Entre o texto e a TV: a trajetória de Nelson André de Russi da UEPG às grandes redações

Ainda que sua carreira tenha se consolidado diante das câmeras, foi no silêncio dos livros e do texto jornalístico que Nelson André de Russi encontrou a verdadeira satisfação pessoal . Integrante da quinta turma de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), ele descobriu cedo que o texto era mais do que uma ferramenta de trabalho: era a essência do que entendia por jornalismo. “Para mim, o texto é a base do bom jornalismo”, recorda.

Na época em que o curso era vespertino , Nelson preenchia as manhãs frequentando a biblioteca. Mergulhava em jornais como Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo, enquanto criava, com colegas, publicações independentes que davam corpo à inquietação estudantil. “A gente criou alguns jornais dentro desse período, como o Trabuco, e todo esse processo foi algo que fez parte do curso, muito além das aulas”, lembra.

O ambiente acadêmico, limitado em recursos técnicos, abriu espaço para outro tipo de formação. Faltavam equipamentos, mas sobravam debates e leituras. Nelson destaca disciplinas como Técnicas de Redação, Teoria da Comunicação, Estética e Comunicação e Literatura e Comunicação, além do contato com a Escola de Frankfurt, que ajudaram a consolidar o olhar crítico sobre o mundo. A vivência se fortaleceu também no centro acadêmico, onde atuou na área cultural. Ali, descobriu que ser jornalista não era apenas dominar técnicas, mas também assumir uma posição diante da sociedade.

Essa consciência se fortaleceu em momentos decisivos. Um deles foi a paralisação do curso, organizada pelos estudantes para reivindicar equipamentos ao telejornalismo . Outro episódio aconteceu quando universitários do Paraná se mobilizaram contra a tentativa de retirada da autonomia universitária. “O jornalista não está acima do cidadão. Ele faz parte dessa sociedade”, afirma Nelson ao refletir sobre como essas experiências ajudaram a moldar sua postura profissional.

Ao contrário de muitos colegas que sonhavam trabalhar em emissoras de televisão, Nelson sempre almejou o jornalismo impresso. Seus ídolos eram escritores e jornalistas de texto. No entanto, após um breve período em jornais do interior do Paraná, a televisão se impôs como caminho. Um convite inesperado e a necessidade de estabilidade financeira o levaram para o telejornalismo. “Eu acabei indo. A televisão pagava mais, um amigo me convidou, eu decidi ficar e permaneci por anos e anos”, conta.

De Varginha a Curitiba, passando por Foz do Iguaçu, Santos e São Paulo, Nelson construiu uma carreira de quase três décadas em frente e atrás das câmeras, com passagens por emissoras como a Rede Globo, GloboNews e CNN Brasil. Tornou-se editor de texto, função que ainda hoje exerce com a mesma exigência de qualidade que descobriu nos anos de faculdade.

Apesar da rotina intensa na televisão, nunca abandonou a paixão pela literatura. Fez mestrado em História e manteve o hábito da leitura como pilar da vida. “Os livros são as coisas mais importantes do mundo”, opina.  Ao rememorar a formação universitária, reconhece que a prática jornalística foi entendida depois, mas a base teórica e crítica vinda da UEPG continua sendo a maior referência.

Entre livros, jornais estudantis, paralisações e debates, Nelson de Russi construiu uma história que mostra como a Universidade é mais do que sala de aula, é um espaço de formação intelectual, política e humana. Mesmo que o destino tenha sido a televisão, seu percurso nunca deixou de ser guiado pela paixão pelo  texto, aquele território silencioso onde ele ainda encontra a essência do jornalismo.

Nelson durante a graduação em Jornalismo na UEPG, nos anos 1980, período marcado por jornais estudantis, debates e mobilizações acadêmicas.
Foto: Nelson André de Russi

Ficha técnica

Produção: João Fogaça

Edição e publicação: Sabrina Waselcoski

Supervisão de produção: Aline Rosso

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Kossar Furtado

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