Quatro décadas de dedicação ao esporte: a história de João Heraldo Tramontin

O atleta reúne uma coleção de aproximadamente 400 troféus. Foto Maria Cecília Mascarenhas.

 

O paranaense que levou o Brasil ao top 10 do tênis mundial

Cheio de energia e disposição, é a paixão pelo tênis que mantém João Heraldo Tramontin em movimento. O jogador defende o Brasil nas quadras há quatro décadas. E o resultado é facilmente perceptível ao lhe fazer uma breve visita: entre as prateleiras e estantes de sua casa é possível encontrar troféus e medalhas que trazem consigo um valor sentimental inestimável. 

Movido pelo esporte, João reúne uma coleção de quase 450 troféus para chamar de seus. Entre eles, estão as memórias de conquistas municipais, estaduais, nacionais e internacionais, além de ter alcançado a oitava posição no ranking dos dez melhores tenistas do mundo. 

 

A primeira experiência do atleta em quadras internacionais aconteceu na cidade de Johanesburgo, na África do Sul. Foto: Maria Cecília Mascarenhas.

 

Para ele, os troféus representam mais do que vitórias. Neles estão lembranças das amizades, locais e vivências alcançadas por meio do tênis, mostrando que os sucessos de um atleta vão muito além de suas conquistas em quadra. 

A infância no interior

Nascido na cidade de Ipiranga, em 1946, e descendente de imigrantes italianos, João levou uma infância tranquila entre os afazeres do campo, da escola e a diversão com amigos. Seu pai, Augusto Tramontin, exercia a função de lavrador nas terras do avô, onde toda a família morava. Enquanto a mãe, Maria Eugenia Tramontin, trabalhava como professora primária. 

 A vida no campo era simples e agradável, e os alimentos para consumo e comércio eram produzidos nas terras da família. As plantações de milho, feijão, mandioca e até mesmo uva para produção de vinho fazem parte do cenário da infância de João Heraldo. “Eu recordo muito bem que na época da geada o meu pai começava cedo a colheita do milho. Quando chegava por volta das dez horas, o meu corpo estava todo molhado, quase até a garganta. O sol ia desmanchando o gelo e minha roupa ficava encharcada “, relembra. 

O cenário de sua casa também se mantém vivo na memória, como se ainda frequentasse o mesmo local. “Onde morávamos existiam três paióis. O do meio era o mais luxuoso. A casa era grande, as camas eram de palha e tinham um lençol por cima. A cozinha era de chão batido e o fogão de trempe”, detalha. A carne era resultado da criação de porcos que também acontecia nas terras da família. “Nós fazíamos a banha do porco e armazenávamos em latas. Essa era a geladeira da nossa carne naquela época”, lembra.

Aos 7 anos de idade, iniciou sua vida estudantil na Escola Estadual Doutor Claudino dos Santos. Ele recorda que no período o colégio possuía apenas quatro salas, e a disciplina que mais chamava sua atenção nos estudos era a Matemática. 

O encontro de um novo lar

Em 1965, João Heraldo mudou-se para a cidade de Ponta Grossa, com o objetivo de servir ao Exército Brasileiro. No mesmo ano, iniciou seus estudos no Colégio Comercial, onde formou-se em Contabilidade. Para conciliar os estudos e o serviço militar, contou com a ajuda de colegas, que lhe passavam os conteúdos das aulas, as quais algumas vezes acabava perdendo durante o período de treinamento militar. 

Ao término de sua carreira militar e dos estudos no Colégio Comercial, João trabalhou na áreas de vendas e almoxarifado, até alcançar uma função como contador. Logo, surgiu o desejo de formar-se na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ponta Grossa, a atual Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). “Quando eu estava em Ipiranga, minha principal intenção era ser dentista. Mas quando cheguei em Ponta Grossa, duas situações me levaram a não estudar Odontologia: a primeira era que o curso era diurno e eu precisava trabalhar, e a segunda era o custo alto para cursá-lo, considerando que meus pais não tinham condições de me sustentar”. A partir disso, surgiu a Geografia na vida de Heraldo.

Entre os livros e os mapas, surge o amor 

Estudante de Pedagogia, também na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ponta Grossa, Lucília Ester Tramontin conheceu Heraldo durante uma viagem organizada por professores da universidade. Mas foi durante o desfile de Sete de Setembro que o casal iniciou o namoro, um relacionamento de companheirismo que, até hoje, é essencial nas conquistas do tenista.

Lucília é uma verdadeira incentivadora de Heraldo nas quadras. Foto: Maria Cecília Mascarenhas.

 

Três anos de namoro, 54 de casamento e uma família com quatro filhos e oito netos são os resultados deste amor duradouro, que nos anos 70 já encantava os amigos do casal. “As minhas colegas ficavam na janela, e sempre que viam o Heraldo chegar na faculdade elas me avisavam: ‘Lucília, o Tramontin está chegando’” ela descreve.

A vida depois da faculdade

Em 1971, João Heraldo concluiu a licenciatura em Geografia, iniciando a carreira como professor. Do ano de 1973 a 1994 (ano de sua aposentadoria como professor), lecionou no Colégio Estadual Professor Colares, na cidade de Ponta Grossa.

Além do trabalho na docência, Heraldo nunca deixou de exercer aquilo que havia aprendido no Colégio Comercial. Em 1973, comprou a empresa Guaíra Lava Jato, sendo o primeiro a trazer um empreendimento de limpeza para a cidade de Ponta Grossa e região. “Eu trabalhava de domingo a domingo. Foi a Guaíra que me deu todas as condições que tenho hoje”.

O amor pelo tênis

 Contrariando a maioria das histórias de superação no esporte, João Heraldo Tramontin não conheceu o tênis na juventude. Foi apenas aos 33 anos, em 1979, que o tenista descobriu a paixão por esse esporte. “O tênis na realidade começou quando minha esposa foi fazer o mestrado em Bauru. Eu como professor e empresário tirei minhas férias para acompanhar ela”, relata. “Em Bauru, encontrei alguns estudantes que queriam mais parceiros para jogar futebol. Assim que terminou a partida, eles me perguntaram se eu queria jogar tênis. Eu pensei: ‘Como jogar tênis? Eu não tenho nada, nunca joguei’. Ali me incentivou, abriu a minha cabeça para a prática do esporte”. 

João Heraldo relata que ao retornar da cidade de Bauru se associou ao Clube Ponta Lagoa. Comprou um livro sobre tênis e de forma autodidata aprendeu as formas de se posicionar na quadra, as técnicas em geral e iniciou seus primeiros treinos.

No mesmo ano, disputou seu primeiro torneio no Ponta Lagoa. “Eu ganhei todos os jogos. Não sei como, mas consegui ganhar na raça. Tenho a lembrança de um colega que me escreveu em uma bolinha: ‘De um invicto para um campeão’. É uma recordação que guardo entre meus troféus”.

O primeiro campeonato disputado por João Heraldo aconteceu no Clube Ponta Lagoa em 1979. O atleta foi o campeão de sua categoria. Na imagem, é possível observar o presente de seu colega e o troféu do campeonato. Foto: Maria Cecília Mascarenhas.

 

Heraldo se apaixonou pelo tênis. Passou a treinar e se dedicar cada vez mais ao esporte. E de vitória em vitória, conquistou incontáveis prêmios estaduais, sete brasileiros, um sul-americano e realizou o desejo de conhecer aproximadamente 65 países, a maioria deles devido às disputas dos campeonatos internacionais de tênis.

Em 2016, uma experiência marcou a vida do atleta: a participação como voluntário nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro simbolizou a oportunidade de estar com muitos outros esportistas e trocar vivências e saberes. 

Em 2022, aos 76 anos, João Heraldo conquistou a oitava posição no ranking dos dez melhores tenistas do mundo, na categoria 75 anos, o top 10 da International Tennis Federation (ITF). Além dessa conquista, o atleta reúne outras homenagens e títulos concedidos pela Federação Nacional do Atleta Sênior de Tênis (FENASET) e outras instituições ligadas ao esporte. 

Um orgulho local

Por mais que não tenha nascido na cidade de Ponta Grossa, João Heraldo decidiu fincar suas raízes e construir sua história no município. A cidade, em compensação, também reconhece o tenista como um orgulho local.  Em setembro de 2025, em meio às comemorações de 202 anos da cidade, o professor e tenista foi escolhido para receber o título de cidadão honorário de Ponta Grossa.

A cerimônia que concedeu à João Heraldo Tramontin o título de cidadão honorário ocorreu no dia 16 de setembro de 2025. Foto: Maria Cecília Mascarenhas.

 

João Heraldo, com muito orgulho da trajetória que traçou até aqui, comenta que não irá parar e que ainda deseja preencher suas prateleiras com mais troféus. 

Ficha técnica

Produção: Maria Cecília Mascarenhas

Edição e publicação: Gabrieli Mendes

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Kossar Furtado.

 

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