Posto 5

Ontem, quando cheguei para ver meu avô, que tinha dado entrada no hospital por conta de uma infecção nos brônquios, me deparei com o tempo dando o seu “ar” de (des)graça mais uma vez. Fiquei na fila de espera por uns 15 minutos. Segui as orientações de um senhor de feição embrutecida que orientava aqueles visitantes todos a seguirem para os postos. Identificada por um selo adesivo fui orientada a seguir para o Posto 5.

Da porta de entrada, e com a “pequena multidão” seguimos um corredor longo, estreito e branco, como os hospitais sempre são. Subimos as escadas e nos guiamos pelo número do quarto. Quando dei uma espiada antes de entrar no quarto vi vovô rindo. E me tranquilizei – porquê o vovô sempre ri. Perfurado pelas marcas de injeções e soros, abatido e sentado na cama ele ria, com uma voz rouca nos dizendo que estava tudo bem e que ele não via a hora se sair dali.

Quando virei para trás vi vovó, cansada e estremecida em um canto. Sempre juntos – pensei. Não importa qual seja a situação, eles sempre estão juntos. Não existe ele sem ela, nem vice-versa. Quando questionei se ela estava cansada, ela me respondeu destemida: Eu? Não tô não. Nunca ouvi dos meus avós que estavam cansados, tristes e enfraquecidos. Acho que por isso foi tão difícil ver o vovô no hospital pela primeira vez. Eles sempre foram nossos maiores exemplos de força. Eles não cansam. Nunca. Pode isso?

Nesse mês eles completam 50 anos de casamento e eu fiquei pensando nisso enquanto via uma enfermeira chamando vovô de seu Lorival, quando na verdade é Dorival, e dando um punhado de comprimidos a ele – o tempo é mesmo uma (des)graça. O futuro ou tudo aquilo que está a frente de nós é sempre carregado de esperas e ansiedades. De que lá na frente vai ser bom, vai ser melhor que hoje, vai ser tudo que não somos hoje. Sempre lá. Sempre no futuro.

Depois do hospital, andei reparando mais nas ruguinhas de vovô, nos cansaços e desprendimentos de vovó em me pedir ajuda e lembrei que no Natal enquanto fazíamos a feira vovô me pediu para eu ajudar ele a carregar uma melancia- eu jamais fiz isso por ele. Tudo isso me fez refletir mais sobre aquilo que não percebemos e não nos damos conta. O tempo passa mesmo, para todos – que possamos olhar mais para aquilo que não percebemos tanto.

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