Bancas de revistas, um comércio em extinção?

Cada vez menos pessoas procuram jornais e revistas impressos

Por Eder Carlos

Em meio ao barulho de carros e um cheiro que mistura o de revistas novas, jornais velhos, salgados, doces e cigarros, Francisco dos Santos, dono da Banca ZL, conta a sua história. Há 50 anos no ramo, começou na Estação Rodoviária, a antiga, antes da reforma. De lá migrou para o ponto atual, na Praça Barão do Rio Branco, em frente ao Colégio Regente Feijó.

Enquanto arruma carteiras de cigarro que foram entregues pouco antes, conta que a venda de revistas já foi o forte das bancas. Hoje, segundo ele, responde só por cerca de 20% do faturamento mensal. No Paraná, houve uma redução de 40% desses estabelecimentos nos últimos anos. A mudança nos hábitos de consumo e o avanço da digitalização são os principais responsáveis por esse cenário. Atualmente, 56% das editoras brasileiras já se consideram digitais, enquanto apenas 44% ainda têm como foco principal as edições impressas, segundo um censo da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER).

A conversa é interrompida por uma senhora que pede dois cigarros soltos. Ela paga e quando está saindo chega outra, perguntando por uma determinada marca de cigarros tamanho longo. Não tem. Agradece e segue seu caminho. Nesse meio tempo, um rapaz que chegou e entrou, pegou alguns maços de jornais velhos, vendidos para forração de gaiolas ou para outros pets. Aliás, a banca tem destacado em suas paredes a propaganda da venda de jornais para este fim.

No lado de fora, ao lado da porta, estão pendurados exemplares do Diário dos Campos e de O Estado de S. Paulo. Rubinei Carlos Souza, lê as manchetes. Ele conta que faz isto todos os dias e, quando vê algum assunto de maior interesse, compra um exemplar. Mas não diariamente. Gostaria de comprar mais, mas não tem recursos suficientes e não gosta de ler pelo celular. Acima dos jornais um poster do Operário Ferroviário, campeão estadual de 2025. Gosto de acompanhar as notícias do Fantasma, conta Rubinei.

Francisco considera que as bancas de revistas têm também um papel social. Elas servem como ponto de referência e, mais, como local de busca de informações. Muitas pessoas entram, perguntam onde é tal lugar, ou tal rua. E a gente precisa saber, diz ele. Ele lembra que há algum tempo, para ter uma banca, o proprietário precisava passar por uma espécie de curso de guia turismo, podendo assim oferecer as informações com segurança.
No canto oposto da praça está a Banca Ponto Azul, comandada por João da Banca, nome pelo qual João Conceição Santos é conhecido. Ele é o proprietário do estabelecimento desde 1982 e dirige os trabalhos com outros familiares. Seu comércio também é variado e não vive exclusivamente da venda de jornais e revistas. Além dos doces, cigarros e jornais para forração, também fornece serviço de impressão. Para ele, é preciso ter criatividade e se adaptar ao momento, ao que os clientes pedem.

Mas, ao contrário de Francisco, João diz que os periódicos representam grande parte do seu faturamento. O que vem, vende, conta. Para ele, há pouca oferta e a distribuidora, uma empresa de União da Vitória, não tem interesse em introduzir outros títulos. Ficamos à mercê da vontade da distribuidora, arremata.

A conversa com João também é interrompida por clientes, que buscam um ou outro produto. Uma das clientes era Miriam Isabela Stalschuck. De idade mais avançada, não queria comprar nada, apenas pediu informações de onde era a Rua Júlia Wanderley. Contou que vinha de outra cidade e não conhecia Ponta Grossa. João informou que era perto, umas duas ou três quadras. Mas sugeriu que Miriam tomasse um táxi do ponto, localizado defronte à banca, dizendo que custaria pouco e a deixaria exatamente onde quisesse ir. Ela aceitou o conselho. Comprovando o papel social narrado por Francisco, João da Banca diz que é assim várias vezes ao dia. As pessoas vêm pedir informações, e precisamos saber.

Tornando a falar de jornais e revistas, lembrou de quando a banca era toda tomada por eles. Quase não havia espaço para outras coisas. Umas balas, chicletes, cigarros e fósforos, recorda. Jornais eram mais de dez diários. Hoje, além dos da cidade, recebe exemplares de O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e Valor Econômico. De Curitiba não vem nada, diz ele. Comenta ainda que antes era comum as pessoas comprarem jornais e lerem nos bancos da praça ao redor. Hoje, segundo ele, a prática está quase extinta.

Há alguns anos, as bancas ofereciam entre duzentos e trezentos títulos de revistas. Hoje são pouco mais de cem. Boa parte delas de palavras cruzadas, um gênero que ainda persiste no meio físico.

O maior espaço das bancas é tomado por revistas de palavras cruzadas.

Outra cliente, Maiara Cristobal, entra, agacha-se e escolhe alguns maços de jornais para forração. Das pilhas a disposição, escolhe alguns específicos, aparentemente mais claros que os demais. Brincando, diz que seus gatos gostam de ficar bem informados.

Em todo o tempo que ficamos nas bancas, cerca de 30 a 45 minutos em cada, nenhuma pessoa chegou para comprar um jornal ou revista. Francisco e João da Banca concordam que as pessoas estão perdendo o hábito da leitura.

Ponta Grossa conta hoje com cerca de uma dezena de bancas de jornais e revistas espalhadas pela cidade. No passado, o número chegou a duas dezenas. Só na praça Barão do Rio Branco já foram quatro e três na Barão de Guaraúna. Atualmente, são duas em cada praça. A cidade também já teve sua própria distribuidora de revistas, que atendia toda a região.

Os proprietários das bancas concordam que a procura por jornais e revistas diminuiu muito com a mudança dos pontos de ônibus das praças para o Terminal Central. Com isso o número de pessoas circulando caiu sensivelmente. Com o advento da internet e a migração das mídias impressas para o meio digital, muitos preferiram deixar de comprar a revista física. Os mais jovens, segundo Francisco e João, não leem jornais ou revistas impressos. Para eles, é mais fácil abrir o celular e acessar as notícias por ali, diz Francisco.

Apesar dos novos tempos, as bancas de jornais e revistas persistem. Se adaptam aos novos tempos. Oferecem outros produtos e serviços e continuam sendo ponto de encontro para quem procura saber das novidades. Se um dia aglomeravam grande número de pessoas à sua volta, hoje sobrevivem com um número bem menor. Não há como saber por quanto tempo continuarão a existir. João da Banca e Francisco concordam que o futuro de suas bancas é incerto, mas que vão continuar trabalhando e se adaptando enquanto puderem.

Elas se adaptaram aos novos tempos: sorvetes, cigarros e até impressões são produtos oferecidos pelas bancas.

Ficha técnica

Edição e publicação: Anna Perucelli, Gabriela Denkwiski, Isabele Machado, Juliana Emelly,  Larissa Oliveira e Rafaela Conrado

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Kossar Furtado

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