
O orçamento de mais de 22 milhões custeou a construção, a compra do terreno e a aquisição dos equipamentos. Foto: Amanda Los
Obras da nova unidade acumulam R$ 950 mil em custos adicionais após sucessivos atrasos no cronograma de entrega
Obras da nova unidade acumulam R$ 950 mil em custos adicionais após sucessivos atrasos no cronograma de entregaA construção da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Uvaranas, prevista para ser entregue em novembro de 2024, continua sem inauguração, apesar dos quatro aditivos contratuais já realizados. Desses aditivos somente o último elevou o custo da obra. A última alteração também estabeleceu um novo prazo de entrega da obra para o final do mês de abril, mas ainda será necessário tempo para organizar a administração da unidade, alocar servidores e verificar os equipamentos. Até o momento, a UPA permanece fechada, e a população da região segue sem atendimento. O projeto, que originalmente tinha um orçamento de mais de 22 milhões de reais, teve aumento devido ao quarto aditivo.
A quarta alteração, assinada no dia 31 de março, resultou em um acréscimo de R$ 950 mil ao custo total da obra. Esse aumento se soma a outros três aditivos anteriores, que já haviam prorrogado o prazo de entrega previsto no cronograma inicial. Ao ser questionada, a prefeitura não detalhou os valores adicionais gerados pelas alterações no contrato original. “O investimento robusto feito na obra é resultado da gestão eficiente dos recursos públicos, ampliando de forma significativa a capacidade de atendimento na área de urgência e emergência em Ponta Grossa”, alega a Fundação Municipal de Saúde em nota.
Para o funcionamento adequado da UPA, serão necessários mensalmente R$ 1 milhão e 600 mil dos cofres públicos da cidade. A unidade funcionará inicialmente como uma unidade de pronto atendimento municipal, sem credenciamento junto ao Ministério da Saúde. Isso significa que a prefeitura será a única responsável pelo financiamento da unidade, já que não há repasse de subsídios federais. Após um período de funcionamento, a gestão municipal poderá solicitar o credenciamento federal para a unidade. Por ora, a UPA receberá apenas recursos da verba já destinada à saúde do município
O Conselho Municipal de Saúde (CMS) solicitou, ainda em 2023, uma série de documentos para garantir que a construção da unidade atendesse às normas e diretrizes exigidas. No entanto, a falta de registros, como a inclusão da obra no orçamento municipal e no Plano Anual de Saúde, levou o CMS a desaprovar o projeto e o andamento da construção em 2024. A regularização ocorreu apenas em 2025, quando os documentos pendentes foram finalmente apresentados pela prefeitura. “O conselho não era contra a abertura da UPA, mas era preciso garantir a conformidade com as normas”, afirma Jefferson Palhão, presidente do CMS.
De acordo com a Fundação Municipal de Saúde, a UPA de Uvaranas está “em reta final de obras” e a previsão é que a unidade atenda, em breve, cerca de 100 mil moradores das regiões de Uvaranas, Cará-Cará, Neves e Itaiacoca, além da população que vive em outros bairros. A unidade será a terceira UPA 24 horas da cidade, oferecendo serviços de urgência e emergência para uma população crescente.
A atenção primária em Ponta Grossa, fornecida nos postos de saúde convencionais, ainda enfrenta problemas, como a fila e a demora no agendamento de consultas e exames. Como resultado, muitos pacientes acabam buscando as UPAs para problemas que poderiam ser resolvidos na atenção básica. Esse encaminhamento inadequado sobrecarrega as unidades de emergência e compromete o atendimento. “Se a atenção primária não for resolvida, não adianta abrir mais UPAs, elas continuarão superlotadas”, alerta o conselheiro.
A prefeitura não especificou se foram adotadas medidas temporárias para atender a população de Uvaranas e regiões vizinhas durante esse período de espera. Apesar da Fundação Municipal de Saúde afirmar que a gestão dos recursos públicos está sendo eficiente, o aumento dos custos e os contínuos atrasos geram questionamentos não só sobre a execução do projeto, mas também sobre a capacidade do município em assegurar a qualidade e a estrutura adequada nos serviços essenciais de saúde.
Esta reportagem integra uma coletânea de livro-reportagem investigativo. Este capítulo investiga a gestão da administração pública em Ponta Grossa, com foco em saúde. Acompanhe no Periódico as próximas publicações.
Ficha técnica
Produção: Eduarda Gomes
Edição e publicação: Amanda Grzebielucka
Supervisão de produção: Hendryo Andre
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado