Na manhã desta quarta-feira (04), o Grande Auditório do Campus Central da UEPG recebeu o painel “Mulheres e direitos: enfrentamento de violências múltiplas”. O evento deu início à programação das atividades previstas durante todo o mês de março em Ponta Grossa, em virtude do Dia Internacional da Mulher.
Mediado pela professora do curso de jornalismo da UEPG, Cíntia Xavier, o painel teve como propósito debater o assédio e o trabalho jornalístico em coberturas de casos de violência feminina. O evento teve como convidadas a juíza de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, Denise Antunes, e a jornalista, assessora jurídica e consultora da Comissão de Estudos sobre Violência de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil do Paraná, Vanessa Fogaça Prateano.
Em sua participação, Denise Antunes explicou que o preconceito contra o feminismo, mesmo nos dias de hoje, é trazido principalmente por uma educação que ainda é, em sua maioria, machista e patriarcal. “Todo preconceito é envolto a uma falta de educação e informação. A educação é emancipadora, e a informação nos dá empoderamento”, afirma.
Entre os exemplos de situações machistas aceitas pela sociedade em determinadas épocas da história, Denise citou os sacrifícios de mulheres em rituais sagrados na Grécia Antiga, o suicídio de indianas em função de servir seus maridos após suas mortes, e as bruxas que eram queimadas vivas no período da Inquisição. A juíza ainda lançou aos ouvintes o questionamento sobre o quanto está projetada na mulher a sua condição de inferioridade e, a partir dele, discorreu a respeito da imagem do homem branco como uma metáfora para o poder.
Ainda de acordo com Denise, o assédio feminino em geral sempre esteve presente em todos os lugares da sociedade, mas foi apenas nos últimos anos que o Código Penal inseriu como crimes o estupro, a importunação e o assédio sexual. Ela ainda informa que o crime sexual está diretamente ligado ao consentimento da vítima. “Se você está paquerando alguém, e essa pessoa lhe dá o primeiro ‘Não’, qualquer conduta após essa é sim um crime tipificado pelo Código Penal”, explicita.
Ao assumir a segunda parte do painel, Vanessa Fogaça Prateano expôs os dados mais recentes a respeito das mulheres jornalistas. De acordo com o Informe Anual da Relatoria para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos de 2018, pesquisa realizada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), ou só se reconhece a violação de gênero em relação à mulher ou somente a violação à liberdade de expressão. “Você não vê políticas que levem em conta que você não é só jornalista e não é só mulher, você é as duas coisas”, defende.
Segundo dados recentes trazidos no painel pela jornalista e advogada, divulgados pela International Women’s Media Foundation, 63% das mulheres jornalistas já foram assediadas na internet, 58% foram ameaçadas pessoalmente, 26% foram atacadas fisicamente, e 40% optam por evitar determinados tipos de matérias em decorrência dos ataques sofridos.
Vanessa trouxe também as histórias de Patrícia Campos Mello, Kim Wall e Flor Alba, três jornalistas que sofreram com a violência contra a mulher de inúmeras formas, sendo as duas últimas mortas exercendo a profissão. “As demandas das mulheres jornalistas importam também. Elas precisam se ver nesses espaços [da mídia]. Elas também precisam de direitos. As mulheres jornalistas sofrem violências muito específicas, mas nós não nos vemos nas notícias. A nossa dor não sai nos jornais”, reivindica.
A jornalista e advogada ainda forneceu dicas aos estudantes em relação ao trabalho jornalístico voltado para a questão de gênero. Entre elas, cabe citar a busca de fontes femininas para as matérias, legitimar as pesquisadoras que estudam o assunto abordado na produção, evitar reproduzir os estereótipos não apenas de gênero, mas também de cor e de raça, assumir postos de reivindicação de direitos para as profissionais e declarar apoio às mulheres jornalistas.
O painel “Mulheres e direitos: enfrentamento de violências múltiplas” foi organizado pelo Grupo de Pesquisa Jornalismo e Gênero do Mestrado em Jornalismo e pelo projeto de extensão Elos – Jornalismo, Direitos Humanos e Formação Cidadã, com apoio do Núcleo Maria da Penha (NUMAPE), Laboratório de Estudos de Gênero, Diversidade, Infância e Subjetividades (LAGEDIS) e Grupo de Estudos Territoriais (GETE). O evento também promove uma exposição de cartazes com a temática do feminicídio em Ponta Grossa, disponível na UEPG e em demais espaços da cidade, rodas de conversa e exibições de documentários que abordam o direito das mulheres.
A programação do Mês da Mulher em Ponta Grossa você encontra abaixo:
05/03 a 31/03 – Exposição “Minha Carne Não Me Define”. Local: Centro de Cultura. Entrada Gratuita.
06/03 – 17h30 às 20h30: Manifestação “Mulheres em luta: contra a política que nos mata”. Local: Praça dos Polacos.
08/03 – 12h15: Bate papo “Lugar de mulher é na ciência”. Local: Campus de Uvaranas UEPG.
09/03 – 8h30: Conversa com profissionais promovida pelo Sindicato dos Jornalistas do Paraná e pela Comissão de Mulheres da Federação Nacional dos Jornalistas: “Dia de luta das mulheres jornalistas: diálogos sobre assédio na profissão”. Local: Mini Auditório – Bloco B (Campus Central UEPG).
11/03 – 12h30: Exibição e debate sobre o documentário “Tarde demais para flores”, produzido por Saori Honorato (2019). Local: Hall de entrada – Bloco B (Campus Central UEPG).
11/03 – 19h00: Roda de conversa sobre literatura feminina com os clubes de leitura Leia Mulheres e Só Garotas. Local: Estação Arte.
19/03 – 12h30: Exibição do documentário “Na(ser) mulher “, produzido por Enaira Schoemberger (2019). Local: Hall de entrada – Bloco B (Campus Central UEPG).
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