Quando a floresta vira palco da esperança (ou da omissão)

Quando a floresta vira palco da esperança (ou da omissão)

A COP30, que acontece em Belém do Pará, carrega um simbolismo poderoso. Sediar a conferência climática no coração da Amazônia é um convite para o mundo olhar de frente para o que está em jogo: a sobrevivência de ecossistemas essenciais e das populações que vivem deles. Ao mesmo tempo, é um teste de coerência para o Brasil, que se coloca como liderança ambiental global enquanto enfrenta desafios internos de desmatamento, infraestrutura precária e contradições entre crescimento econômico e preservação. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, tem repetido que a COP30 precisa marcar um novo momento. “A COP30 deve ser esse novo marco referencial de criar um lastro para implementar as decisões que nós já tomamos ao longo desses anos”, afirmou Marina Silva conforme noticiado pela imprensa. A frase traduz a impaciência de quem vê a política climática mundial estagnada em promessas. Depois de décadas de negociações, a questão não é mais o que fazer, mas como fazer. 

De fato, o mundo entra em Belém num cenário crítico. A média global de temperatura ultrapassou, em 2024, o limite simbólico de 1,5 °C, e as consequências estão em todos os continentes: incêndios, enchentes, secas e ondas de calor recordes. A COP30, portanto, não pode ser apenas mais uma conferência, deve ser o ponto de virada entre o pedido urgente do planeta e a prática efetiva. Caso contrário, o encontro corre o risco de se tornar um espetáculo vazio, marcado por discursos emocionados e acordos frágeis. As emissões globais seguem em alta, as catástrofes climáticas se intensificam e os compromissos assumidos em cúpulas anteriores continuam insuficientes. A COP30, portanto, chega como um ultimato à inércia política e econômica que sustenta o colapso ambiental. 

Entre os principais temas estão a redução das emissões de gases do efeito estufa, o financiamento climático, a adaptação e a preservação das florestas tropicais. O desafio é garantir que essas discussões saiam do papel. O chamado “Roadmap Baku-to-Belém”, que pretende mobilizar trilhões, para aumentar o financiamento climático de países em desenvolvimento até 2035, é um exemplo. Mas ainda está cercado de dúvidas sobre a origem dos recursos e o acesso dos países mais vulneráveis. Sem clareza sobre quem paga e quem se beneficia, a justiça climática segue distante. Essa dimensão social não é detalhe, é o cerne da crise climática. Os países e comunidades que menos contribuíram para o problema são justamente os que mais sofrem com secas, enchentes, migrações forçadas e insegurança alimentar. Se a COP30 não enfrentar essa desigualdade estrutural, o evento corre o risco de reforçar as mesmas assimetrias que tenta resolver.

Marina Silva resume bem a responsabilidade brasileira ao afirmar que “é com grande responsabilidade que o Brasil recebe a presidência da COP30”, conforme noticiado pela imprensa. A frase ecoa a dimensão ética do evento: o equilíbrio climático não é uma pauta setorial, mas uma questão civilizatória. A crise ambiental toca a economia, a segurança alimentar e a dignidade humana. Ignorá-la é comprometer o futuro coletivo. Em última análise, a COP30 será medida não pelas declarações de encerramento, mas pelo que vier depois dela. O mundo já tem acordos, metas e relatórios suficientes, o que falta é coragem política e solidariedade real. Se Belém conseguir transformar simbolismo em compromisso e compromisso em prática, talvez possamos olhar para trás e dizer que a COP30 foi mais do que um palco e sim o ponto de virada que o planeta tanto precisava.

Por Julia Almeida, estudante do 3º ano de Jornalismo da UEPG e integrante do projeto de extensão Pauta Ambiental.

 

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