Do preto e branco da fotografia às lembranças vivas do egresso de jornalismo Emildo Coutinho

Algumas lembranças da vida universitária se tornam tatuagens na memória, impossíveis de apagar. Para Emildo Coutinho, algumas recordações do tempo de faculdade se misturam com o cheiro característico dos produtos químicos usados para revelar fotos. Coutinho relembra com carinho suas vivências. Para ele, estar no laboratório de fotografia, acompanhando cada imagem surgir no papel em preto e branco, foi uma das experiências mais marcantes da sua vida acadêmica. “Nós fotografamos intensamente e revelamos nossas fotos no laboratório, isso pra mim foi inesquecível”, conta.

Mas nem tudo se resume  apenas às câmeras fotográficas. O curso de Jornalismo da UEPG foi, para ele, um espaço de descobertas. A trajetória de Emildo durante a graduação foi marcada também pela timidez, pela ingenuidade e por um processo de amadurecimento lento. Ele reconhece que não aproveitou tudo o que poderia. Era criativo e se destacava nos trabalhos em grupo, mas tinha dificuldade em se expor. “Eu não soltava a voz, não ia pra frente da câmera, ficava só ali nos bastidores”, conta. Rádio e TV pareciam lugares que Coutinho não se encaixava, enquanto o jornal-laboratório Extra Pauta lhe oferecia aprendizados. Ali, produziu matérias extensas.

A experiência universitária foi, para ele, uma mistura de descobertas culturais, encontros inesquecíveis e aventuras quase improváveis. Um dos episódios marcantes aconteceu quando, junto a colegas, decidiu ir até Florianópolis participar de um simpósio de comunicação. Sem dinheiro para a viagem, atravessou estradas de carona, vivendo dias que hoje descreve como pura ousadia juvenil. Voltou de ônibus, carregando histórias que se somaram à memória afetiva da turma de 1992, conhecida pela irreverência e pelo espírito inventivo. Não à toa, produziram até fanzines que geraram sindicância, fruto da ousadia e também da irresponsabilidade típica da juventude.

Entre os professores que passaram pelo curso, para ele, alguns se tornaram referências. As teorias de João Soma pareciam complicadas demais, mas o tempo o ajudou a compreender. Ivana Chemin Branco  com seu jeito didático de escrever no quadro. Lair era professor das aulas de rádio, a risada ainda era lembrança viva. Elcio Faxina, nas aulas de fotografia, foi quem deixou uma marca definitiva. Houve também encontros e amizade inesperada com o  professor que primeiro o reprovou na matéria e depois virou amigo próximo, com quem conversava sobre música e literatura.

A escrita foi seu caminho natural. Fez freelancer para a Folha de Londrina e para revistas de economia. Ainda assim, perto de se formar, sentiu-se perdido. Questionava se realmente era jornalista, vivia ansioso e inseguro. O mercado não foi fácil: passou por diferentes jornais, enfrentou frustrações, como quando via ideias suas aparecerem em grandes revistas sem o devido crédito. Dessa experiência, ficou a lição de que o jornalismo exige mais do que dedicação, é preciso ter malícia e atenção.

O tempo também lhe deu maturidade. Suas reflexões sobre o curso e a profissão acabaram virando literatura. Anos depois, escreveu um livro sobre a frustração com o jornalismo, fruto de sua dissertação de mestrado. “Fiz coisa legal, mas é uma profissão que exige estar antenado, esperto”, resume.

Hoje aos 57 anos, ao olhar para trás, Emildo lembra com carinho dos amigos, dos professores e dos sonhos daquela época. A faculdade foi palco de erros e acertos, mas também de crescimento. Mais do que técnicas e teorias, o que ficou foi o olhar sensível para as histórias e a lembrança do preto e branco revelado em laboratório: uma comparação da sua trajetória: simples, mas ainda assim, carregada de sentido.

 

Ficha técnica

Produção: Amanda Stafin

Edição: Amanda Grzbielucka

Revisão: Diego Santana e Luiz Cruz

Supervisão de produção: Aline Rosso

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Kossar

Skip to content