“A gente não parava de ouvir as bombas, era boom, boom, boom”. Esta fala poderia perfeitamente ser a descrição de um cenário de guerra civil, em um lugar não regido pela democracia. Mas foi um dos depoimentos registrados em Massacre 29 de abril, que retrata a violência do Estado contra servidores públicos no Paraná. A data, 29 de abril de 2015, foi um triste marco que sacramentou o descaso do governo com a educação e os direitos dos servidores. Em greve pela segunda vez no ano, manifestantes se reuniram em frente à Assembleia Legislativa, em Curitiba, na tentativa de impedir a votação do projeto de lei que autoriza o governo a utilizar dinheiro do fundo previdenciário dos servidores para pagar dívidas.
Foram recebidos por 5 mil policiais fortemente equipados com bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, cães, balas de borracha. Como resultado, mais de 300 feridos, sem contar os milhares de arranhões psicológicos e políticos produzidos naquele dia, cujas feridas demoram muito mais a cicatrizar.
Massacre 29 de abril é um documentário de 45 minutos, produzido em apenas três semanas por estudantes e professores do curso de Jornalismo da UEPG. Reúne vídeos, fotografias e depoimentos de dezenas de manifestantes que foram testemunhas desta tragédia histórica, da tentativa de desmonte da educação pública no Paraná. O cenário já é conhecido por grande parte da população do estado, que acompanhou as manifestações pela TV, rádio, jornais e principalmente pela internet. Ainda assim, as imagens continuam a chocar, impressionar, angustiar. Afinal, rasantes de helicópteros policiais em um acampamento de professores, bombas caindo do céu, estilhaços por todo canto e gente ensanguentada, desesperada, não são coisas fáceis de se ver.
O documentário Massacre 29 de abril possui indubitável relevância no registro dos acontecimentos ocorridos no Paraná. Trata o tema com a seriedade que merece. Evidencia a luta por direitos diante da violência exacerbada da polícia, do autoritarismo do governador Beto Richa e do cenário armado para que o PL 252/2015 fosse aprovado a qualquer custo.
Reportagem de Andressa Kikuti
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