Pax é alternativa cultural fora do centro de PG

“Chegar ao Cine Pax era um fascínio. Vinham pessoas de vários bairros para Oficinas, era um cinema muito bonito para época”. Conta o professor do Departamento de Artes da UEPG Nelson Silva Júnior que era frequentador do local e realizou sua pesquisa de mestrado em 2008 sobre o tema.

O Cine Pax foi criado pela congregação religiosa franciscana, liderada pelo frei Elias Zulian em 12 de setembro de 1964. No surgimento o cinema, a verba arrecadada ajudava a custear as despesas da Igreja São Cristóvão e da Escola Pax.

Mesmo sendo afastado do centro da cidade, segundo o professor Nelson Silva, o cinema era muito procurado por ser um “cinema bonito e confortável para época”. Outra característica marcante é que no Cine Pax os filmes ficavam mais tempo em cartaz que nos cinemas do centro da cidade.

Leonardo Vicente de Souza, que atualmente é vigilante do Pax, foi freqüentador do local quando ainda era cinema. Ele lembra que o local era muito movimentado, e reunia filas na bilheteria. “Toda a região ao redor do cinema era tomada por carros. Muitas pessoas também vinham a pé, as que moravam na região”.

O cinema era frequentado por pessoas de várias idades e ofertava sessões nos finais de semana nas quartas-feiras no período da noite e às tardes (matinês). A programação dos filmes era principalmente nacional e de gêneros variados. “Só não tinha pornografia, como o Cine Inajá, porque o padre não deixava”, ressalta Leonardo.

Na década de 1970, o Cine Pax passou a ser locado e administrado pela empresa de cinema Arco Íris. Segundo a pesquisa de Nelson Silva Júnior, no início da década de 1980 com a programação televisiva mais atraente e ascensão do videocassete, o Cine Pax fechas suas portas, sendo comprado pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa.

A Prefeitura transforma o Pax em teatro, que passa a receber o nome do primeiro reitor da UEPG, Teatro Municipal Álvaro Augusto Cunha Rocha. Nessa época enquanto teatro, Lucélia de Cássia Clarindo foi uma das pessoas que viveu o Pax. Como o seu marido Américo Nunes era diretor e técnico do Pax, ela morou a partir de 1989 no camarim do teatro juntamente com seus filhos.

A professora aposentada recorda que no início muitas pessoas que iam assistir às peças de teatro não se comportavam em silêncio, algumas batiam os pés, não entendiam. “As pessoas ainda estavam muito acostumadas com o cinema, não se tinha o hábito de acompanhar o teatro, que segue outro ritmo”.

Segundo Lucélia Clarindo, na década de 1990 o teatro recebia atores globais que reuniam muitas pessoas. Nesse período o Pax também abrigava projetos culturais, como o “Mostre seu Talento”, onde crianças carentes participavam de apresentações musicais.

Em 2006, a Prefeitura repassa o Pax para a UEPG, que em 2008 realizou uma reforma no prédio. Segundo a pró-reitora de Extensão e Assuntos Culturais Gisele Alves de Sá Quimelli, atualmente o Pax recebe em média 12 espetáculos por mês, sendo de entidades públicas e privadas.

 

O valor de um espaço cultural no bairro

Lucélia Clarindo diz que a revitalização do espaço foi ótima para valorizar a arte. “É o início de um processo. Mas eu gostaria que assim como na época o Cine Pax reunia vários carros de outras regiões, que hoje existissem caminhadas dos moradores do bairro até o  Pax”.

Nelson Silva Júnior afirma que Ponta Grossa foi uma das poucas cidades que teve o privilégio de ter um cinema distante do centro. Para ele é fundamental manter espaços culturais descentralizados.

“A sensação de estar num cinema como antigamente que as pessoas dedicavam tempo para apreciar o cinema e encontrar amigos é maravilhoso”.

Reportagem de Weslley Dalcol

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