Av. Balduíno Taques antigamente e atualmente. Montagem: Ester Roloff
Caminhando pelas ruas de Ponta Grossa é possível observar lojas, casas e prédios, alguns modernos e outros singelos, mas cada um com uma história por trás de suas fachadas. Os prédios e construções antigas trazem do passado mais do que uma arquitetura antiga, eles guardam memórias da cidade, algumas que até hoje estão presentes na sociedade.
A história de uma cidade pode ser percebida através de algo tão mundano quanto as ruas que compõem os bairros e as vias urbanas, em Ponta Grossa não é diferente. O especialista em história republicana do Brasil, Edson Silva, é doutor e professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), ele estuda a história regional da cidade e a formação de identidade da população. “Nos últimos anos, as tendências historiográficas valorizaram mais as grandes explicações do que o registro e a precisão da apresentação de fatos e personagens”, relata. Ele afirma que para uma maior compreensão da sociedade é preciso olhar tanto para as fundamentações históricas quanto para os personagens que as compõem. “As explicações devem ser fundamentadas em personagens e fatos, se não passam a ser apenas conceitos teóricos, sem entendimento humanidade por trás dos acontecimentos”, afirma.
O escritor, Peter Lapezak, é autor do livro ‘500 Ruas de Ponta Grossa’, no qual traz mini-biografias dos personagens históricos que deram origem aos nomes das ruas da cidade. “Parte das vidas escritas no livro nasceram nos séculos XVIII e XIX, e na época o modo como escolhiam o sobrenome era diferente, muitas vezes era dado o sobrenome do padrinho ao afilhado ou demorava-se meses para registrar o nascimento de uma criança”, conta. Mesmo com a dificuldade em identificar algumas pessoas e grupos familiares, Peter encontrou famílias inteiras nas ruas da cidade. “Pais e filhos, irmãos, irmãs, avô e neto, marido e esposa, todos colocados juntos no livro”, cita.
O livro foi lançado em novembro de 2024, e o professor de história Edson, amigo do escritor, participou da criação da obra. “As biografias relembram um ambiente que não existe mais, mas que, através de histórias e memórias, continua presente no modo de ser ponta-grossense”, acrescenta o professor Edson sobre o livro.
A formação de Ponta Grossa
A lenda que conta sobre a construção da catedral de Ponta Grossa, local onde daria início a formação do povoado da cidade, fala sobre a divergência entre fazendeiros que queriam que a construção fosse perto da própria fazenda. Como solução, eles soltaram duas pombas brancas, atadas com fitas vermelhas nas patas, e no local onde pousassem seria feita a construção da igreja. As pombas pousaram na Praça Marechal Floriano, em frente foi construída a catedral, na colina mais alta que marca o ponto zero da construção da cidade.

Ponta Grossa nos anos 1909. Foto: acervo da cidade.
O historiador, Edson Silva, afirma que quando foi construída a catedral Sant’Ana, a capela Santa Bárbara já existia. “Na realidade, foi a dinâmica de circulação das tropas que determinou em que local surgiria o povoado”, explica. Para o professor, o momento que determinou Ponta Grossa como município foi, na realidade, a chegada da ferrovia. “Os trens conectam a cidade com o restante do Estado, transformando-a em um centro urbano e comercial importante na região”, indica.
O ex-maquinista, Marcelo Rocha, trabalhou por 29 anos na ferrovia de Ponta Grossa, antes na ALL (América Latina Logística, que encerrou as atividades em 2015) e na empresa que atualmente está liderando a malha ferroviária da cidade, Rumo Logística. “Sempre foi um trabalho difícil, sem hora certa para dormir ou acordar, todos os maquinistas que trabalhavam comigo tomavam remédio para dormir, eu também tomava, mas agora que aposentei estou tentando acabar com esse vício”, relata. Ele fala como a profissão foi se desvalorizando com o tempo. “Antes tínhamos aposentadoria especial por conta do barulho dos trens, hoje já não existe mais, porém não quer dizer que todos não existam outros agravantes na profissão”, denuncia. A falta de um ciclo de sono adequado, o trabalho em turnos, afeta a saúde dos trabalhadores, causando estresse e depressão.
“Quando eu entrei na ferrovia já existia um preconceito sobre os maquinistas, hoje em dia não acredito que tenha mudado muito”, lamenta. Marcelo relembra a importância dos trens para o desenvolvimento da cidade e afirma que mesmo com as dificuldades, amava o que fazia. “Nunca me vi trabalhando com mais nada, conduzir um trem é uma sensação sem igual”, finaliza.
Esta reportagem integra uma coletânea de livro-reportagem investigativo. Este capítulo trata dos traços visíveis na arquitetura de Ponta Grossa. Acompanhe no Periódico as próximas publicações.
Ficha técnica
Produção: Ester Roloff
Edição e publicação: Amanda Stafin e Eloise da Silva
Supervisão de produção: Hendryo André
Supervisão e publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado
