A arte de informar com desenhos: dos traços á trajetória do cartunista Alberto Benett

 

Formado em Jornalismo pela UEPG, Alberto Bennet divide seu trabalho entre a Folha de S.Paulo, a revista Piauí e o jornal independente Plural. 

Foto: Arquivo pessoal.

Desde criança, Alberto Benett sempre desenhou, influência do irmão e do avô, que também cultivavam a arte de desenhar. Logo cedo, porém, percebeu que seus traços eram diferentes das obras tradicionais que observava, seus esboços eram mais soltos e ‘rabiscados’. “Um dia eu descobri o tipo de desenho que eu queria fazer numa revista que eu encontrei no Sebo de Ponta Grossa, onde tinham cartunistas como Arnaldo Angeli e Ziraldo Alves, e ali eu descobri o meu nicho”, relembra. Seus desenhos têm um estilo mais despojado e autoral, utilizando do humor crítico.

  Alberto decidiu estudar jornalismo após ser demitido do Jornal da Manhã de Ponta Grossa, onde trabalhava como cartunista, em 1995, depois de fazer publicações que o jornal não concordava. “Eu pensei que a melhor maneira de voltar para o jornal era estudando jornalismo, onde aprenderia o que poderia, e o que não poderia publicar, descobrindo o limite dos meus desenhos”. Durante o curso, o principal produto jornalístico estudantil da época era o Foca Livre. Na época, Alberto insistiu com a professora para ser responsável pelo espaço dedicado aos cartuns no jornal. Durante os quatro anos do curso, se dedicou ao máximo para se tornar cartunista.

Foto tirada do cartunista em momento de descontração da época em que cursava jornalismo

Foto: Arquivo pessoal

Embora admita que não era um aluno brilhante em áreas como fotografia, vídeo ou reportagem, ele apreciava a escrita e, especialmente, as discussões sobre ética no jornalismo. “Eu tenho que admitir que eu era meio que um desastre nas matérias, mas gostava do universo do curso e das pessoas que circulavam por ele”, relembra. Orgulha-se de ter sido vice-presidente do centro acadêmico e de ter trazido a cartunista Laerte Coutinho para uma palestra na universidade. Em uma ocasião, foi processado pelo prefeito da cidade devido a uma exposição de desenhos, o que mobilizou o curso em sua defesa, um momento que ele relata ter ficado marcado em sua memória.

No último ano do curso de jornalismo, Alberto foi contratado pelo Diário dos Campos como cartunista, mas em pouco tempo saiu do jornal e mudou-se para Curitiba para  começar a trabalhar na Gazeta do Povo. Em 2007, passou a colaborar com a  Folha de S.Paulo, onde mais tarde foi efetivado. Alé  de colaborar com a revista Piauí, desde 2021. Atualmente, mantém esses três trabalhos e atribui ao curso de jornalismo o entendimento aprofundado sobre o funcionamento da imprensa, algo que se mostrou essencial durante sua carreira. 

Seu principal projeto atualmente é o Plural, jornal independente de Curitiba, que   Alberto ajudou a fundar em 2019. Apesar de relatar dificuldades financeiras e uma luta constante por recursos, ele mantém a esperança de que o jornal cresça e se expanda para outras cidades. Além disso, tem um projeto de desenho animado em andamento, embora a captação de financiamento ainda seja um desafio. 

Imagem de Alberto no período em que fazia jornalismo

Foto: Arquivo pessoal

 

Alberto defende que o cartum é intrínseco ao jornalismo, atuando como uma crônica gráfica das notícias diárias e das discussões sociais. “A charge é um produto das notícias diárias, pautada pelas discussões, ela surge dentro do jornalismo, nas redações de jornal”, explica. Ele lembra que no passado, grandes jornais, como a Gazeta do Povo, empregavam vários chargistas, o que não acontece mais. Com isso, Alberto observa uma desvalorização do cartum nos jornais impressos, o que ele atribui à transformação geral da imprensa, que hoje foca mais em plataformas digitais. Por outro lado, essa mudança trouxe autonomia aos cartunistas, que agora podem publicar diretamente nas redes sociais sem depender dos veículos de comunicação.

Na internet, os cartuns muitas vezes se afastam  das discussões dos jornais e são frequentemente mal interpretados ou tirados de contexto. Benett aprendeu a não ler comentários para não se abalar, embora admita que, no início, isso o deixava “doente”. Embora o trabalho com política e as redes sociais possam ser exaustivos devido à agressividade e ao ódio, ele sente o dever de continuar usando o cartum para comentar sobre questões importantes e não se calar diante de absurdos.

Ficha técnica

Produção: Ester Roloff

Edição: Emanuely de Almeida e Fabricio Zvir

Publicação: Juliana Emelly

Revisão: Julia de Almeida

Supervisão de produção: Aline Rosso

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