Tem gente que chega pra ficar…

Por Nathasja Rotter

Texto originalmente publicado no jornal Foca Livre

‘’Estão na esquina, cantando e tocando violão.’’ Assim eram identificados os membros do Clube da Esquina, movimento da MPB na década de 60. Compositor mineiro, Fernando Brant, ajudou a fundar o grupo e compôs obras como Maria Maria e Encontros e Despedidas.  Jurado do 22° FUC, faleceu em junho deste ano, deixando um legado de admiradores.

O Clube da Esquina foi um movimento da música que aconteceu em Belo Horizonte de forma natural e entre amigos, e acabou marcando a história da MPB. Entre bares, casas e esquinas, foram escritas composições que mesclavam jazz, rock e expressões folclóricas. Ainda jovens, Fernando Brant, Milton Nascimento e outros nomes, como os irmãos Borges, escreveram canções sobre amor, fé e luta.

Em 2009, Brant esteve em Ponta Grossa marcando presença em algo que ele conhecia bem: os festivais. O compositor exerceu a função de jurado no 22° Festival Universitário da Canção, o FUC. Na ocasião, cantou com músicos da cidade e reuniu fãs de suas composições. Além disso, participou de eventos de reconhecimento nacional, como o II Festival Nacional da Canção e o IV Festival de Música Popular Brasileira.

Para o produtor musical, Bortolo Boró, o FUC teve muito critério na escolha de Brant como jurado, pois trouxe um entendedor de letras, um homem que trabalhava com a poesia. Afirma ainda que ele está para Milton Nascimento como Vinicius de Morais para Toquinho. “O cara era uma imensidão de pensamentos. Você ouve as letras dele e lembra de Minas, e quem não conhece Minas passa a imaginá-la.’’, comenta.

Responsável pelos jurados na época, Andréa Fermino, conta que Brant preferia não julgar os músicos, mas foi vencido pela insistência da organização. Ela comenta ainda a expectativa que surgiu para a chegada do compositor e a grata surpresa com o tratamento que receberam dele.  ”Ele foi muito simpático, eu acho que ele se sentiu bem recebido e acolhido na cidade”, conta Andréa.

As letras de Brant proporcionaram à MPB obras como ‘Travessia’, ‘Bola de meia, bola de gude’, ‘Paixão e fé’ e outras poesias, que na voz de Milton Nascimento marcaram uma geração. A repercussão e a complexidade de suas composições geraram desde pesquisas até a devoção de muitos.

Com o produtor musical Athon Gallera, foi assim. Ao ouvir de A a Z o repertório de Brant, em virtude da espiritualidade que encontrou nas canções, por um tempo fez disso sua religião. No momento de confraternização no bar, após o FUC, os presentes relatam boas lembranças ao lado de Brant. Dentre elas, a chegada de Athon com uma mochila de vinis para ser autografada, e seu carisma ao perguntar se precisava assinar tudo aquilo mesmo. ‘’Ficamos emocionados pelo nosso ídolo estar ali, foi muito rápido mas foi marcante. Fernando é um grande mestre’’, relembra Athon, concorrente naquele FUC, sobre o momento que pôde cantar com o compositor.

‘’Essas músicas tem uma juventude eterna, são espíritos que vieram para iluminar os outros’’, afirma Scilas Augusto, da Banda Mandau, que vê Brant como alguém que prezava pela arte, muito além do visual do pop star. Acredita que hoje em dia a arte momentânea seja mais valorizada, enquanto que a arte destas composições é eterna. ‘’As músicas falam de sonhos que não envelhecem, e se o Clube da Esquina falava no sonho de serem grandes artistas, eles se tornaram’’.

Também do Clube da Esquina, o festival já teve como jurado Marcio Borges, em sua 20° edição. O FUC deste ano acontece entre 13 e 15 de agosto no Cine Teatro Ópera. A organização fará menção ao falecimento de Fernando Brant e sua passagem pelo júri.

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