Uma caminhada marcada pela oração e sacrifício

por Antonio Correia e Jessé Stori de Lara

Relembrar o caminho de Cristo até o calvário. Pedir perdão. Agradecer por uma graça recebida. Esses são alguns dos motivos pelos quais milhares de fiéis participam da caminhada de penitência. O evento ocorre toda sexta-feira santa, na semana que antecede a Páscoa. Promovida pela paróquia Bom Jesus, localizada no bairro de Uvaranas em Ponta Grossa, chegou à sua 29ª edição em 2012.

Esse ano a caminhada sofreu mudanças no trajeto. Ao invés de seguir até a capela Santa Bárbara, os penitentes contornaram a vila San Martin e retornaram à Matriz, de onde partiram. Angelin Gualdezi, membro da coordenação, explica o fato gerador da mudança. “O transporte de volta era muito complicado e causava transtornos para os próprios participantes”, afirma.

Nas edições anteriores, carros de som acompanhavam a multidão, transmitindo os cantos e orações de forma padronizada via rádio. Na última, cada um dos 15 grupos realizou suas próprias orações. Para Angelin, essa foi uma maneira de manter esses grupos mais unidos. “O pessoal teve maior união e não dispersou durante o trajeto”, comenta. Segundo ele, a mudança é apenas uma experiência e tem como objetivo o bem-estar dos penitentes.

Uma enquete realizada logo após a chegada, revelou a satisfação de alguns participantes com as modificações. Das 10 pessoas entrevistadas, 9 aprovaram o novo trajeto. A justificativa foi justamente a facilidade com o retorno. Porém, para Inês Tudela que participou pela 5ª vez, a mudança dividiu os participantes. “Antes todos rezavam de forma uniformizada, assim os grupos não sentiam-se isolados”, afirma.

Entre cruzes e orações, passos revelam a fé da comunidade

O sol brilhava forte desde o início. A caminhada partiu da Igreja Bom Jesus às 6h30 da manhã. Cada um dos 15 grupos, ficou responsável por uma cruz de madeira, carregada por até 4 pessoas. Jovens, idosos, famílias inteiras formavam a multidão que caminhava lentamente. Elza Padilha, 49, participou pela 1ª vez e trouxe o casal de filhos. “Ás vezes parecia que eu ia desistir no meio do caminho, mas isso servia para eu refletir e seguir em frente”, conta.

Vista de longe, parecia ser uma procissão comum. Essa era a visão de quem observava tudo externamente, seja pela janela das casas ou dos carros que passavam ao lado. Mas chegando perto, eram perceptíveis os pés descalços que pisavam firmes no asfalto quente. As mãos trêmulas que seguravam terços e folhetos de canto. A expressão de serenidade e concentração, apesar dos obstáculos oferecidos.

Além da paróquia, outros setores da Diocese estavam representados. Veteranos e iniciantes misturavam-se em uma manifestação religiosa muito plural. Sueli Soares, 45, participa há 10 anos da caminhada. Ela conta que não é da Paróquia, mas vem de longe para acompanhar o momento de fé e sacrifício. Maria Aparecida Ferreira, 14, participou de sua segunda caminhada acompanhada pelo pai.

Ao final do trajeto de aproximadamente 12 quilômetros, o caminho de Jesus até o Calvário ficou ainda mais nítido. O tradicional teatro da Paixão foi encenado em frente ao convento Bom Jesus. A iniciativa foi dos grupos de jovens e adolescentes da Paróquia. Mesmo dispondo de pouco tempo para ensaio e dificuldade em encontrar atores nos papéis principais, eles conseguiram arrancar lágrimas de alguns espectadores que acompanhavam pelo lado de fora.

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