“O artesanato tinha de ser reconhecido como profissão”, diz artesã

Produção realizada para o Curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Em Ponta Grossa, existem vários grupos independentes de artesanato, uma maneira de fazer a vida com as próprias mãos. Pessoas unidas em torno de propostas de economia solidária. Funciona assim a Associação de Feirantes Solidários (Afesol), que expõe seus trabalhos às quintas-feiras, no campus central ou de Uvaranas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

A maneira de a associação trabalhar é diferente de todas as outras que existem na cidade. Janete Salles Rosa conta que a associação existe desde 2006 e que faz três anos que o grupo foi regulamentado por meio de um estatuto. “Na economia solidária, nós trabalhamos cada um fazendo o seu trabalho individual, mas também fazemos o coletivo, nos reunimos duas ou três vezes por semana na nossa associação, e fazemos a nossa produção, que seriam os malotes que recebemos de doação do Banco do Brasil e dos Correios”.

Os materiais que chegam muitas vezes sujos, rasgados e com a logomarca das empresas passam por um processo de transformação até chegar às mãos de quem compra. As artesãs desmancham o malote, lavam e com a ajuda de outras costureiras da cidade que doam sobras de fios e retalhos elas transformam os materiais em bolsas, pesos de porta, aventais, chaveiros, entre outros produtos. “As sobras dos materiais a gente manda para outra associação, de Porto Amazonas, onde eles também fazem o reaproveitamento”, relata Janete.

Quanto ao lucro, a artesão diz que o valor do trabalho individual vai para elas mesmas, mas outra parte é dividida para ajudar a sustentar a associação. “Nós estamos em seis pessoas, tem três famílias que dependem diretamente da feira”. Além disso, o grupo tem apoio de um projeto de extensão da UEPG, a Incubadora de Empreendimentos Solidários (Iesol), que também ajuda o grupo a buscar espaço para fazer as feiras. A associação da Afesol fica em frente à Igreja São José.

Artesãos lutam por reconhecimento

A Casa do Artesão, que agora, provisoriamente, fica na Praça Barão do Rio Branco, também é uma das associações de artesanato da cidade. Quando a sede da associação, que ficava localizada na Concha Acústica, foi incendiada, muitas coisas se perderam, inclusive o espaço cedido pela Prefeitura, por isso a mudança de lugar. Vanderli Santos, presidente da associação, diz que era para a sede ficar no lugar provisório por três meses. Já faz um ano que aguardam pela reforma da Concha.

A Casa existe desde 1989, quando um grupo de artesãos que fazia a feira na praça resolveu buscar um ponto fixo para vender os produtos, onde não fosse necessário montar e desmontar as barraquinhas todos os dias. Então, eles foram até a Prefeitura, pediram para fazer a sede da associação e assim foi fundada a casa.

Para se associar, basta trazer uma mostra do produto até a Casa. É cobrada uma taxa de inscrição e a mensalidade por mês, também é exigido fazer “plantão” na loja, pois há uma escala de horários e dias para os artesãos ficarem atendendo. Atualmente, a Casa conta com 22 colaboradores. Vanderli explica que os sócios trabalham em casa e depois trazem os produtos que são colocados à venda. No final do mês é feito um levantamento de tudo que foi vendido e é repassado para eles. “É cobrada uma taxa de 10% que fica para manutenção, o restante é repassado para eles.”

Vanderli, que há treze anos parou tudo para se dedicar ao artesanato, também faz parte do grupo “Palha de Ponta”, que confecciona artesanatos em palha. No momento, apenas quatro pessoas fazem parte do grupo, antes eram vinte e duas. “Por causa da dificuldade de encontrar a palha, o grupo foi diminuindo, também há um retorno muito pequeno do público. Por ser um artesanato difícil de fazer e de encontrar o material, o preço tem de ser a altura, e às vezes reclamam por ser muito caro”.

A artesã queria o reconhecimento do artesanato como profissão: “O artesanato tinha de ser reconhecido como profissão, não apenas como hobby ou terapia. Artesanato não é só distração para donas de casa”. Ela cita um projeto de lei de Pernambuco (7725/100), que estabelece o reconhecimento dos profissionais artesãos.

Pela valorização do trabalho artesanal

A associação “Arte Lilás”, que também fica na Praça Barão do Rio Branco, em frente ao chafariz, existe há cinco anos. O espaço foi cedido pelo SOS. Lucila Zob afirma ter uma desmotivação pelas pessoas que entram nos grupos: “Quando a gente começou eram trinta pessoas, agora só tem nove, a maioria sai porque não pode vir fazer plantão, ou porque pensam que vão vender bastante, aí quando vêem a realidade vão embora”.

Lucila e Reni Schubst, que estavam fazendo plantão na sede no momento da entrevista, trabalham apenas com o artesanato. Aos sábados também participam da Feirinha da Estação Saudade, das 9 às 17 horas. Apesar de lá não ser cobrada nenhuma taxa por parte da Prefeitura para expor, há regras a serem seguidas. Não pode faltar mais de três vezes no mês, pois se isso acontecer o lugar é cedido para outro artesão.

Lucila diz que em Ponta Grossa as pessoas ainda não estão habituadas com o artesanato: “As pessoas aqui não estão bem acostumadas com feira de artesanato. A cidade é grande e poucas pessoas passam lá visitando a feira. Em Curitiba, no Lago da Ordem, é lotado”, compara.

Em Ponta Grossa, ao todo, são oito associações de artesanato que existem na cidade. A maioria funciona no esquema da Casa do Artesão, para contribuir com a manutenção da sede, mas também existem os artesãos que administram os negócios por conta própria.

Reportagem de Mariana Tozetto

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