Na última segunda-feira (30) aconteceu a sessão pública de tombamento que definiu o rumo de cinco imóveis históricos da cidade de Ponta Grossa. A reunião foi realizada no Cine-Teatro Ópera e teve a presença de membros do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compac), proprietários dos imóveis e público diverso. Dos cinco prédios históricos, apenas dois foram tombados. A sessão é a última parte do processo para que o imóvel seja declarado como patrimônio histórico e cultural.
Os prédios analisados durante a reunião foram: Residência Família Justus, Residência Família Correia de Sá, Eletrônica Parcz, o imóvel que abriga o banco Bradesco, conhecido como “castelinho”, e a Casa Biassio. Destes, os dois últimos foram tombados. A assembleia foi disposta de quatro momentos: a defesa do proprietário, a defesa e manifestação do Departamento de Patrimônio juntamente com o público, a defesa do Conselho e finalmente a votação, que foi realizada de maneira aberta.
O Compac é formado por 21 conselheiros, entretanto durante a sessão somente 17 membros estavam presentes. Para um imóvel ser tombado, é preciso que 70% dos votos sejam favoráveis. Os votos dos conselheiros que faltaram são considerados contrários ao tombamento, sendo assim, se mais de dois conselheiros votassem contra, o prédio não seria tombado.
Os dois primeiros imóveis examinados foram a Residência Família Justus e a Residência Família Correia de Sá, idealizados pelos arquitetos modernistas Miguel Juliano e Vilanova Artigas, respectivamente. As defesas dos proprietários dos dois prédios se posicionaram contra o tombamento dos imóveis.
A Residência Família Justus, datada de 1955, considerada pelo Departamento de Patrimônio em estado impecável de conservação, não foi tombada por 4 votos contra e 13 favoráveis. A Residência Família Correia de Sá, primeiro imóvel modernista da região, também não foi tombada, com o mesmo número de votos contra e a favor que a Residência Justus. Durante a defesa do proprietário da Residência Família Correia de Sá, foi exposta a intenção da instalação da Clínica da Imagem no local.
Quanto ao imóvel “castelinho” do banco Bradesco, não houve impugnação dos donos, e o prédio foi tombado em votação unânime. Outro imóvel tombado foi a Casa Biassio, prédio de estilo barroco do século XX, os votos foram 16 a favor e apenas um contra. O dono da Casa Biassio não quis apresentar sua defesa, durante o tempo destinado para isso. Mas no decorrer das manifestações públicas, ele demonstrou ser contrário ao tombamento, alegando que a casa está deteriorada.
A Eletrônica Parcz foi defendida pelo próprio proprietário, Marcelo Parubocz, que era contrário ao tombamento. Segundo o dono, o imóvel está em sua posse há 19 anos, e desde então ele tem realizado reformas para manter o estilo da construção. Ele contesta a validade da reunião e justifica que o tombamento é prejudicial ao proprietário, pois qualquer restauração a ser feita deve, antes, passar por um processo de aprovação. Contudo, ele alega que o departamento de patrimônio não disponibiliza ajuda financeira para conservação do imóvel, apenas deixa de cobrar 70% do IPTU da propriedade. Esse imóvel não foi tombado como patrimônio histórico, visto que 7 membros do Conselho votaram contra.
Claudionice Parubocz, também dona da Eletrônica Parcz, reafirma o discurso de defesa feito por Marcelo, seu marido. “As restrições feitas aos imóveis tombados são grandes, 70% de desconto, dado pela prefeitura no IPTU não é nada comparado ao valor de uma restauração”. Em relação ao futuro da construção, os donos do imóvel garantem que vão continuar com sua preservação e que a intenção da próxima geração de sua família também é essa.. “Nós nos negamos a vender o imóvel exatamente para que possamos manter a casa”.
Gabriel Dib Ferreira, estudante de arquitetura da Unopar, afirma que a participação da população e dos acadêmicos durante a sessão foi muito importante, pois demonstra uma preocupação com o passado histórico da cidade. Sobre os imóveis não tombados, o estudante declara que são perdas inestimáveis. “Esquecer a história e a nossa cultura é esquecer quem nós somos”.
Alunos e professores de cursos como História, Arquitetura e Engenharia fizeram parte do público e promoveram discussões ao longo do debate para mostrar a importância do tombamento. A última sessão de tombamento foi realizada em 2016. Qualquer cidadão pode propor um tombamento.
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