A maquiagem como um ato de expressão e identidade

Indústria incorpora elementos de autoaceitação na busca de trazer valorização e autoestima 

A maquiagem é cada vez mais reconhecida como instrumento de expressão, seja ela de gênero, ou nos aspectos culturais e pessoais.  O mercado da beleza passou por uma revolução inclusiva, com  investimentos em linhas de cosméticos,  oferecendo mais opções de tons de base para diferentes peles, produtos sem distinção de gênero e campanhas com rostos antes ignorados. Homens, pessoas não binárias, drag performers, pessoas trans, negras, entre outras ocupam agora espaço fundamental nessa indústria e nas mídias digitais.  No Brasil, coletivos e artistas independentes promovem a maquiagem como arte e resistência – deixando de ocupar apenas o papel de embelezamento e passando  a desempenhar uma função mais ampla e profunda. Em contextos periféricos, ela pode ser um meio de autoestima, renda e projeção social. Em manifestações  políticas e culturais, como Paradas LGBTQIAPN+ e festivais de arte, ela assume a função simbólica e performática. 

O maquiador Willian Cabral e, também drag queen, conhecido por LILO, conta que a maquiagem vai muito além da estética. Segundo ele, ela teve papel fundamental na sua trajetória, tanto em seu crescimento pessoal, quanto profissional. “Eu me descobri como artista por meio da maquiagem. Pude me expressar como pessoa, artista e indivíduo. Ela transforma e nos faz sentir parte daquilo e, juntamente, te dá autoestima”.  

A maquiagem na percepção feminista

O uso da maquiagem sempre esteve atrelado à imposição de padrões de beleza inatingíveis. O feminismo, especialmente em eventos recentes, problematizou essas normas, como também abriu espaço para novas perspectivas  de autonomia. A prática de se maquiar deixou de ser uma obrigação imposta pela sociedade machista e passou a ocupar espaço como instrumento de expressão individual. Essa abordagem dialoga com interseccionalidades dentro do feminismo. Por exemplo, mulheres negras vem denunciando há anos a ausência de representatividade nos tons de base e batons.  Uma “falha” que as grandes marcas começaram a corrigir recentemente. A maquiagem foi vista por muito tempo como um símbolo de submissão feminina aos padrões patriarcais. Hoje é bandeira de resistência, de expressão artística e afirmação de identidade.  

A feminista Bruna Lopes explica como ela vê a maquiagem. “Acredito que não há apenas uma leitura feminista sobre a maquiagem, uma vez que são muitos os feminismos e, cada corrente traz uma leitura de mundo.” Em relação às pressões estéticas ela expressa:  “acredito que não podemos ser ingênuas, uma vez que o chamado padrão de beleza é uma forma de controle das mulheres”. Ela reforça: não é por acaso que “o chamado mercado de beleza e de autocuidado é uma grande força no Brasil. E, nesse ponto, não tenho dúvidas, quanto mais avançamos em termos de conquistas (estudos, trabalho, remuneração) maior é o peso do ideal de beleza que, entre outras ferramentas, tem na maquiagem um dos seus instrumentos”, conclui Bruna.

A maquiagem como instrumento de expressões

A maquiagem é uma poderosa forma de linguagem visual que permite às pessoas comunicarem suas emoções, contar histórias e afirmar identidades. A escolha de cores, formas e intensidade consegue transmitir mensagens não verbais e pode ser usada para expressar sentimentos que estão sendo vivenciados. A maquiadora Julia Dalzoto explica de que forma estimula seus clientes a se expressarem por meio da maquiagem. “Eu sempre converso bastante antes de começar meu atendimento. É importante entender o que a pessoa quer transmitir e como está se sentindo. Gosto de criar junto com o cliente o resultado. É normal trazerem referências. Mas eu sempre busco analisar e perguntar. O que o cliente gosta, respeitando o estilo e essência de cada um(a)”. Júlia diz “a maquiagem é um reflexo do que sentimos por dentro e queremos comunicar”. 

Em um mundo onde os padrões de beleza existem, a maquiagem segue como uma verdadeira forma de linguagem e de libertação. Seja com cores vibrantes, opacas ou traços sutis, ela continua a dizer quem somos e quem queremos ser. A maquiagem existe para destacar aquilo que já é bonito. Ela pode ser usada de toda a forma por qualquer pessoa, sem distinções. 

Ficha técnica

Produção: Larissa Oliveira 

Edição e publicação: Gabrieli Mendes 

Supervisão de produção: Hendryo André 

Supervisão e publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado

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