Sexta às Seis incentiva produção local

Por Marcelo Ribas

Sexta feira às 18 horas. Em Ponta Grossa, é a hora e o dia da semana em que os amantes do rock n’roll costumam se reunir para ouvir as bandas locais se apresentarem na plataforma da Estação Saudade no projeto ‘Sexta às Seis’.

O projeto faz parte do cenário cultural da música em Ponta Grossa desde os anos 1990, mas passou por interrupções. Muitas bandas vêem o Sexta às Seis como vitrine para se tornarem conhecidas musicalmente no cenário local, sendo um dos poucos projetos que valorizam e incentivam o Rock n’ Roll .

“Tocamos duas vezes no ‘Sexta às Seis’, uma em 2014 e outra em 2015. Para a banda sempre é bom apresentar-se num evento em que o publico é aberto, pois várias pessoas podem conhecer nosso trabalho. Muita gente está de passagem por ali e fica para olhar. O projeto agregou positivamente para a banda”, conta Itto Eleutério, baixista da banda Jump.

De acordo com a Secretaria de Cultura, o local escolhido para as apresentações é estratégico, e como são shows abertos é possível atingir públicos variados. “Ali na estação Saudade é um local onde o espaço é amplo, tem boa iluminação e fica ao lado do terminal central. Conseguimos abranger um público bem maior pela localização do evento”, explica o diretor de Cultura Luis Cirillo Barbisan.

Para bandas que já estão há algum tempo na estrada, o Sexta às Seis torna-se importante local para divulgação de suas canções autorais. “Para nós, que fazemos som autoral, quanto mais shows com públicos maiores e em lugares abertos, melhor. Conseguimos divulgar para mais pessoas nosso trabalho”, expõe Ronaldo Costa, vocalista da banda Fire Hunter.

As bandas são escolhidas por uma comissão julgadora, que analisa os quesitos arranjos, conjunto, afinação, interpretação e timbre, além da adequação às propostas do projeto. “Tem algumas bandas que são muito boas e outras que estão melhorando. Então estamos procurando oportunizar a todos na medida do possível”, argumenta Cirillo.

Em 2015, 20 bandas foram selecionadas para se apresentarem no ‘Sexta as Seis’ e outras 12 escolhidas para fazer o show de abertura, porém sem receber o cachê de R$ 600,00. Além destas, quatro bandas que não se apresentaram em 2014 devido às condições do mau tempo também fizeram parte da programação, totalizando 36 bandas em 2015. No entanto, as chuvas impediram que algumas delas se apresentassem nas datas marcadas.

Para grupos iniciantes, como a banda Astrid, que foi fundada em 2014, o Sexta às Seis surge como ‘alavanca’ para o crescimento. A Astrid se apresentou nos últimos dois anos no projeto. “Em 2014 fomos a banda de abertura, mas em 2015 conseguimos nos classificar como banda principal, e foi o maior show que já fizemos até o momento. Público eufórico do começo ao fim, cantando e vibrando com as músicas. Simplesmente memorável para nós”, conta Cássio Murilo, vocalista da Astrid.

O público que sempre enche o gramado da Estação também considera um projeto importante e essencial para a cidade. “É uma iniciativa legal por parte da Prefeitura. O espaço aberto ao público, sem taxa de entrada, nas últimas edições contou com a forte presença da guarda municipal fazendo a segurança”, explica Lucas Machado.

Das idas e voltas, um pouco da história do Sexta às Seis

A história do Sexta às Seis conta com idas e voltas. Em 1990, na gestão do prefeito Pedro Wosgrau, nascia o projeto musical. Perdurou até 1992, quando foi encerrado, retornando somente 13 anos depois.  Em 2005 ressurge o projeto, porém por apenas três anos, até 2008.

Na década seguinte, funcionou por mais dois anos e novamente foi paralisado. De 2011 a 2012 ele teve apresentações, porém em 2013 foi interrompido mais uma vez. Durante todo esse período o projeto teve como sede a Concha Acústica da Praça Barão de Guaraúna.

“Quando o projeto começou na década de 90, o terminal de ônibus era ali na praça. Como às 18 horas era horário de pico e os ônibus ficavam lotados, as pessoas preferiam esperar, assistiam aos espetáculos, e depois pegavam outro ônibus menos cheio”, explica Cirillo.

Para algumas pessoas que frequentavam o projeto nos períodos após 2005, a lembrança do Sexta às Seis é de quando a Praça Barão de Guaraúna lotava para acompanhar as apresentações. “Lembro dos shows após as aulas do Colégio Regente, onde estudava. Foi vendo o Sexta às Seis que comecei a me identificar e consumir mais Rock n’ Roll”, conta Rodrigo Munhoz.

Em 2014, o projeto voltou à ativa como uma das demandas debatidas na Conferência Municipal de Cultura.  As apresentações passaram a ser na Estação Saudade e as bandas são selecionadas por meio de edital e critérios técnicos, a fim de dar mais transparência às escolhas.

Ainda é preciso melhorar

Muitas pessoas se identificam e veem o Sexta às Seis como um projeto bom para divulgação das bandas locais. Entretanto, as reclamações e sugestões para melhoria também são apontadas por bandas e frequentadores.

Uma delas, apontada pelo frequentador Lucas Machado, é a falta de um calendário para apresentações o ano todo. Segundo ele, várias bandas ficam de fora e muitas pessoas não têm condições de ir aos bares em que as bandas costumam tocar.

Alain Barros, vocalista da banda Jerimoon, argumenta que a Fundação Municipal de Cultura poderia disponibilizar o material em áudio e vídeo, gravado no dia das apresentações. Segundo ele,  isso já ajudaria imensamente as bandas, principalmente  aquelas que tem mais dificuldade financeira para produzir material.

O vocalista da Astrid, Cássio Murilo, indica seu ponto de vista em relação às melhorias que poderiam ser implantadas no projeto. Para ele, é preciso deixar de lado bandas consagradas na cidade e promover as que ainda não possuem o mesmo prestígio.

“Ponta Grossa não se resume às bandas que sempre figuram por aí, precisamos que o projeto mostre as caras novas do pessoal. Também as que já não são tão novas e, mesmo assim, não tiveram chance ainda no projeto”, argumenta Cássio.

Outra questão apontada por um frequentador é a falta de segurança. Segundo Luiz Felipe Ornes, alguns ‘baderneiros’ aproveitam a ausência da Guarda Municipal em alguns momentos para arrumar brigas e confusões.

Segundo a Fundação, a questão do calendário o ano todo é inviável, tendo em vista o orçamento do órgão. Já a questão da seleção de bandas é feita por uma equipe técnica que julga o trabalho de acordo com os critérios estipulados no edital.

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