
Dia do Cerrado: savana mais biodiversa do mundo está em risco
Celebrado hoje, 11 de setembro, o Dia Nacional do Cerrado chama a atenção para a importância e os desafios do segundo maior bioma do Brasil, atrás apenas da Amazônia. Ocupando cerca de 24% do território nacional, o Cerrado se estende por mais de 2 milhões de km² (203.644.800 hectares), abrangendo os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, São Paulo, Ceará, além do Distrito Federal e pequenas áreas no Paraná, conforme estudo dos pesquisadores Carlos Vinícius Gonçalves Ribeiro e Luís Antônio Coimbra Borges, da Universidade Federal de Lavras, publicado na Revista Caminhos da Geografia, em 2021.
Conforme a mesma, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais biodiversa do mundo e abriga 1,5% das plantas vasculares existentes no planeta, sendo que cerca de 80% são espécies endêmicas, ou seja, não encontradas em nenhum outro lugar. Segundo os pesquisadores, essa riqueza, no entanto, está sob forte ameaça: aproximadamente 50% da vegetação original já foi convertida em áreas urbanas, pastagens e agricultura, restando apenas 19,8% de cobertura nativa preservada.
A devastação avança em ritmo acelerado. Somente em 2019, segundo dados do MapBiomas citados no estudo, foram desmatados 408 mil hectares de Cerrado, dos quais 44 mil hectares estavam dentro de Unidades de Conservação (UCs). Atualmente, o bioma possui 438 UCs, que somam 17,7 milhões de hectares, o equivalente a apenas 8,72% do território protegido, índice inferior ao compromisso assumido pelo Brasil no Decreto nº 5.758/2006, que estabeleceu a meta de conservar 10% do Cerrado, e também abaixo da meta internacional da Convenção sobre Diversidade Biológica, que previa a proteção de 17% das áreas terrestres até 2020.
Grande parte das áreas de proteção no Cerrado é de Uso Sustentável, categoria que permite atividades agropecuárias sob regulamentação, conforme a mesma pesquisa. Já as Unidades de Proteção Integral, que oferecem maior preservação, correspondem a apenas 3,1% da área total do bioma. Essa configuração revela fragilidades na conservação, agravadas pela falta de planos de manejo em muitas dessas áreas.
Apesar de sua importância para o equilíbrio climático, o ciclo das águas e a manutenção da biodiversidade, o Cerrado continua sendo um dos biomas mais ameaçados do planeta. Segundo os pesquisadores, especialistas defendem maior investimento em políticas públicas, fiscalização e criação de novas Unidades de Conservação, especialmente de Proteção Integral, para frear a perda de habitats.
Além da atuação governamental, a sociedade também pode contribuir para a preservação do Cerrado por meio de escolhas cotidianas. O consumo consciente de alimentos, especialmente aqueles ligados à produção agrícola que mais pressiona o bioma, como a soja e a carne bovina, é uma forma de reduzir a demanda por novas áreas de desmatamento. Apoiar produtos certificados e provenientes de práticas sustentáveis, valorizar a agricultura familiar e participar de iniciativas de reflorestamento ou proteção de nascentes também são ações individuais que ajudam a frear a degradação. Além disso, engajar-se em movimentos socioambientais e cobrar políticas públicas mais efetivas reforça a pressão social em defesa do segundo maior bioma brasileiro.
Por Matheus Leônidas, estudante do 2º ano de Jornalismo da UEPG e integrante do projeto de extensão Pauta Ambiental.