Por Quézia Bonato e Amanda Gongra
O Festival Nacional de Teatro (Fenata), evento ininterrupto desde 1973, chega à sua 48º edição em um novo formato por conta da pandemia do coronavírus. Neste ano, o festival trouxe um concurso de textos dramatúrgicos no lugar das peças teatrais, tendo como finalidade o incentivo e a divulgação da literatura dramática. Logo, os artistas da cidade se posicionaram contra o novo formato, enviando uma carta à Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), responsável pelo festival. O documento trazia considerações e sugestões para uma possível mudança no edital deste ano, que já havia sido publicado.
Porém, as considerações não foram levadas adiante por parte da instituição. A atriz Mari Zanin, uma das organizadoras da carta, relata a dificuldade de comunicação entre os artistas de teatro e a universidade. “Não fizeram nada para mudar essa edição, que exclui os atores de cena. Alegaram que estão cumprindo normas de segurança devido à pandemia, ignorando mais uma vez nossa recomendação de um festival online”.
Carlos Schneider, mais conhecido como Phantasma, iluminador do grupo de teatro da cidade, diz que uma peça é muito mais que um texto e observa que há espetáculos que não utilizam mais da dramaturgia escrita para acontecer. “Ficaram de fora os técnicos, figurinistas, diretores, maquiadores, além dos atores. É possível montar uma peça sem texto, mas não é possível montar uma peça de teatro sem atores”, afirma Schneider. Segundo ele, esta edição deixa de ser um festival de teatro e passa a ser um concurso de dramaturgia, quebrando a importância de um festival que não parou nem na ditadura.
Há ainda outras contestações por parte dos artistas em relação às edições anteriores do Fenata. No documento, eles apontam problemas na estrutura da organização do festival por parte dos curadores, alegando que são sempre os mesmos, e colocam em discussão a imparcialidade na escolha das peças selecionadas e premiadas.
Ao ser questionada sobre o formato do Fenata neste ano e as manifestações dos artistas locais, a diretora da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex), Sandra Borsoi, apenas respondeu de que maneira será realizado o festival e como foi feita a seleção dos textos. “A seleção foi realizada por uma curadoria especializada, que indicou três textos nacionais, dois estaduais e dois regionais. Como resultado da premiação, os textos irão compor um livro e um e-book, além de palestras e contação de história”, relata.
No último dia 9, a UEPG divulgou a lista de sete textos dramatúrgicos selecionados entre os 43 inscritos no 48º Fenata, que receberão R$ 3.400,00 e farão parte de um livro intitulado “A Cena Dramatúrgica Brasileira”, a ser lançado em abril de 2021.
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