Aumento da tarifa de ônibus preocupa moradores de Ponta Grossa

Pontos de ônibus sem estrutura adequada é um dos desafios enfrentados pela população / Foto: Gabriele Proença

A tarifa do transporte coletivo em Ponta Grossa passou por um reajuste de R$ 1,00 em 1º de agosto. Anteriormente, o valor cobrado por viagem era de R$ 4,00, em razão de um subsídio parcial pago pela prefeitura e repassado para a Viação Campos Gerais (VCG), empresa responsável pela operação do transporte coletivo. No entanto, segundo a prefeita, Elizabeth Schmidt, os cofres públicos já não têm condições de arcar com esse custo.

Contradições na gestão e destino dos recursos públicos

De acordo com a prefeitura, o principal motivo para o aumento é a necessidade de renovação da frota da VCG. Os ônibus atuais são antigos e frequentemente alvo de reclamações por parte dos usuários. Apesar disso, o contrato com a VCG foi prorrogado três vezes desde junho de 2023, quando deveria ter sido encerrado, sem a realização de uma nova licitação.

A justificativa para o aumento contrasta com decisões da própria prefeitura. Em 2023, a gestão municipal enviou à Câmara de Vereadores um projeto para viabilizar o subsídio ao transporte coletivo, aprovado com a promessa de manter a tarifa em R$4,00 e promover melhorias no serviço. Foram liberados R$ 26 milhões para 2023 e R$ 28 milhões para 2024, totalizando R$ 54 milhões destinados à VCG. Ainda assim, a prefeita afirma que os cofres públicos não suportam mais essa despesa.
Além disso, a prefeitura prorrogou o contrato com a VCG três vezes desde junho de 2023, mesmo após o prazo final do vínculo e sem realizar nova licitação. A prorrogação mais recente, firmada em abril de 2025, estende a concessão até junho de 2026.

Posicionamento da administração municipal

No período anterior ao aumento, a reportagem entrou em contato com a prefeitura, solicitando esclarecimentos sobre a implementação do aumento, os critérios técnicos e financeiros que fundamentaram a resolução, a mudança de posicionamento em relação ao subsídio aprovado em 2023 e como os recursos arrecadados serão aplicados. Inicialmente, não houve retorno. Após novo contato, a assessoria de comunicação respondeu que “não há qualquer decisão relacionada a reajuste da tarifa do transporte coletivo”.

A resposta, no entanto, contraria a declaração da prefeita Elizabeth Schmidt, que afirmou em entrevista à rádio Jovem Pan que a tarifa aumentaria nos próximos meses. Diante da contradição entre a fala da gestora municipal e a nota da assessoria, a reportagem solicitou novo posicionamento, questionando se houve antecipação por parte da prefeita de uma decisão ainda não formalizada ou erro na resposta institucional. Até o fechamento desta matéria, não houve novo retorno da administração municipal.

Reajuste compromete o orçamento da população

Usuários frequentes do transporte público demonstram preocupação com o impacto financeiro da nova tarifa. Ana Amaral, moradora da Vila Romana, utiliza o ônibus diariamente para ir e voltar do trabalho. Embora o valor da passagem seja descontado diretamente do vale-transporte, ela ressalta que o reajuste reduz o que recebe como salário líquido. “No fim do mês, tudo conta. Vamos pagar mais por um serviço que não entrega o que promete”, critica Ana. Ela aponta a falta de melhorias no sistema e questiona a decisão da Prefeitura: “Há muito tempo não vemos mudanças significativas nas linhas. Aumentar a passagem pra quê?”.

Walter Nascimento, estudante universitário, também depende do transporte coletivo diariamente e considera o reajuste abusivo. “Já achava 4 reais um valor alto, agora sendo 5 reais é um absurdo”, comenta. Ele calcula que, com a nova tarifa, gastará cerca de R$ 300 por mês apenas com deslocamentos. “São 10 reais por dia só para ir e voltar. Isso afeta drasticamente o meu orçamento”, completa.

Falta de melhorias reforça a insatisfação dos usuários

As críticas dos passageiros não se limitam ao valor da tarifa. A qualidade do serviço prestado pela VCG é um dos pontos mais questionados. Ana relata dificuldades nos finais de semana por morar em uma região mais afastada. “Se quero sair de casa no fim de semana, só consigo entre 7h e meio-dia ou tenho que ir até um ponto na beira da rodovia”, conta. Segundo ela, em sua vila, a linha de ônibus foi retirada e, nos horários de pico, apenas um veículo atende a região, o que causa atrasos e superlotação.

Walter também questiona a justificativa para o aumento. Ele aponta que, apesar das recentes mudanças nos cartões e nas máquinas de cobrança, a VCG não oferece serviço de qualidade que justifique o aumento. Entre as principais reivindicações dos usuários estão a ampliação da frota, mais horários disponíveis, menor tempo de espera, melhorias nos terminais e pontos de ônibus com cobertura contra sol e chuva. Além das questões estruturais, os passageiros pedem mudanças que facilitem o acesso ao transporte público. Ana ressalta que o novo sistema de bilhetagem, que restringe o pagamento ao uso de cartão, gera transtornos e falta de acessibilidade.

Esta reportagem integra uma coletânea de livro-reportagem investigativo. Este capítulo trata do transporte coletivo do município. Leia o capítulo anterior aqui.

Acompanhe no Periódico as próximas publicações.

Ficha técnica 

Texto: Eduarda Gomes

Edição e publicação: Maria Mascarenhas

Supervisão de produção: Hendryo André

Supervisão da publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado

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