A trajetória de Gueg e a cultura hip hop em Ponta Grossa

Antes da pandemia, ele produziu 20 clipes em apenas um ano, em São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Bahia. Foto: Fernanda Matos

Rapper, dj, produtor cultural e audiovisual, e beatmaker são alguns dos talentos de Ismael Alves dos Santos. Conhecido regionalmente como Gueg PR. Ele é uma figura influente em Ponta Grossa. O artista, de 47 anos, é um dos pioneiros da cultura hip hop na cidade e no estado. No coração do bairro Ronda, faz a música acontecer nos acústicos do próprio estúdio, o Fabrik Produções.

A história de Gueg com o hip hop não é recente. Ele conheceu o movimento na década de 1990, quando dançava nos clubes da cidade. Quando começou a tocar rap nas rádios ponta-grossenses, como as músicas de Racionais MCs ou Gabriel o Pensador, sentiu proximidade com o ritmo e procurou conhecer mais o estilo. Passou a frequentar outros espaços de competição de dança e se tornou b-boy. Entre 1993 e 1996, ele se apaixonou pela cultura hip hop e escreveu algumas letras. Chegou a 30 composições próprias, algumas delas ele canta até hoje, mesmo com as modificações realizadas ao longo do tempo.

Para expandir seu trabalho com a música, frequentou  outros palcos no estado, em Curitiba, Londrina, Maringá, Rolândia e Guarapuava. Nesse circuito, conheceu outras pessoas que faziam parte do movimento. Engana-se quem pensa que ele parou por aí: Gueg passou a realizar eventos em bairros de Ponta Grossa. “A galera aqui só vai para o centro, não faz as coisas nas vilas e, nos finais de semana, tudo fica parado e isso não é bom, porque esses locais também precisam da cultura”.

O hip hop também abriu novos caminhos para Gueg. Além dos eventos, com o passar do tempo, ele conseguiu se inserir ainda mais na cena musical local. Por volta de 2010, saiu do emprego, numa multinacional, e abriu o próprio estúdio de gravação. “Eu faço o que eu gosto e acho que essa é a maior recompensa. Estar sempre alimentando a cultura local”. Até hoje continua a produzir músicas e álbuns.

O artista sempre buscou valorizar aquilo que gostava de fazer. Se não sabe de alguma coisa, propõe-se a conhecer e aprender. Quando ele e mais uns colegas ganharam a premiação de hip hop Preto Ghóez, decidiram investir na televisão, mesmo sem conhecimento de como operar equipamentos de gravação e processos de edição. Depois, compraram uma câmera para filmar eventos produzidos na região e veicular na Tv Educativa, no programa Hip Hop PG. O trabalho deles na TV permaneceu até 2017, mas continuaram a produzir material sobre as gravações de álbuns.

Em 2025, Gueg completa 30 anos de hip hop. Em 2024, ganhou dois prêmios, um da Secretaria Municipal de Cultura de Ponta Grossa para as pessoas que contribuem para o desenvolvimento da cultura regional e outro de cidadão benemérito, da Câmara de Vereadores, pelos eventos que participou ou organizou na cidade. Ele continua valorizando a cultura musical também por meio do podcast Hip Hop PG, criado em novembro do ano passado. As entrevistas ajudam os artistas locais a ganhar reconhecimento e aprender mais sobre o movimento. 

A figura de Gueg leva ao reconhecimento do hip hop e da memória da cidade. É ele quem está por trás de eventos e produções culturais como, por exemplo, a Coletânea Rap Gerais, a Oficina de DJ e o Abril pro Rap, evento realizado há mais de duas décadas.

Gueg também realiza apresentações com as músicas que compõe. Foto: Fernanda Matos

A cultura do hip hop também é manifestação política

Gueg acredita que tudo é política, o que não seria diferente com o hip hop. O movimento expressa críticas e lutas sociais, revela injustiças e desigualdades e promove conscientização. O artista reforça que ainda há muito preconceito em torno da cultura hip hop. Ele se orgulha em falar sobre o assunto e de como o movimento é livre e mundial. Gueg menciona que o hip hop é manifestado desde uma Olimpíada através do breaking, até na “quebrada” mais humilde. “Infelizmente ainda há preconceito por conta da ignorância, pois a informação está em todo lugar e as pessoas precisam ir atrás dela”.

A ligação do produtor audiovisual com o hip hop rompe barreiras e mostra como a cultura é, foi e deve ser no futuro. Em uma de suas letras, Gueg diz que “é preciso viver, é preciso sonhar, estou aqui e tenho forças para lutar”.

 

Abril pro Rap é uma das marcas registradas de Gueg, na organização e como atração musical. Foto: Fernanda Matos

Essência do hip hop é representado nas letras do artista

A resistência do rap, a luta das pessoas que vivem a vida pelo trabalho ou que precisam sobreviver em meio ao sistema econômico, e as desigualdades sociais sempre são temas que ganham força e destaque nas letras das músicas que Gueg compõe. 

O estúdio FABRIK é um espaço de criação e criatividade para Gueg e para os artistas locais. Foto: Fernanda Matos

Ficha Técnica

Produção: Fernanda Matos

Edição e publicação: Larissa Oliveira e João Bobato

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado

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