O rastro deixado pelos tropeiros

Por Barbara Akemi

 

De fazenda a cidade. Um simples pouso tropeiro que virou um município. É nesse contexto que Ponta Grossa se formou: servindo de caminho para as tropas que vinham do Rio Grande do Sul com destino a Sorocaba/SP.

Por seu alto potencial para o comércio, os fazendeiros que aqui estavam tiveram grandes lucros com a venda de gado vacum, cavalar e muar. Dessa forma, o pouso passou a ser povoado, de povoado a bairro, de bairro a freguesia e de freguesia a cidade.

O comércio era basicamente de burros e mulas, os quais tinham “preço de ouro” por serem o principal e mais eficiente meio de transporte da época.

Ponta Grossa estava localizada no meio do longo caminho pelo qual os tropeiros tinham de passar e serviu-lhes de pouso, oferecendo boas pastagens e boa aguada. “Nossa cidade era como um oásis para as tropas que aqui encontravam lugar apropriado para permanecerem invernadas durante vários meses e assim recuperavam força para seguir viagem”, explica Silvestre Alves Gomes, também conhecido como Cancioneiro da Rota, que é técnico em Turismo Rural e colaborador do projeto Tropeiro Brasil.

Após a passagem, os tropeiros deixaram como herança para a nova cidade formada uma ampla bagagem cultural, envolvendo costumes, culinária, linguajar, vestes, entre outros.

O tropeiro foi, então, “propagador de notícias, causos e costumes, emissário e agente cultural, levou recados e receitas, contava novidades para aqueles que habitavam em lugares isolados. O tropeiro com sua forma lendária e peculiar foi personagem que fez integração”, afirma Antonio Carlos Frasson, autor do artigo “Tropeirismo: Processo civilizatório da região sul do Brasil”.

Esses traços, entrelaçados com o povoado que já estava aqui, deu então uma primeira identidade cultural ao ponta-grossense. Parte dessa bagagem é a tradição tropeira, que hoje é vivenciada nos Centros de Tradições Gaúchas da cidade.

O CTG é a forma de manter viva essa tradição, cultivando os valores e costumes deixados pelos tropeiros. Através de atividades campeiras e danças tradicionalistas, a cultura gaúcha é revivida em Ponta Grossa.

A vivência da cultura gaúcha em terras paranaenses

O Centro de Tradições Gaúchas Rancho Alegrete é um dos grupos responsáveis por cultivar e preservar a cultura gaúcha em terras paranaenses, principalmente em Ponta Grossa, cidade na qual está situado.

Além do Rancho Alegrete, o CTG União Vila Velha também trabalha na propagação e defesa da cultura rio-grandense na cidade. Fora os CTGs, é possível encontrar ainda aulas de danças, em que se aprende ritmos característicos do sul.

Não são poucos os motivos que fazem valer a presença de um CTG na cidade. O primeiro CTG do Paraná, denominado Vila Velha, foi fundado em Ponta Grossa. Além disso, o Movimento Tradicionalista Gaúcho do Paraná e a Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha também foram instituídos em Ponta Grossa. Por outro lado, algumas dificuldades são enfrentadas diariamente para se manter ativo um CTG. “A gente percebe uma tentativa de alguns setores da cidade, de se tentar apagar essa história do gauchismo em Ponta Grossa. Se tenta falar da ferrovia, de um outro tipo de cultura, que não é a cultura popular ponta-grossense. Então manter um CTG é uma coisa difícil por conta dessas pressões contra, mas é necessário pela importância histórica que tem Ponta Grossa”, explica Aline Jasper, integrante do CTG Rancho Alegrete.

Fundado em 2004, o CTG Rancho Alegrete começou primeiramente com atividades campeiras. Dois anos após o seu surgimento, em 2006, deu-se origem à Invernada Artística, com a integração do Grupo de Danças Herança Pampeana.

Além da Invernada Artística, o CTG é composto hoje pela Invernada Campeira, que atua nas provas de laço, rédeas; Invernada Artística, responsável pelas apresentações de dança, declamações e canções; e Invernada Cultural, que é formada pelas Primeiras Prendas e Peões Birivas.

A Invernada Artística conta atualmente com 30 integrantes, coordenados por Edson Barbosa e Mônica Jasper. O Grupo participa em competições de danças tradicionais gaúchas e em competições individuais de declamação, intérprete solista vocal, chula, execução de instrumentos, nos circuitos classificatórios por todo o Paraná, além doFestival Paranaense de Arte e Tradição (FEPART).

O CTG Rancho Alegrete é único CTG de Ponta Grossa que mantém uma invernada artística, promovendo e mantendo a tradição através das apresentações culturais.

Edson Barbosa, coordenador da Invernada Artística, revela que além das apresentações, a Invernada participa dos eventos promovidos pelo CTG. “Além das apresentações, nós participamos e promovemos eventos, como jantares dançantes. A renda é arrecadada nos eventos é revertida para o próprio CTG”, afirma.

Carregando o Rio Grande na faixa

Um mundo de histórias, cultura e responsabilidades é carregado junto com a faixa que caracteriza uma prenda gaúcha. Mais do que carregar a faixa, como uma miss tradicional, a prenda carrega consigo a história viva do Rio Grande do Sul. Carregar uma faixa de prenda é, além de tudo, firmar um compromisso com a preservação da cultura gauchesca.

O que começou com um sonho, hoje se tornou realidade. “Eu via aquilo e não sabia o que era ainda, mas eu queria muito ser prenda de faixa”, recorda Aline Jasper. Integrante do Centro de Tradições Gaúchas Rancho Alegrete, Aline é hoje uma prenda de faixa. Em 2012 foi a 1ª Prenda Adulta do CTG Rancho Alegrete de Ponta Grossa e hojeassume o posto de 1ª Prenda do Movimento Tradicionalista do Paraná. Além disso, Aline participou recentemente do Concurso de Prendas da Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha, ficando colocada como 2ª Prenda da CBTG.

Aline conta que seu único desejo era poder representar o CTG, ambiente no qual participa já há 12 anos. Coincidência ou não, começou a dançar aos doze anos de idade no CTG Porteira dos Municípios, por influência da irmã, e desde então, nunca mais parou. Desde 2009, participa do CTG Rancho Alegrete. “Quando entra no sangue o gaúcho, você não consegue mais ficar sem”, relata.

Porém, a vivência neste universo gaúcho começou muito antes. Logo quando abriu os olhos, Aline já pertencia a uma família gaúcha. Seus pais nasceram em terras rio-grandenses e, desde pequena, estava imersa no meio das pilchas, das danças e do chimarrão.

Por crescer assim, a cultura sulista já lhe era familiar. Sendo assim, não escolhe os momentos para ser prenda; é prenda em cada segundo, conta ela. O prendado faz hoje parte de sua vida, não ficando preso somente nos galpões de CTG. Aline é mestranda em Jornalismo, e mantém uma relação entre a bagagem cultural e a acadêmica. “Ao mesmo tempo que em vários dos meus projetos como 1ª prenda tem a ver com o jornalismo, o prendado também interfere no que eu faço aqui no mestrado. Minha pesquisa de mestrado tem tudo a ver com isso, sobre a identidade cultural gaúcha no Paraná. Então eu tento manter juntas as duas coisas, pra não ser aquele tradicionalismo de fim de semana”, finaliza.

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