Peça de Matheus Nachtergaele encerra 47° FENATA

No último domingo (27), o Cine Teatro Ópera recebeu o espetáculo de encerramento da 47° edição do Fenata. O evento contou com a premiação dos vencedores do festival, além da encenação da peça “Processo de Conscerto do Desejo”, interpretada pelo ator e diretor Matheus Nachtergaele. Com casa lotada, a última noite do Fenata de 2019 trouxe um misto de emoções para o público.

O espetáculo apresenta uma homenagem à história da poetista Maria Cecília Nachtergaele, mãe de Matheus. Maria Cecília se suicidou no dia do batizado de seu filho. A intenção de trazer os poemas escritos por sua mãe e convidar o público para entrar nessa realidade é motivo de emoção para o público. Os sentimentos de sofrimento que os poemas transpassam, retratados pela arte do teatro e da música, demonstram o nome da peça escrito com SC, que significa um processo de conserto deixado pelas marcas da mãe em Matheus e em como o ator lida com esses poemas, e concerto no sentido de peça teatral.

Acompanhado pelos músicos Luã Belik, ao violão, e de Rafael Belo, no violino, a peça apresenta um tom de dramaticidade. Com jogo de sombras e poucas luzes no palco, utilizando um espelho, o ator transmite uma metáfora: a da imagem de um jovem, cujo reflexo da perda precoce da mãe é refletido, e que é representada na interpretação da única herança deixada por Maria ao seu filho.

A incorporação do ator em retratar sua mãe é forte e sutil ao mesmo tempo, com poemas citados de forma passiva e outros totalmente agressivos. O ator também utiliza da cadeira que usava, mas também o vestido preto dela, que Matheus estava vestido, como forma de representar Maria Cecília.

A peça impressionou todo o público, que sentiu as emoções da tristeza, da dor e do sofrimento, transmitidas pela história no espetáculo. Sabrina da Silva Rocha, estudante e atriz na peça “Sertão Hamlet”, fala sobre a peça de Nachtergaele. “Já estava participando do festival, então eu não poderia perder a oportunidade de ver um artista desses. E eu achei muito interessante a proposta que ele trouxe, realmente me tocou muito e fiquei muito emocionada”, afirma. Bruno Zanoni Cury, estudante que também participou de “Sertão Hamlet”, destaca que a peça é muito comovente e que a sensibilidade que ela passa é incrível.

Ao final da peça, Nachtergaele convida a plateia para dançar junto a ele no teatro, o que fez diversas pessoas a se levantarem e dançarem nos corredores e no palco, uma demonstração de sentimentos mais leves e descontraídos para o fechamento do espetáculo.

A Premiação

A grade vencedora da noite, com o prêmio de melhor espetáculo da edição de 2019 do Fenata, foi a peça “Para Contar Estrelas”, do grupo Cirandela, de Criciúma/SC. Apresentada no Teatro Pax na tarde de domingo, a peça ainda levou os troféus de melhor sonoplastia para Bruno Andrade e Priscila Schaucoski, melhor direção de Reveraldo Joaquim e Yonara Marques e melhor cenografia, para Bruno Andrade e Reveraldo Joaquim.

A peça “Oi Lá Inezita” também teve grande destaque na premiação, levando os títulos de melhor atriz no teatro infantil para Jaqueline Cardoso e melhor ator coadjuvante para Fabiano Amigucci. Entre os prêmios técnicos, “Oi Lá Inezita” levou melhor figurino, para Adbailson Cuba, e melhor texto original infantil.

Os prêmios de melhor atriz coadjuvante e melhor ator foram para Lala Machado e Mauro Celso Barbosa, ambos integrantes da peça “Estado de Sítio”. Já o prêmio de melhor atriz de teatro adulto ficou com Dina Mari, por “A Receita”.

O Grupo de Teatro Cidade de Ponta Grossa, único representante do município na competição deste ano, foi premiado na categoria de melhor iluminação para Carlos Alexandre Martins. O júri popular também elegeu “Shakespeare – Paixão e Poesia”, produção do grupo, como melhor espetáculo do festival.

Vale ressaltar também o prêmio especial, concedido pela comissão julgadora, ao Grupo de Teatro Cidade de Ponta Grossa, pelo significado e importância de sua criação para a cultura da cidade. O mesmo prêmio também foi entregue à Escola CECI (Centro de Estudos Cênicos Integrados), pelos serviços de formação prestados à cidade de Ponta Grossa.

Os troféus entregues aos vencedores do festival foram criados e confeccionados pelos acadêmicos do curso de Artes Visuais da UEPG.

Panorama do festival

Durante a semana da 47° edição do Fenata, aconteceram diversas apresentações teatrais em vários pontos da cidade. Toda a comunidade ponta-grossense foi atendida em diferentes lugares, seja na rua, na praça, em escolas, CMEIs, penitenciárias, asilos, atendendo diferentes faixas etárias desde a infantil até os idosos. Com isso foram apresentados 99 espetáculos em diferentes espaços, em uma média de público de 20 mil pessoas que acompanharam as peças.

A proposta do Fenata em levar o teatro para diversas partes da cidade, consolidada há alguns anos, chamou atenção do professor de Geografia, Pablo Melek, que considera que não são todas as pessoas que podem ir a um teatro como o Ópera. “Quando as peças vão para as ruas onde as pessoas estão, o teatro chega mais próximo das pessoas que talvez não viriam aqui, ou seja, elas estão lá nos seus lugares e são visitadas por essas peças”. Melk também acrescenta que a iniciativa da gratuidade nas peças de rua é bastante positiva, pois nem todo o público tem acesso ao teatro por conta do valor dos ingressos.

A curadora e jurada do Fenata deste ano, Fabiana Monsalú, destaca que o festival é mais que apenas um evento na cidade e deve ser um espaço de formação estética, social, filosófica e de formação humana. Monsalú aponta que o Fenata deste ano foi bastante plural. “Decidimos abordar diversas estéticas, diversas estruturas cênicas, justamente para a gente poder rediscutir a ideia de teatro, a ideia de arte”, diz.

O Fenata é o festival de teatro mais antigo e ininterrupto do Brasil. Em 2019, o evento mobilizou 112 atores, 52 técnicos e aproximadamente 60 voluntários na organização. Em seu discurso de agradecimento, a coordenadora geral, Sandra Borsoi, rememora as características mais marcantes da edição de 2019 do festival. “Mais uma vez, o Fenata fica na história da UEPG e da nossa cidade como um festival que buscou na audácia e na superação a originalidade da cultura, das artes e do teatro”.

Sandra reafirma a importância do festival na cena cultural brasileira. “O Fenata não é apenas um evento de teatro. O Fenata é uma tradição. Mantenho o sentimento de vivenciar a arte dramatúrgica e a possibilidade de se admirar e se encantar”.

Teatro é cultura. Se é cultura, é plural!

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