Um ponto de luz no Parque Ambiental

Por Letícia Queiroz

A batalha de rimas que acontece todo sábado, às 20h, no Parque Ambiental, tem reunido rappers, amadores, músicos e uma compilação de instrumentos musicais. O encontro dos rappers do último dia 10 foi a 5º batalha desde que o grupo voltou a se reunir.

Os rappers se encontram na parte mais iluminada do local, no centro do parque. Mesmo com as batalhas que só começam à noite, o público e os interessados já são percebidos muito antes de escurecer. O “Freestyle”, estilo marcado pelo “improviso” na hora de rimar, começa no momento da inscrição. Sentado no pé de um pilar que sustenta a iluminação, o rapper Andrey Rotter, o “Twoclock”, organizador do evento, faz as inscrições dos candidatos. “E aí rapa, bora participar?”. Cada batalha tem dois candidatos, cada um tem 40 segundos para rimar. A técnica que prevalece na hora da rima é a que eles chamam de “sangue”, que remete a “zoação”.

O evento, que já acontecia no ano passado, parou em outubro e só voltou a acontecer no dia 5 de março. Segundo Andrey, as batalhas estão mais consistentes agora, e contam com um cenário diferente. “Acho que a essência da parada é onde todo mundo se tromba. O lugar da rima mesmo, onde os caras se trombam, é na rua”.

Para Andrey, o preconceito com o gênero ainda existe, ainda que tenha diminuído. Ele conta que vê o evento como forma de quebrar estereótipos. “Ainda tem um preconceito pela vestimenta e a maioria da galera aqui vem do gueto, da periferia. Hoje está mais acessível e versátil, hoje o rap alcança muito mais gente, e isso mostra que a cultura não é só o rap, é o hip hop. O que acontece aqui é o hip hop, que é a cultura maior, é a troca de ideias”.

O uso de batuque, malabares, cajon, violão, são alguns dos elementos que compõem a batalha de rimas, para quem opta ficar até o fim do evento. No momento final, quando o candidato vence, o grupo abre uma roda de rap, onde quem se sentir à vontade pode “mandar aquela rima”. Caroline Winnk acompanhou as apresentações no ano passado, mas conta que a diferença no evento é o que acontece no final das batalhas. “Antes acabava a batalha e todo mundo ia embora, e agora todo mundo fica e rola um Freestyle, uma roda e a gente troca uma energia boa. No final da batalha cada um manda o que sentir vontade”.

O rapper “Jão” é de Jaguará do Sul e conta que ainda percebe uma limitação do publico em participar do evento. “É fraco porque as próprias pessoas se inibem. Entendo que a intervenção cultural é necessária para que um povo tenha cultura e se mantenha forte, mas às vezes as próprias pessoas pensam que isso é errado, a própria polícia acaba proibindo uma ação pensando que é uma reunião com um objetivo maléfico”, avalia.

Lucas Castro foi pela segunda vez no evento e conta que, para além das rimas, o encontro promove um aprendizado cultural, apesar de também perceber uma limitação de público. “Acho que é uma parada que a galera precisa, porque a cidade é muito tradicionalista. O movimento não tem muito incentivo, mas o rap tá solto pra quem quiser ouvir em qualquer lugar, ele é da rua”.

Trecho da batalha final (Rapper “Jão”) 

“To aqui na batalha do ambiental, foda é você vim perder no seu habitat natural. Volta pra selva cê erra cê tenta guerra e não consegue. Então presta atenção no meu rap: evolução meu parceiro, na fé no par verdadeiro, na fé eu não olho no espelho. Vai vendo, ta com medo? Por que veio? Desse jeito não amarela, então amigo to sem freio. Não é ladeira, não é brincadeira. Brincou leva rasteira. Quer capoeira parceiro? É desse jeito que eu chego, na fé, então vai vendo volta pra casa mais cedo, aqui é Brasil puta que pariu, cê se perde no enredo, meu nego”.

Serviço
A Batalha de Rimas acontece todos os sábados, às 20h, no Parque Ambiental. Para participar da batalha, é preciso se inscrever uma hora antes, às 19h.

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