O Clube de Leitura “Leia Mulheres” realizou o encontro de maio no último dia 15 para debater a obra “O Conto da Aia”, de Margaret Atwood. O romance distópico, escrito em 1985, se passa num futuro muito próximo do que vivemos e é ambientado em Gilead – antigo Estados Unidos da América – onde foram extintas todas as formas de educação e cultura como conhecemos: jornais, revistas, livros, filmes e até mesmo universidades.
Como o direito à liberdade da população é cerceado, não existem mais advogados para defender aqueles que vão contra o regime instaurado. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados em praça pública, para servir de exemplo aos demais do que não se pode fazer.
No universo teocrático e totalitário criado por Atwood, as mulheres são as principais vítimas do regime de opressão. Sem nenhum tipo de direitos, elas são divididas em categorias com funções específicas, todas com finalidades voltadas aos interesses do Estado. Offred, narradora e protagonista da história, pertence à categoria de Aia, a qual é unicamente designada para a reprodução da raça humana, uma vez que o país sofreu uma catástrofe nuclear que tornou estéril boa parte da população.
Entre os principais assuntos discutidos no encontro, foi ressaltada a aproximação entre a nossa realidade e o mundo distópico criado pela autora, além do questionamento se estamos evoluindo ou retrocedendo como sociedade, visto que reflexões trazidas em obras como “O Conto da Aia”, “1984” de George Orwell e “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley estão se tornando cada vez mais palpáveis. Também foram discutidos pontos chave da história para o desenvolvimento dos acontecimentos, como a doutrina religiosa sendo a base para a instauração do regime, o restabelecimento de uma sociedade patriarcal e opressora e a visão da mulher como um objeto de posse, resumida à reprodução da espécie e à função materna na sociedade.
O final aberto do livro, que se passa mais de 100 anos após os últimos acontecimentos narrados por Offred, ganhou destaque no debate. Mesmo após a história da Aia ser encontrada e estudada por sociedades mais evoluídas, ainda assim existiram pessoas que questionaram a autenticidade daquilo que foi vivido por ela em Gilead. No debate, foi apontado o quanto a voz da mulher é invalidada, e foi ressaltada a importância de combater todas as situações de desvalorização e repressão feminina. Neste contexto, foram trazidas como pauta discussões sobre casos de feminicídio, diferenças de gênero no mundo e lutas feministas.
Uma curiosidade mencionada no encontro foi o fato da obra ter inspirado a série homônima “The Handmaid’s Tale”, produzida pelo canal de streaming Hulu desde 2017. Semelhanças e diferenças entre livro e série também foram apontadas no debate, visto que a segunda consegue explorar com ainda mais detalhes a história, dando a oportunidade dos fãs de conhecerem resoluções alternativas para o universo criado por Atwood.
Sobre o “Leia Mulheres”
O clube realiza encontros mensais de maneira presencial, mas por conta da pandemia de Covid-19 os debates passaram a ocorrer de forma online pela rede social Skype. A mediadora e responsável pelo projeto, Ana Istschuk, conta que os encontros online têm seu lado positivo, já que permitiram a participação de leitoras de outras cidades, e inclusive de autoras dos livros debatidos pelo projeto, como aconteceu no encontro de agosto de 2020 em que a autora Cidinha da Silva participou do debate sobre seu livro “Sobreviventes”.
O “Leia Mulheres” é um clube que lê exclusivamente obras escritas por mulheres. O projeto é desenvolvido em diversas cidades do Brasil, e chegou à cidade de Ponta Grossa em 2018. O próximo livro a ser discutido é “Tudo nela brilha e queima” de Ryane Leão. O encontro está marcado para o dia 19 de junho, às 14h. A programação completa de leituras de 2021 está disponível no Instagram do projeto.
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