Mãos que fazem o FENATA

Por Mariana Tozetto; Kauana Mendes; Isabela Almeida

Em sua 43ª edição, o Fenata (Festival Nacional de Teatro) recebe voluntários de vários cursos da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) para trabalhar na parte da organização do evento. Segundo o diretor de assuntos culturais da PROEX (Pró Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais), Wilton Paz, neste ano se inscreveram 61 pessoas de variados cursos.

Os estudantes trabalham no festival com o intuito de adquirir experiência profissional que o evento propicia. Um exemplo é a estudante Nátaly Maceno, aluna do terceiro ano do curso de Turismo, que participa de forma voluntária no Fenata desde seu primeiro ano de faculdade, e também foi selecionada para atuar nesta edição do festival.

Segundo a estudante, no ano em que ela iniciou os estudos, 2013, a professora que estava na coordenação do Fenata convidou alguns alunos que tinham interesse em participar do evento, e então ela se inscreveu. A vontade de participar para conhecer como é a organização foi o principal motivo de ter se voluntariado: “Por ser uma área que gosto [organização de eventos], resolvi participar do voluntariado para entender melhor e aprender como funcionava toda a organização do evento, em todas as suas fases”.

O aluno selecionado participa de varias reuniões que são feitas antes do evento, nas quais são divididos de acordo com disponibilidade de horário. Logo em seguida, eles recebem as instruções gerais de como acontece o festival e são apresentados aos coordenadores de cada mostra, que têm mais informações sobre a área em que o voluntário vai atuar.

As funções dos voluntários são pré-estabelecidas, porém, de acordo com a estudante, na hora dos espetáculos, todo mundo acaba fazendo de tudo um pouco, “As coisas podem mudar, podem precisar de ajuda em outra função que não seja a que você foi designado, por exemplo, e assim acaba acontecendo o rodízio de funções”.

Natály afirma que o estágio voluntário traz bastante experiência profissional, principalmente para quem tem o desejo de trabalhar no ramo da organização e conhecer pessoas de vários estados do país. “Você acaba aprendendo na prática aquilo que é ensinado em sala de aula. Temos uma matéria no curso que é a de Organização de Eventos, então para minha vida profissional foi de grande importância porque pude aprender como as coisas realmente funcionam além da parte teórica”.

A estudante também participou como voluntária de outros eventos culturais, como o Festival Universitário da Canção (FUC) e também o Congresso Internacional de Administração (ADM), realizado neste ano, onde foi membro do comitê gestor do evento. Ela afirma que pretende seguir na área de organização de eventos depois de concluir a graduação, e que o Fenata a influenciou muito por ter sido o primeiro evento em que teve a oportunidade de acompanhar o processo de organização e entender melhor como tudo acontece.

Edital Voluntários 2015

O resultado da seleção dos voluntários foi divulgado no dia 30 de outubro. Os voluntários recebem certificado de 60 horas de participação do evento. Neste ano já são 507 espetáculos inscritos no festival. Segundo a pró-reitora da PROEX, Marilisa do Rocio Oliveira o Fenata tem o objetivo de ser plural e democratizar o acesso ao teatro: “As pessoas têm a ideia de que o teatro é para uma minoria, mas não, queremos mostrar que ele faz parte da cultura de um povo”.

Para além de Turismo e Artes Visuais, que trabalham disciplinas de organização de eventos e curadoria, abrir o edital para todos os cursos de graduação da UEPG foi uma estratégia do diretor Wilton. Ele conta que depois que mudou a coordenação do festival, quando Claudio Guimarães (ex-chefe da divisão de assuntos culturais) foi para a Fundação Municipal de Cultura em 2011, as ideias também mudaram, e pessoas de outros cursos demonstraram interesse em se voluntariar. “Uma das coisas que eu valorizo muito é a formação cultural do aluno. A participação no festival é uma experiência para além da formação acadêmica. Não é porque eu estou me formando em medicina que não tenho direito de participar”.

Wilton enfatizou que após a seleção, os alunos fazem uma dinâmica com os voluntários convocados e com a coordenação. “Haverá uma oficina teatral e lá, os coordenadores das mostras e os voluntários vão fazer de tudo um pouco. Nós vamos observar o comportamento de alguns para concluir a seleção”.

“Quando eu entrei no curso de Turismo eu não sabia que ia ter essa parte de eventos. Então, quando eu comecei a fazer, gostei, e vi que é bem diferente do que quando você participa de algum evento como expectador” – Cassiano Filipowski
Foto: Mariana Tozetto

 

ENTREVISTA

O estudante Cassiano Filipowski, 20 anos, que está no 3º ano do curso de Turismo, se voluntaria pela terceira vez para trabalhar no Festival de Teatro. Ele participou do edital pela primeira vez em 2013, e desde 2014 foi convidado para coordenar a Mostra de Rua.

Cultura Plural: Você acredita que o treinamento recebido seja suficiente para todas as situações que vocês irão enfrentar no trabalho voluntário?

Encontramos muitas coisas na hora de organizar a peça que não estão no treinamento. Você precisa saber se virar na hora, ter um segundo plano para dar tudo certo.

CP: E como você estava preparado para esse segundo plano? Por ser aluno do curso de Turismo?

Temos a matéria de eventos no nosso curso, a gente faz muito evento assim e sabe como que é, o que pode acontecer e como se virar, diferente dos alunos de outros cursos. Mas a gente faz de tudo para ajudar e tentar prever o que pode acontecer e como se virar.

CP: Como foram as funções que você exerceu nesses voluntariados?

Na rua a gente levava o material, banners e ajudava os grupos a montar o cenário. Antes do festival, entramos em contato com eles para saber o que precisavam, perguntávamos sobre o alojamento, como eles iriam vir etc.

CP: Por que você continuou se voluntariando depois do primeiro ano?

Acho o Fenata uma experiência diferente, eu trabalho com muitos eventos, faço parte do cerimonial da reitoria da universidade e a gente não faz esses eventos culturais. Eu gosto de fazer evento cultural porque sempre tem situações inesperadas, principalmente com o teatro. Ainda mais na rua, que é diferente de um teatro fechado, que pode chover, o pessoal pode não gostar, passar e xingar, e tem os bêbados também. Então é legal lidar com essas dificuldades para aprender o que fazer na hora. Eu gostei muito a primeira vez por isso me candidatei às outras edições. A primeira vez eu entrei como apoio, e agora, no segundo e no terceiro ano, eu sou coordenador da Mostra de rua.

CP: Quais as experiências profissionais que o Fenata te trouxe que outras experiências universitárias não são capazes de trazer?

Quando eu entrei no curso de Turismo eu não sabia que ia ter essa parte de eventos. Então, quando eu comecei a fazer, gostei, e vi que é bem diferente do que quando você participa de algum evento como expectador. São muitas dificuldades dentro da organização de eventos, coisas para serem resolvidas em cima da hora, e a gente se vira.

CP: Você lembra de alguma história engraçada que aconteceu nesses anos?

Engraçada não sei, mas eu lembro de uma peça específica. Tinha um grupo que pediu muita coisa. Era uma peça de rua, na Praça do Regente, às 10h. Estava ventando muito e eles tinham um cenário grande que abria e fechava para os artistas passarem. A ventania derrubou o cenário deles, aí eles pediram saco de areia para segurar, mas não tinha. Fomos à Proex, pegamos umas caixas de folders e colocamos lá, mesmo assim não foi o suficiente e eles continuaram criticando a organização. Mas a gente não tinha culpa porque o clima é que não estava ajudando. Foi quando caiu uma chuva e estragou todo o cenário deles, acabou a peça. Foi algo bem ruim. Outra vez tinha um bêbado assistindo uma peça, mas ele não atrapalhou e acabou sendo convidado pelo pessoal do teatro para dançar quando começou a tocar uma música. É legal ver que alguns grupos do teatro também se adaptam aos imprevistos que têm na rua.

CP: O edital é aberto para todos os cursos. Como é a experiência de trabalhar com pessoas de outras áreas?

Eu gosto. Ano passado eu trabalhei com um menino de informática. Você vê que eles não tem a mesma experiência que a gente, de Turismo, mas você vê que eles têm outras coisas para passar para você. É legal ensinar da nossa área para eles, que também gostam de adquirir experiência, querem aprender.

CP: Você acha que se não fosse o Fenata o seu curso seria capaz de proporcionar essas experiências multidisciplinares?

Não. A gente tem muita teoria. No segundo ano temos a matéria de organização de eventos, mas o que você aprende mesmo é indo para a prática, trabalhando nesses eventos. Se não tivesse o Fenata, não iríamos conhecer a área dos eventos culturais.

CP: Depois de formado você pretende seguir qual ramo da área de Turismo?

Quero a área de eventos, mas não sei se do Fenata, nem dos culturais. Quero seguir a vida trabalhando com outros tipos de eventos.

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