Muito mais que um esporte, o Turfe é uma paixão

De longe se ouve uma voz grave que impera sobre as demais e insiste em dizer, pausadamente: “alguém mais, alguém mais. Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três…”. Ao se aproximar, é possível perceber pessoas de todas as classes sociais e também o predomínio de pessoas acima dos quarenta anos. Enquanto o homem de voz aveludada faz o show, alguns espectadores conversam, discutem e analisam possíveis propostas ao sujeito em destaque no palco.

Esse é o clima de uma tarde de apostas para as corridas no Jockey Club Pontagrossense. Fundado no final século XIX, o Jockey Club Pontagrossense é o segundo mais antigo do Brasil e é o único do interior do país que possui duas pistas diferentes: uma de areia e outra de grama. Um dos idealizadores foi Augusto Ribas, do antigo Prado de Corridas, que deu origem ao que é hoje o Hipódromo de Uvaranas.

O admirador e apostador Valter Assis, ‘o Barba’, como é conhecido no local, relembra episódios marcantes que aconteceram no Hipódromo de Uvaranas: “Eu frequento o Jockey Club desde os anos 60. Na época tinha corrida todo sábado aqui. Lembro uma vez em um Grande Prêmio, nos anos de 1970, faltavam 150 metros para o fim e o cavalo, que liderava a corrida, tropeçou, caiu e aí, o animal que vinha atrás iria bater nele, quando o jóquei do cavalo que vinha atrás montou naquele que estava levantando e chegou no disco (linha de chegada) montado no animal que havia tropeçado”, conta Valter.

Porém, em 2009, o Hipódromo foi fechado em razão de uma ordem judicial, determinado pelo Ministério da Agricultura, que obrigou que fossem realizadas reformas e adequações ao Código Nacional de Corridas nas instalações do Jockey Club. No dia 21 de abril de 2012, após cumprir as exigências, o hipódromo foi reativado.

Mas, mesmo com a ativação e regularização do espaço, as corridas se tornaram menos frequentes em relação ao período anterior à ‘pausa’. Hoje, as apresentações acontecem uma vez a cada mês. No mês de agosto desse ano, houve a classificatória para o Grande Prêmio Ponta Grossa, que ocorreu no dia 14 de setembro.

No dia 16 de agosto, o tempo estava nublado e algumas gotas caíram sobre o solo do Jockey Club e por isso todas as corridas foram realizadas na pista de areia, pois na pista de grama os cavalos poderiam se machucar e, assim, comprometer o espetáculo. Entretanto, no dia 14 de setembro, quando ocorreu a disputa do Grande Prêmio de Ponta Grossa, o sol brilhou sob o céu da cidade princesina e as corridas previstas para acontecerem na pista de grama foram cumpridas.

Sistema de apostas    

Homens e mulheres, de diferentes raças e idades, lotam as arquibancadas e a grade – que separa a pista do público – para ver dois minutos emocionantes de corrida. Ao fim de cada espetáculo, como um ritual, as pessoas se dirigem às casas de apostas do Hipódromo.

Irene Dobs conta como surgiu o gosto pelo esporte: “Eu aposto aqui há mais ou menos uns trinta anos, desde que eu conheci meu marido a gente vem prestigiar. Nós (família) gostamos muito desses animais. Já fomos a Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e estamos sempre aqui (Hipódromo de Uvaranas) contribuindo com a nossa cidade”.

Além disso, ela brinca ao contar a experiência nas apostas. “Nós deixamos muito mais do que levamos. Nós até brincamos em casa, que a cada Jockey Club devemos deixar uma coroa de flores, com a frase: ‘jaz meu dinheiro’. Porque nós temos amor pelo animal, não que ele te traga lucro. Às vezes adquirimos um cavalo de grande porte e ele te decepciona, de repente adquirimos um animal com porte menor e ele te dá muita alegria. Então, algumas vezes você chora com o animal e, em outras, você ri com ele”, conta a apostadora.

As apostas são controladas pela organização do espaço. Existem dois estilos de apostas, como explica o assessor de imprensa do Jockey Club, Luis Melão. “Existem dois tipos apostas: a de arremate e a normal. A aposta de arremate funciona da seguinte maneira: são várias rodadas com vários animais, cada rodada vai apostando. É tipo um leilão. O ganhador recebe o valor total da rodada, menos uma comissão de mais ou menos 30%, que fica para o Hipódromo. Lá na Casa Pulê, os jogos são menores: 50 reais, 30 reais e assim vai”, afirma o assessor do Hipódromo.

Além disso, na Casa Pulê há pessoas que vendem churros, pipocas, algodão doce, refrigerantes, brinquedos, ou seja, uma infinidade de produtos a fim de conseguir lucro a partir do evento.

A dificuldade dos montadores

Os jóqueis, como são conhecidos os profissionais que montam em cavalos durante as corridas, com aproximadamente 60 quilos, conduzem animais dez vezes mais pesados em relação ao seu peso, a uma velocidade média de 60 Km/h. Para isso, eles usam equipamentos que garantem segurança, além de um traje específico para a montaria.

O segundo colocado do segundo páreo, Rafael Cardoso de Araújo, conta sobre a experiência adquirida na montaria. “Tenho 21 anos e faz uns quatro que eu monto. E não me imagino fazendo outra coisa que não seja a montaria. Além do Hipódromo de Ponta Grossa, já corri no de São Paulo e de Curitiba. E a maior dificuldade para um jóquei é o peso do cavalo. Dependendo do local, as raias podem atrapalhar, mas aqui em Ponta Grossa elas são boas para a corrida. O que mais move o jóquei a correr é a paixão pelo esporte, mesmo”, relata o jóquei.

 

Reportagem de Julian Vieira

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