Artesanato ganha força no Paraná e vira tendência de trabalho e consumo

Além da função econômica e social, o trabalho artesão representa preservação cultural do artista e das peças feitas à mão

A valorização dos produtos feitos à mão tem crescido nos últimos anos no Paraná. Dados do Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (Sicab) mostram que o número de artesãos mais que dobrou entre janeiro e agosto de 2022, um crescimento que reflete uma tendência em todo o país. Atualmente, a plataforma reúne mais de 190 mil profissionais cadastrados. No Brasil, estima-se que existam cerca de 8,5 milhões de artesãos.

O artesanato surgiu no período Neolítico, por volta de 6000 a.C., quando os humanos passaram a utilizar materiais como pedras, ossos, fibras e madeira para produzir ferramentas e objetos para o dia a dia. No Brasil, os povos indígenas já desenvolviam práticas artesanais milhares de anos antes da chegada dos portugueses, em 1500. Arqueólogos encontraram vestígios de artefatos cerâmicos com mais de cinco mil anos, como os da região tapajônica, na Amazônia, e os da cultura marajoara, na Ilha de Marajó. Entre os trabalhos indígenas, é comum encontrar cestos, cerâmicas e ornamentos feitos de penas e plumas, o que reforça a importância do artesanato como expressão cultural e de identidade desses povos.

A partir da colonização, o saber artesanal se ampliou com a chegada dos portugueses e de outros povos que trouxeram consigo técnicas e conhecimentos das artes manuais. Esse intercâmbio cultural deu origem à diversidade que caracteriza o artesanato brasileiro até hoje. Entre as técnicas mais comuns estão o crochê, tricô, macramê, tear manual, bordado, patchwork e a costura criativa. Além disso, muitas peças são produzidas com argila, madeira e materiais reciclados, unindo tradição, sustentabilidade e geração de renda para milhares de artesãos espalhados pelo país.

Em Ponta Grossa, a valorização do artesanato se materializa na Casa do Artesão, criada em 29 de setembro de 1989 e considerada um patrimônio histórico da cidade. O espaço funciona como um centro cultural e comercial, onde se preserva e fortalece a tradição artesanal local. Além de ser um ponto de venda, a Casa do Artesão também oferece um ambiente de aprendizado e troca de saberes, permitindo que artesãos desenvolvam e aperfeiçoem técnicas como crochê, macramê, bordado, entre outras. Localizada na Concha Acústica na Praça Barão do Rio Branco, no centro da cidade, o local é um elo entre a cultura popular, a memória e a geração de renda para a comunidade artesanal ponta-grossense.  

Mesmo que o artesão repita um modelo, pequenas variações tornam cada peça única. Foto: Larissa Oliveira.

A presidente da Casa do Artesão, Marluce Meira, explica que o trabalho artesanal vem sendo cada vez mais valorizado e reconhecido. “O interesse por crochê, do ano passado para cá, disparou. Procura-se, principalmente, por peças de vestuário e acessórios”. O interesse das pessoas é por  peças  únicas e exclusivas. Cada produção artesanal, observa Marluce, é constituída por identidade e criatividade. São esses traços característicos os mais marcantes e valorizados pela clientela.

Reflexo dessa valorização crescente do artesanato é o trabalho de Elis Fernanda, proprietária de uma loja online no Instagram. Ela produz peças exclusivas em crochê e percebeu um aumento significativo na procura nos últimos anos, especialmente após a pandemia. “O interesse pelo artesanato voltou. Nos anos 2000, era uma febre. Assim como a moda resgata tendências de tempos em tempos, o crochê é um bom exemplo disso”, destaca Elis, que une tradição e criatividade na produção de suas peças.

Vanderli Santos, artesã que integra a Casa do Artesão de Ponta Grossa, reforça a importância de manter viva a tradição artesanal. Ela destaca que o espaço oferece oficinas regulares, com o objetivo de transmitir o conhecimento e as técnicas para as novas gerações. “É fundamental divulgar e repassar o saber do artesanato. Estamos sempre promovendo oficinas abertas à comunidade”, afirma. As atividades atraem pessoas de diferentes idades e demonstram o crescente interesse da população em aprender e valorizar o trabalho manual.

 Durante muito tempo, o artesanato foi associado majoritariamente a pessoas mais velhas, especialmente mulheres idosas. Isso se deve a um contexto cultural em que as técnicas eram transmitidas de geração em geração dentro das famílias — atividade comum entre avós que produziam colchas, toalhas e roupas de bebê. Atualmente, essa realidade vem se transformando. O público é cada vez mais diverso, e muitos jovens têm buscado não só adquirir peças artesanais, mas também aprender as técnicas, mantendo viva essa tradição.

Além de seu valor cultural, o trabalho artesanal tem sido reconhecido como uma poderosa ferramenta de bem-estar e saúde mental. Práticas como o crochê, o bordado e outras técnicas manuais são frequentemente associadas à arteterapia, pois promovem benefícios como a redução da ansiedade, o alívio do estresse, o aumento da autoestima, o desenvolvimento da concentração e até a melhoria da expressão emocional. Ao participar de oficinas e grupos, muitas pessoas também encontram no artesanato uma oportunidade de socialização, fortalecendo vínculos e construindo redes de apoio.

Ficha técnica

Produção: Larissa Oliveira 

Edição e publicação: Anna Perucelli, Maria Cecília Mascarenhas e Diego Santana

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Kossar Furtado

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