanuelle Zavarize (pelo espiritismo e umbanda) e o professor Edson Armando Silva (como estudioso da Igreja Católica).
Débora Lee, que mediou o seminário e ajudou a fomentar a discussão, iniciou o debate com lembranças de sua vivência como travesti. Após interromper os estudos, ela voltou a estudar com 39 anos e, sem vergonha de dizer, trabalhou na prostituição por 30 anos. Aos 12 anos, foi expulsa de casa e por isso desenvolveu um novo conceito de família: “aquela que cria”.
“Não temos oportunidade de trabalho. Somos corpos abaixo de sujeitos, sem apoio da família e da escola”, observa. Segundo Lee, a principal ideia que orienta os debates e ações do grupo é a conscientização e a busca pelo respeito. De acordo com ela, em 2015, 500 travestis foram mortas no Brasil, sendo duas em Ponta Grossa. “Em 2016, até agora, uma colega e conhecida pelo grupo morreu na cidade. O vírus da Aids e assassinato são as principais causas”, relata.
Edson Armando Silva, professor e pesquisador da documentação católica do século XX, explica que a religião é formadora de identidades e precisa instituir novos diálogos. Ele analisa que, dentro da Igreja, há divisões entre pensamentos radicais e ideológicos. Silva cita o trecho da bíblia que julga diretamente a relação entre duas pessoas do mesmo sexo.
De acordo com o pesquisador, há fundamentalistas que tendem a escolher estas passagens bíblicas e negar outras, o que se revela equivocado. O professor dá o exemplo da ciência que definia a homossexualidade como doença há pouco tempo e modificou sua interpretação de acordo outras abordagens sobre o tema.
“Existem outras formas de pensar. A ideia de pensamento é transcendental. A leitura faz com que os sentidos das palavras também mudem”, observa.
Já o bispo Naudal Alves Gomesm (anglicano) considera que a cidadania precisa ser conquistada em primeiro lugar. Para ele, a exclusão LGBT é cultural e não somente religiosa. O bispo acredita que o preconceito somente será superado quando existir contato entre as pessoas. “Em geral, muitos sacerdotes se identificam como gays”, revela.
Como lembra Naudal, a comunidade LGBT não se sente totalmente aceita na religião. Podem ser batizados e participar da Igreja, mas não possuem o direito de celebrar o patrimônio. O religioso relata que, desde 2014, a Igreja é desafiada a refletir em encontros e assembleias por todo o país. “Quem discrimina está agindo contra a lei – dos homens assim como a de Deus”, diz.
Emmanuelle Zavarize, representante umbandista, ressalta que sua religião é aberta e não possui nenhuma discriminação. Para ela, existem apenas crenças diferentes para definir a mesma fé. Durante as exposições dos convidados, apresentações culturais interviram no palco. O Coral Gay de Curitiba foi a atração de destaque na programação do evento. Após as falas, houve espaço de diálogo com o público.
“Muitas comunidades religiosas, dentro do catolicismo, se prendem a documentos e só mudam de opinião após muito convencimento”, observa Edson Silva, ao se referir ao espaço restrito para debate sobre questões da comunidade LGBT no meio religioso. “Institucionalmente, existem limitações a serem superadas”, conclui.
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