Hoje, com o aumento dos índices de longevidade, o idoso tem ganhado evidência nas iniciativas em prol de uma boa qualidade de vida. Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), entre 1991 e 2010, a expectativa de vida nacional cresceu em 14%, com variação entre municípios de 65 a 79 anos. De acordo com a professora de Educação Física, Carolina Ecave, hoje, os idosos querem tanto a qualidade, quanto a longevidade, pois acreditam que ambas são complementares.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde não é apenas a ausência de doença, e sim, uma união entre bem-estar físico, mental e social. E o World Health Organization Quality of Life Group (Grupo de Qualidade de Vida) criado pela Organização define o conceito de qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.
Graciele de Moraes Barros, formada em História e mestranda em Artes Cênicas, tem como tema de sua tese as possibilidades e limites de uma prática cênica e como isso é encarado na terceira idade. Ela também realizada um projeto na Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI). Em sua experiência, uma boa qualidade de vida, hoje, está relacionada com a oportunidade de se expressar, ter saúde e um espaço para poder expor suas ideias. “Que você seja visto de maneira útil para a sociedade”, diz Graciele.
Hoje, a terceira idade tem acesso a grupos específicos, que promovem bailes, viagens e atividades grupais. “O mais importante é a sociabilidade”, afirma Ecave. Em Ponta Grossa, a Fundação PROAMOR de Assistência Social inclui o Departamento do Idoso, que busca oferecer serviços como atendimento social, natação, hidroginástica, academia, fisioterapia, jogos esportivos e atividades de lazer.
De volta às aulas
Mais alegres e dispostos a aprender, com energia e força de vontade. Essas são características que descrevem as senhoras e senhores em busca de uma boa qualidade de vida na melhor idade através da UATI. É com conversas animadas, risadas e brincadeiras que os alunos se preparam para as aulas. “Eles, de maneira geral, são muito prontos, muito ativos, muito disponíveis. São pessoas que topam tudo, para eles tudo está bom. São pessoas de bem com a vida”, descreve Graciele. Ela ainda enfatiza a importância da relação entre a terceira idade e o teatro para a memória. “A questão da memória é muito importante porque é uma maneira de eles estarem interagindo na sociedade”, afirma a professora da UATI.
Para a professora de Educação Física, corpo e mente equilibrados são a base para uma boa qualidade de vida, que no caso dos idosos, é importante para que eles possam aproveitar bem a fase da terceira idade. E uma questão que a professora enfatiza é a convivência. Segundo ela, quando o idoso participa de atividades físicas ou de lazer em grupo, possibilita que ele saia de casa e conheça novas pessoas, novos costumes, além de sempre ter histórias para contar.
As aulas de teatro também disponibilizam uma série de benefícios. Para a mestranda em Artes Cênicas e professora, as técnicas de repetição, expressões corporais – mesmo que limitadas – e a utilização de experiências próprias de forma lúdica contribuem para o exercício da memória, além de serem uma forma dar um sentido de participação aos alunos. “De certa forma, os exercícios teatrais fazem sim com que se possa combater ou amenizar doenças físicas e mentais, pois a autovalorização está diretamente ligada a questões de saúde que muitas vezes não se percebe onde mora o real problema”, declara.
Sempre ativos
Aposentado da Polícia Militar, onde trabalhou por 32 anos, Oslito Romão Pedrozo, 70 anos, é casado, tem duas filhas e três netos. Mais conhecido como “Zi”, hoje trabalha como ourives, e acredita que além de boa saúde, boa alimentação e não ter nenhum vício, para ter qualidade vida é importante ter uma boa relação com a família. Adepto da sinuca, casualmente, Zi afirma ser uma pessoa tranquila. “Eu mesmo, me considero um ‘piazão’. O importante é que eu não levo nada nessa vida aos trancos e barrancos. Quando eu for dessa para outra, eu posso ir feliz, porque me dá impressão de que eu não magoei ninguém. Eu estou sempre brincando, sempre tirando de letra as coisas. Então, essa aí é minha vida.”, confessa Oslito.
Na Casa da Terceira Idade Santa Paula, localizada no Contorno, o sorriso e expectativa pela hora do baile. Apesar da chuva forte em uma tarde de domingo, o ânimo está presente enquanto os senhores e senhoras aguardam o momento de ir para a pista de dança. Assídua dos bailes realizados pela Casa há 10 anos, dona Leonor Camargo Rosa, 78 anos, considera que qualidade de vida é estar de bem com os outros.
Além dos bailes, “Nonô”, como é conhecida por familiares e amigos, também participava de viagens e, hoje, se considera feliz. Sua irmã, Maria Alves Camargo, 70 anos, também participa das atividades realizadas pelo estabelecimento e diz não gostar muito dos bailes por causa do barulho, no entanto afirma gostar de participar e conviver. “Eu gosto de ter contato com as pessoas aqui na terceira idade, com as velhinhas. Mas nós não somos velhinhas, somos meninas”, diz Maria. As duas irmãs moram sozinhas e afirmam gostar de ser independentes.
Maria Alves gosta de fazer crochê e outras atividades com suas amigas. “Eu não gosto de ser dependente de ninguém. Enquanto Deus estiver me dando força, e Deus está me dando força, eu quero fazer tudo para não depender de ninguém. Eu fico bem, na minha casa. Tenho alegria, tenho saúde”, declara Maria. Há dez anos sem trabalhar na lavoura, onde diz ter sido criada, Maria quer se dedicar aos estudos. “Eu quero aprender bem para ter alguma coisa para fazer, para me ocupar. Eu quero fazer curso de coordenadora. De cuidar de pessoas idosas. Eu gosto muito de cuidar dos outros”, afirma.
Para a professora de Educação Física, se a pessoa não tem qualidade de vida desde cedo, as consequências irão pesar quando ela envelhecer. “Para que o idoso tenha qualidade de vida, ele deve regrá-la, fazer atividades físicas, eliminar os maus hábitos e ter uma alimentação balanceada”, afirma Carolina.
Graciele acredita que a longevidade, hoje, é recorrente e por isso as pessoas devem encarar o envelhecimento de forma mais alegre e feliz. “E eu acredito que você enfrentar o envelhecimento de uma maneira tão positiva, é algo que só traz coisas boas”.
Reportagem de Giovana Kai
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