Vida ambulante, de Fortaleza a Ponta Grossa

Por Erica Fernanda

– Quanto tá o cafézinho?

– Tá um real! Baratinho! – gritou para o carro que parou rapidinho na rua para pegar café.

    Às seis horas da manhã ele monta seu guarda-sol e barraquinha com os produtos. Osemir Rodrigues Moraes é um dos 675 trabalhadores ambulantes cadastrados pela Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Qualificação Profissional de Ponta Grossa. Seu ponto fica em frente à Universidade Estadual de Ponta Grossa na rua Cel. Bittencourt. A barraquinha contém balas, salgadinhos, doces de amendoim, café e o que faz nosso encontro ser diário: o cigarro solto.

    Osemir nasceu em Fortaleza, Ceará. Em sua cidade trabalhava em uma firma italiana como Técnico em Solo, construindo pontes e planificando terras (terraplanagem). Após suas filhas Jaqueline e Patrícia se formarem em Ponta Grossa, a mãe e esposa de Osemir, Gina Jeferson, decidiu fazer a mudança para cá.

    Ele nunca pensou em vir para “Ponta Grossa, Ponta Fina”, como brinca durante a entrevista. Também nunca se imaginou trabalhando como ambulante, nas ruas. Osemir conta que sua profissão não é fácil, muita gente carrega preconceito sobre seu trabalho. Mas há também quem o trata bem. “Eu faço amizade muito fácil. Muita gente passa aqui e já fazemos amizade”. Realmente! Todo dia vejo Osemir sentado em sua banqueta conversando com alguém e esse alguém é sempre diferente.

    Nosso encontro é diário não apenas pelo cigarro solto, mas por sua simpatia e interesse em saber como estou, o que está acontecendo na universidade, quando e onde serão as próximas manifestações em defesa da educação. Osemir Rodrigues acha um absurdo o que acontece no governo brasileiro hoje. Como seu ponto é quase em frente à Agência do Trabalhador, já discutimos sobre como o governo não valoriza os trabalhadores – no Brasil a taxa de desemprego é de 12,7%, atingindo 13,4 milhões da população.

          Fortaleza é a terra do forró. “Visu! Forró eu dançava até amanhecer”. Osemir conta que lá a época de São João é muito forte, todos juntam-se para dançar quadrilha e o forró. Qualquer um pode entrar na quadrilha.

           Por conta do trabalho como Técnico em Solo, Osemir já viajou muito pelo Brasil e exterior, e trabalhou até no Amazonas. Trabalhava de segunda a domingo, chegando a ficar oito meses sem ir pra casa ver a família. Emendava um trabalho de uma cidade para outra.

         Já recebeu muita proposta de trabalho em Ponta Grossa para sair da informalidade, mas prefere ser ambulante. “Em emprego registrado muitas vezes não recebe certinho. Vendendo minhas coisas aqui é dinheiro certo. Um trabalho não valorizado mas ganho meu dinheiro na humildade”. Além disso, Osemir faz “bicos” com sondagem.

        “Eu não gosto de política não”, comenta quando começamos a conversar sobre as denúncias feitas pelo jornal The Intercept a respeito de Sérgio Moro e Delta Dallagnol. Mesmo assim, Osemir defende que a prisão do ex-presidente Lula foi uma trama do esquema político. “Ele roubou, mas foi Lula quem fez algo pelos trabalhadores, como o programa de casa própria, né?”.

          Osemir Rodrigues Moraes pretende deixar a venda ambulante e abrir o seu negócio. Quer construir uma lanchonete no centro da cidade e deixar a profissão “humilde” para atuar em outro local.

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