Literatura na chaminé: redobrar apostas sobre uma feira do livro em PG

A expectativa sobre o livro jamais há de ser demasiada. Assim como se espera muito de uma obra ou de um escritor, é justo apostar alto em eventos literários. Significa renovar confianças sobre os potenciais da literatura e da leitura, práticas que, afinal, sempre estamos por conhecer e aprender um pouco mais. Não poderia ser diferente. É por isso que se deve esperar sempre mais da feira do livro de Ponta Grossa.

Estima-se um evento em 2013 melhor do que a edição anterior, que bem recuperou uma iniciativa do início dos anos 2000 até então adormecida na cidade. A ideia é bastante simples: reservar um espaço e um momento para a celebração do livro e dos leitores na cultura local. Uma atitude modesta a carregar uma proposta em nada pequena.

Trata-se de colocar de uma vez por todas a literatura no calendário, agendar como um dos tópicos de preocupação, cuidado e da atenção pública. Notório uma feira não resolver sequer uma frágil parcela dos problemas do acesso ao livro. Mas realmente grave seria não realizá-la sob esse pretexto. Pois seu efeito simbólico aponta em outra direção.

Lembra ao próprio setor cultural, ao mercado editorial, a mediadores da leitura, escolas, estudantes, administradores, professores e demais trabalhadores que a cidade, quando quer, tem tempo sim para o livro.
Tempo e lugar. Porque a feira só se enraíza no gosto da população quando vira ponto de encontro, espaço festivo, reelaborador de histórias e de relações afetivas – quando passa a acionar memórias.

Vale ir para passar o tempo, por não ter o que fazer, para dar uma volta, encontrar alguém, pesquisar preços, conferir uma palestra ou o lançamento da obra de um antigo conhecido. Quem quiser passar só para dizer que foi possivelmente também está convidado – e arrisca sair de lá com uma história, nem que seja na imaginação.

Pela primeira vez o local das antigas indústrias Wagner vai abrigar o evento. Vamos tratar de literatura aos pés de uma chaminé que resiste bravamente aos ventos da ocasião e nos comunica a uma cidade que aí já estava, com outra incessantemente desafiada e mais uma que de um jeito ou de outro permanece e se transforma.
De um lado, um centro de música. Do outro, uma biblioteca pública – em sua primeira sede feita especificamente com essa finalidade após décadas de itinerância. Agora é a vez de deixar a itinerância com os leitores, esses sim em busca de novas travessias. Eles desejam guardar na memória esta segunda Flicampos como um grande evento, a reinaugurar, de certa forma, o caráter cultural dessa paisagem das Olarias.

Onde existem grandes expectativas, também vivem as frustrações (e o jornalismo em cima da hora para registrar tudo, alguém diria). Os imprevistos, as lacunas, as tensões e as discordâncias fazem parte do jogo e do desenvolvimento de um evento que se pretende duradouro e relevante.

Os elementos precisam ser tomados como parte de uma construção coletiva, que incluiria a tentativa de uma gestão cada vez mais participativa, a rigorosa prestação de contas, a profissionalização das diferentes etapas, a qualificação dos catálogos, a diferenciação no preço, pesquisas de público, entre tantas outras pistas já indicadas no planejamento da primeira edição.

Os estudantes do curso de Jornalismo da UEPG, pelo projeto de extensão Cultura Plural, deixam uma contribuição à trajetória inicial desse evento. Eles passam a acompanhar diariamente a Flicampos 2013, com o desafio de trazer ao leitor informações precisas e em tempo real, direto do local das atrações. As equipes de reportagem noticiam o andamento das programações, o perfil dos convidados, o movimento do público, os livros em destaque, os lançamentos, entre outras contribuições que só podem ser testadas nesse tipo de cobertura in loco das atividades culturais.

O internauta está desde já convidado a interferir na cobertura, com sugestões, comentários, críticas, ou em retornos presenciais diretamente na redação do Cultura Plural na feira. Os frequentadores que desejarem registrar a sua opinião ou compartilhar vídeos e fotos com o projeto só tendem a melhorar a cobertura – com expectativas igualmente plurais sobre o evento que inicia. Uma feira literária é uma condição imprescindível ao desenvolvimento e à experimentação de qualquer jornalismo cultural que se preze. Um bom passeio e boas leituras.

Texto de Rafael Schoenherr

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