Um brinde ao mundo das cervejas artesanais

Produção realizada para o Curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Maltes, lúpulos, água e leveduras. Estes foram os ingredientes escolhidos para dar sabor a esta reportagem. Abre-se aqui um espaço exploratório do mundo das cervejas especiais, um mundo repleto de ingredientes e processos de produção, que vai das indústrias que produzem em larga escala aos monges trapistas que produzem sua própria cerveja.

Por que especiais?

Algumas cervejas são consideradas especiais pelo seu processo de produção diferenciado. Muitas delas fogem do estilo mais comum encontrado no mercado, as American Larger, que se compra aos montes para o churrasco com os amigos. Estas cervejas são chamadas de comerciais, por isso não possuem nenhum diferencial para os padrões do Brasil.

Especial, contudo, não é sinônimo de importado. Em lojas especializadas, muitos dos rótulos apresentados são nacionais e por vezes mais saborosos que os internacionais.

O primeiro rótulo

É preciso ter criatividade para iniciar a apreciação de cervejas especiais, geralmente o primeiro rótulo é adquirido em mercados, quando se decide levar algo diferente para experimentar. Cria-se um prazer em experimentar algo novo e aumentar o paladar, conhecer novos estilos e formas de fabricação. É uma aventura, assim como experimentar comidas diferentes e criar preferências.

Mas é preciso cuidado, como tudo que é feito pela primeira vez, se a experiência não for agradável, dificilmente se repetirá. É uma questão de sorte, de saber qual estilo escolher e com o que harmonizar. Mas também se considera que o apelo visual da garrafa pode motivar a escolha pelo produto.

Onde são encontradas?

Cervejas especiais podem ser encontradas em grandes redes de supermercado e vieram para o interior seguindo a tendência das grandes capitais. Os rótulos costumam ser limitados e a reposição das garrafas não é frequente, por isso passam a impressão de estarem ali como uma opção, um diferencial. Algumas redes têm investido no ramo e criaram alas apenas para cervejas, assim como as adegas.

Também existem lojas especializadas no serviço. Em Ponta Grossa, há duas que trabalham apenas com cervejas, um quiosque no Shopping Palladium e uma adega de vinhos e importados que aderiu ao segmento.

Na internet podem ser encontrados os Clubes de Cerveja, como Have a Nice Beer e Cerveja Store, que funcionam da seguinte forma: o assinante escolhe um plano para receber rótulos especiais em casa e, todo mês, recebe de duas a seis garrafas pelo Correio e também conta com descontos nas cartas de cervejas das empresas. Um serviço que virou febre pelo investimento que tem feito. Os Clubes patrocinam canais no YouTube para degustar e dar suas impressões sobre as cervejas do mês, o que tem difundido essa cultura entre os assinantes.

Fã de carteirinha

Quando completou 18 anos, Guilherme Deon ganhou de seus amigos uma cerveja belga de presente, não entendia muita coisa, mas se encantou pelo rótulo de design detalhado e pelo sabor forte. Desde então coleciona rótulos. “Cada garrafa vazia tem uma história, foi um presente, ou comprei em algum bar, dificilmente vou ao mercado”, relata.

Assim que começou a trabalhar, Deon destina parte de seu salário para a coleção. É algo pessoal, a forma que ele encontrou para lembrar de cada sabor.

Mestre Cervejeiro e Puro Malte

Duas lojas especializadas em cerveja, dos copos corretos para cada estilo ao rótulo em si. A Mestre Cervejeiro é uma franquia com lojas em todo o país que foi inaugurada em Ponta Grossa em 2011 por Thiago e Dayane Brandes. A loja tem um propósito diferente: “aqui os clientes vem, trazem o notebook, pegam uma cerveja na geladeira e podem trabalhar aqui mesmo, ou trazem amigos para experimentar cervejas diferentes”, conta Dayane Brandes.

A loja se mistura a um bar, um conceito novo para uma cidade que possuía apenas bares tradicionais.

Com mais de 250 rótulos entre nacionais e internacionais a loja atende um público restrito, geralmente entre das classes A e B, já que os preços estão entre R$15,00 e R$30,00, mas podem chegar em R$190,00 no caso da Deus, uma cerveja de champanhe, levada à região específica da França para ser produzida.

A Puro Malte também apresenta uma proposta diferente. As cervejas que lá são comercializadas seguem o padrão de pureza alemão, ou seja, não são utilizados milho e conservantes durante o processo de produção. “Cerveja de verdade são essas aqui, depois que experimenta, não quer mais saber dessas comuns”, diz Sadi Lella, proprietário da loja.

Seu estoque conta com 15 estilos diferentes de cerveja, a maioria de produtores locais, mas o grande diferencial do seu negócio não são as garrafas com rótulos bonitos e sabor encorpado. O segredo está nos outros produtos que Sr. Sadi vende, os ingredientes para produção de uma cerveja caseira: os maltes, leveduras, galões para maturação, tampinhas e os objetos utilizados para engarrafar.

Outro diferencial são as degustações acompanhadas de jantares, em que o participante paga R$35,00 no jantar e as cervejas que beber. Geralmente, a carta de cervejas conta com 25 produtores.

O que significa o rótulo?

São consideradas três grandes famílias de estilos, cada uma com inúmeras subdivisões. As Lagers são as cervejas encontradas com maior facilidade. No Brasil, são responsáveis por 99% das vendas de cerveja, sendo o estilo mais consumido aqui e no mundo. São caracterizadas pela baixa fermentação ou fermentação a frio (de 6° a 12°), com uma graduação alcoólica moderada, entre 4% e 5%. O maior representante das Larger é a cerveja Pilsen.

As Ales são cervejas que passam por um processo de fermentação em temperaturas mais altas, entre 15° e 24°, por isso os sabores são mais maltados e lupulados, o que a caracteriza como uma cerveja mais encorpada. Pela forma de produção, a graduação é um pouco mais elevada, variando entre 6% e 9%. O representante mais tradicional no mercado brasileiro das Ale são as Indian Pale Ale, as IPA’s.

A terceira família é das Lambics, cervejas de fermentação espontânea. Em seu processo não é adicionado lúpulo, então a fermentação ocorre com a ação de agentes naturais, encontrados ao redor de Bruxelas, na Bélgica, por isso dificilmente são encontradas para vender e possuem um preço elevado, chegando aos R$541,00.

A curiosidade que virou paixão

Thiago Brandes tem 28 anos, é formado em Administração e dono da franquia Mestre Cervejeiro de Ponta Grossa. Ele conta que começou como todos. Antes consumia qualquer marca comercial, com o tempo passou a preferir os rótulos de marcas importadas. Decidiu ir um gole adiante. Comprou no mercado mesmo uma Paulaner, cerveja alemã. Criou interesse e passou a experimentar novos estilos, provando amargores e corpos, notas doces ou cítricas.

Com a vontade de abrir um negócio próprio investiu no ramo. Fez um curso de Somelier na Universidade Positivo e comprou a franquia Mestre Cervejeiro para inovar o mercado ponta-grossensse, algo muito distante do que já existia na cidade.

Thiago é um exemplo daqueles que trabalham com o que gostam. Enquanto contava sobre suas escolhas, um cliente pede uma cerveja de framboesa, Thiago mostra três rótulos diferentes, explica qual a diferença entre cada um e indica a que se aproxima mais da descrição de sabor procurado. Segundo ele, a experiência com a cerveja deve ser aos poucos, para conquistar um degustador, não um cliente passageiro.

Thiago ainda observa que escolheu o ramo certo para investir. “Os clientes vem aqui e se sentem confortáveis, na maioria das vezes fico conversando com eles e indico algo novo para provarem”.

Para encerrar, peço a ele uma indicação. A sugestão é de uma cerveja da República Tcheca, pilsen encorpada de sabor forte e amargor moderado. Um convite para experimentar novos sabores. Um brinde!

Reportagem de Leandro Oliveira

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