
ONU aos 80 anos: a cobrança de Lula e o retrocesso de Trump
A 80ª Assembleia Geral da ONU foi aberta sob o peso simbólico das oito décadas de existência da organização e a gravidade concreta de crises que a tornam cada vez mais questionada. O lema “Melhor juntos: 80 anos ou mais para paz, desenvolvimento e direitos humanos” tenta projetar confiança, mas a verdade é que a ONU chega a esse marco pressionada pela incapacidade de resolver conflitos, pela lentidão em reformas internas e, sobretudo, pela falta de respostas diante da emergência climática e as guerras Palestina e Ucrânia. No centro do debate, a pauta ambiental ocupou espaço estratégico. A crise climática não é mais apresentada como risco futuro, mas como uma realidade que multiplica desastres naturais, fome, deslocamentos forçados e desigualdades. No entanto, apesar da gravidade reconhecida, os discursos soaram mais como um inventário de intenções do que como a apresentação de compromissos concretos. A distância entre a urgência científica e a lentidão diplomática se mostrou, mais uma vez, abissal.
Foi nesse ambiente que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou. Com tom firme, ele reforçou a cobrança histórica: “os países ricos precisam assumir responsabilidades pela destruição ambiental e financiar políticas de transição justa para os mais pobres”. Ao mesmo tempo, destacou o esforço do Brasil na redução do desmatamento e na busca de um modelo de desenvolvimento que una crescimento econômico e preservação ambiental. O discurso de Lula rendeu aplausos entre defensores da justiça climática, sobretudo por reafirmar que não pode haver soluções impostas unilateralmente. A insistência em cobrar responsabilidades externas é justa, mas soa incompleta diante dos desafios internos ainda não resolvidos, como a expansão de atividades extrativistas, os conflitos socioambientais e a fragilidade de políticas públicas em comunidades vulneráveis.
Nesse mesmo cenário, a figura de Donald Trump reapareceu como símbolo da resistência mais agressiva à pauta climática. O presidente norte-americano, na tribuna da ONU, voltou a desdenhar dos acordos ambientais e a minimizar o aquecimento global, postura que ecoa entre setores conservadores e ajuda a bloquear compromissos mais ambiciosos. Sua retórica nacionalista e negacionista enfraquece ainda mais a capacidade da ONU de se afirmar como espaço de cooperação, pois reforça a visão de que potências podem simplesmente ignorar o multilateralismo quando lhes convém.
Esse contraste é revelador: enquanto Lula tenta projetar o Brasil como voz crítica e engajada, Trump reencarna a política do retrocesso climático, incentivando outros líderes a priorizarem interesses imediatos em detrimento de compromissos coletivos. Ambos expõem, de formas diferentes, os limites da ONU em transformar falas em ação. No fim, o que se ouviu em Nova York foi um eco repetido: reconhece-se a urgência, mas posterga-se a solução. Lula ajuda a expor contradições e desigualdades, mas também não escapa às armadilhas da retórica. Trump, por sua vez, encarna a negação explícita que mina décadas de esforço. A ONU, aos 80 anos, mostra que envelhecer não significa amadurecer, e o clima não espera discursos se transformarem em políticas.
Por Julia Almeida, estudante do 3º ano de Jornalismo da UEPG e integrante do projeto de extensão Pauta Ambiental.