Cigarros eletrônicos ganham popularidade com público mais jovem

Número de fumantes no Brasil atinge maior aumento nos índices desde 2007, segundo o Ministério da Saúde

Aqueles que cresceram na última década e acompanhavam diariamente notícias, propagandas e campanhas antifumo no Brasil inteiro, podem se deparar com uma realidade cada vez mais comum na população: o número crescente de fumantes nos últimos anos  – seja por meio da popularização dos cigarros eletrônicos, em especial entre o público mais jovem, das ações que combatem o tabagismo sendo menos implementadas ou até mesmo pelo senso comum de que há realmente mais fumantes nos lugares públicos.

Impressões à parte, uma coisa é certa: o número de fumantes no Brasil cresceu nos últimos anos. Segundo o Ministério da Saúde, via lançamento da Campanha do Dia Mundial sem Tabaco em 31 de maio, a quantidade de pessoas que fumam no Brasil cresceu 25% entre 2023 e 2024. O dado preocupa, pois a instituição não registrava um aumento nos índices desde 2007.

O Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas do Ministério da Saúde (Vigitel) destaca que o número de fumantes no Brasil em 2023 era equivalente a cerca de 9,3% entre os adultos. Já em 2024, o número saltou para 11,6%. A mesma pesquisa evidencia outro dado alarmante: 2,6% dos adultos nas capitais experimentaram cigarros eletrônicos no último ano, o maior número desde 2019.

O tabagismo é responsável por mais de 160 mil mortes por ano no Brasil. Crédito: Yasmin Taques

Cigarros eletrônicos

A comercialização, importação e propaganda do cigarro eletrônico é proibida desde 2009. Entretanto, o produto ainda consegue ser facilmente encontrado à venda, inclusive por menores de idade. Segundo dados do Ministério da Saúde, os jovens entre 15 e 24 anos são a maioria dentre os usuários deste tipo de cigarro.

Um estudo inédito da Universidade de Michigan e publicado na revista Tobacco Control indica que os adolescentes que nunca haviam experimentado cigarros eletrônicos exibiam uma chance menor que 1 em 50 de se tornarem fumantes semanais. Por outro lado, aqueles que faziam uso frequente de vapes demonstraram uma chance de quase 1 em 3 de começarem a fumar cigarros convencionais, o que equivale a um risco 30 vezes maior.

Atualmente, os cigarros eletrônicos têm servido como porta de entrada para o tabagismo entre os mais novos. A popularidade está diretamente ligada ao marketing envolvido, afinal, eles são vendidos como produtos descolados com sabores e cheiros que atraem o público jovem para o uso recreativo. Foi o caso de Pamela Lara, que havia sido internada e colocada em coma induzido no mês de maio após o agravamento de uma crise respiratória. “Eu já tenho problema de asma e bronquite, o que agravou no caso também”, declara.

Mais de 2,4 milhões de brasileiros já experiementram cigarro eletrônico. Crédito: Yasmin Taques

Pâmela e a família

A jovem começou a fumar narguilé aos 18 anos de forma recreativa. Posteriormente, o uso passou para os cigarros eletrônicos, que substituíam o cigarro convencional. Após alguns anos, o que parecia ser mais uma crise de asma, se agravou. “Os médicos tentaram fazer um raio-x do meu pulmão e eles não conseguiam, pelo órgão estar duro. Chegaram a dizer que já me entubaram morta”, lembra.

Os médicos relataram para a família que a nicotina presente no cigarro eletrônico foi um fator que agravou o caso de Pamela. Ela havia chegado na Unidade de Saúde quase inconsciente, e asaturação caía num nível tão rápido que não era normal em crises de asma. Pamela só consegue recordar que foi entubada e desmaiou, acordando somente nove dias após a internação. A jovem foi mantida sob observação e tratamento.

A irmã, Andressa Lara, relembra com pesar do momento em que Pamela estava em coma e ainda relata que não esperava isso acontecer  com um  familiar. Ela conta que os médicos haviam dito que de 10 pessoas que chegavam naquele estado, somente uma saía viva, e que podiam esperar o pior dos cenários possíveis. “Eu tentava segurar o choro e ser forte para ajudar nossos pais, mas naquele momento eu perdi o chão. Eu só pensava que não fazia sentido eu enterrar a minha irmã”, relembra. Hoje, com 25 anos, Pamela largou o vício do cigarro e está em tratamento do pulmão  para evitar o agravamento de sua asma. 

Uma pesquisa do Instituto Nacional de Câncer mostra que a cada R$ 1 de lucro da indústria do tabaco, o governo federal precisa gastar R$ 5 no tratamento de doenças ocasionadas pelo fumo.

 

Ficha técnica

Produção: Vinicius Orza

Edição e publicação: Rafaela Tzaskos e Yasmin Taques

Supervisão de produção: Hendryo André

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Kossar Furtado

 

 

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