Apaixonados por carros antigos preservam a história automotiva na cidade

Chevette atravessa épocas e continua sendo procurado por apaixonados por carros antigos. Foto: Fernanda Matos 

Em meio à modernização, os carros novos, silenciosos, sem detalhes chamativos e até mesmo os elétricos e híbridos  fazem parte do cotidiano ponta-grossense. Mas, os antigos ainda resistem ao tempo e revelam histórias que vão além de sua época. As relíquias automotivas continuam a circular e chamar a atenção na cidade. Muitos deles atraem o olhar por causa das cores, detalhes  na lataria e rodas ou em razão do forte ronco dos motores. Representam um resgate afetivo e cultural do passado da cidade. 

Os automóveis vintages estão presentes em acervos de colecionadores, na vida de quem os comprou como primeiro carro ou mesmo recebeu de herança familiar. Independentemente da forma como se adquire uma raridade, o cuidado para manter os carros faz parte da vida dos donos. 

Um Opala Comodoro de cor preta, ano 1982, desfila pelas ruas de Ponta Grossa. O proprietário Kennedy Souza trabalha no ramo automotivo e realiza as próprias manutenções no veículo.  A paixão por carros é de família e cresceu com ele. “Eu gosto desde criança. Meu primeiro veículo foi um Chevette. Logo depois mudei para o Opala que era do meu pai.” Ele gosta de olhar os clássicos para ter como inspiração e para fazer possíveis modificações no seu automóvel. 

O processo de restaurar por completo e mudar algumas especificações no veículo ou o de conservar características originais não são uma regra. Há pessoas que gostam de modificações e outras que preferem manter o que veio da fábrica. Vilmar Teixeira Junior, dono de um Chevette DL, ano 1992, afirma que deixou o carro do jeito que queria. “Ele está com um motor 1.8 do Astra, 235 cavalos, turbinado, com caixa do Omega, e rodas aro 17.” Está há cinco anos com o carro e a preparação realizada é documentada. 

Chevette DL tem características marcantes para o dono. Foto: Fernanda Matos

O clássico Fusca também chama atenção dos amantes de automóveis. Lucas Freitas é proprietário de um do ano de 1980 e conta o que já mudou nele. “Foi colocado silenciador para não fazer muito barulho, rodas novas, estofado do Ônix, além da cor que passou para um verde fosco.”

Para Diego Carvalho, que é dono de um Chevette há 21 anos, e também tem uma Caravan e um Galaxie Landau, que comprou em 2023, o importante é que os veículos tenham personalidade. Ele trabalha como avaliador em uma concessionária da cidade e, também, numa oficina de restauração de antigos. Explica que existem algumas recomendações essenciais para conservar esses automóveis, o que envolve várias etapas com a finalidade de garantir a identidade histórica e a funcionalidade do carro. “Trocar óleo, filtro, fazer limpeza do carburador, inspecionar a suspensão, verificar o freio e a lataria são alguns dos cuidados.” Segundo ele, não é recomendado usar esses veículos todos os dias, pois, além dos altos custos com combustível, é preciso levar em conta o trânsito e a mobilidade urbana, com os riscos de bater e, também, em razão da dificuldade de encontrar peças para conserto. 

Raridades têm detalhes únicos que os diferenciam dos carros modernos. Foto: Fernanda Matos 

A paixão faz com que os donos desses carros se ajudem entre si ou compartilhem experiências e aprendizados. “A gente cria amizade com mecânico, guincheiro, e com pessoas que lidam com os antigos, criando maneiras de se ajudar”, observa Carvalho. O amor por este tipo de automóvel pode ser passado de geração em geração. Elaine Klimiont Becher tem um Opala SL, ano 1992, e diz que o carro faz parte da história da família. O marido dela, Peters Becher, também tem um do ano 1974 e a filha possui um Comodoro 1980. O fascínio por antigos também faz parte da vida da caçula do casal, que é quem cuida da Caravan que já é deles há 23 anos. 

A presença de mulheres no mundo dos carros também é grande, mesmo que a cena pareça dominantemente masculina. Elaine conta que adquiriu o seu em 2016, em Curitiba, de um senhor que morava em apartamento e não tinha muito espaço para guardá-lo. Ela o encontrou com apenas 64.000 km rodados e tem uma história com ele que a marcou muito. “Eu e minhas filhas fizemos uma viagem para o Autódromo de Interlagos para participar de um desfile apenas para mulheres opaleiras antes da largada da Old Stock.” Ela afirma que sempre foi respeitada por ser mulher e gostar de carros. Para ela, ocupar esse espaço é uma paixão, ao mesmo tempo que é uma afirmação de que é possível pertencer a esse lugar como qualquer outra pessoa. “É saber que as meninas podem pilotar um carro antigo ou até mesmo um de corrida. Para as mulheres que amam esse universo, é necessário que a competência seja vista antes do gênero.”

A valorização dos antigos resulta em muitas lembranças, curiosidades, relatos e aspectos culturais, além  da representatividade feminina junto ao mundo automotivo. Há encontros de colecionadores e de veículos, itens personalizados que os tornam diferentes, a placa preta que atesta a originalidade do carro ou os clubes autenticados que mantêm a tradição. Cada ação e cuidados em relação a um veículo antigo é uma forma de preservar a cultura automobilística e suas próprias histórias, o que de maneira geral atrai a atenção das pessoas. 

Eventos automotivos e de exposições colaboram para que mais pessoas se interessem por carros antigos. Foto: Fernanda Matos

Reconhecimento histórico das placas pretas 

Alguns donos de carros antigos optam por trocar a placa original pela de cor preta, a fim de mostrar a originalidade e o valor histórico de seu clássico. 

Para o proprietário de um veículo que deseja ter um carro com a famosa placa, existem alguns requisitos a serem seguidos. De acordo com o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran/PR), para alterar os veículos para nomeá-los como de “coleção”, o automóvel deve ter mais de 30 anos de fabricação, possuir pelo menos 80% das características originais, estar em um bom estado de conservação, ter valor histórico próprio, e obter Certificado de Veículo de Coleção – CVCOL. Para que seja possível obter o Certificado de Originalidade é necessário levar o antigo para fazer vistoria em uma das instituições credenciadas pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). 

Após o processo finalizado pelo departamento, o proprietário deve procurar uma estampadora de placas para confeccioná-la quando converter para a do Mercosul, obrigatória no Brasil após a transferência.  

Ficha técnica

Produção: Fernanda Matos

Edição e publicação: Julia Almeida e Amanda Grzebielucka 

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Kossar Furtado

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