
O sol brilha no dourado da areia em um dia caloroso em uma linda paisagem. O complemento perfeito é um mar de tirar o fôlego, que lhe convida para um mergulho tranquilo sobre ondas que enfeitiçam o olhar. Caminhar até a beira da água e sentir a maresia tocando o rosto e as águas brincando com os pés. A inexplicável sensação de ir adiante é imediata, e por mais que a areia esteja longe, tudo ali lhe parece seguro, calmo e confortável. As ondas que estavam nas canelas agora estão na altura do tórax e talvez isso pareça um pouco perigoso, mas tudo que permeia a sua mente é a calmaria que sente quando está no mar.
Todavia os ventos mudam, o céu com um sol brilhante dá lugar a um cinza nublado e a maré calma se transforma numa corrente de ondas traiçoeiras que puxam-o mais e mais para o meio, ou seja, o nada. Desta mesma forma é a dependência química, o que no início é uma experiência interessante, divertida e muitas vezes relaxante se torna uma turbulência, que deixa sequelas e muitos “afogamentos”. Aquilo que parecia perfeito, agora mostra os perigos de entrar num lugar desconhecido. Enquanto o desespero toma conta de si, e a situação parece não ter solução, um bote salva-vidas vai de encontro a você. Existe uma escolha: salvar a vida ou continuar naufragando.
Rivadavia Galdino Ferreira Junior (Riva), decidiu entrar no bote salva-vidas e hoje é um ex-dependente químico. Faz quatro meses que é paciente em comunidade terapêutica e afirma estar sem usar qualquer narcótico desde então. Ele conta que fez uso das mais diversas substâncias desde os 12 anos de idade. Hoje com 34 anos, em processo de desintoxicação, alega que encontrar abrigo na religião evangélica foi o alicerce principal para a recuperação.”Foi preciso reconhecer que sem Jesus, eu nunca conseguiria sair do buraco onde eu entrei”, declara Rivadavia.
O Relatório Mundial sobre Drogas de 2024 afirma que o número de usuários cresceu para mais de 292 milhões de pessoas. Em comparação à década anterior,o uso aumentou cerca de 20% em todo o mundo.
Foi concluído num artigo publicado na Revista de Saúde Pública, na plataforma Scielo Brasil, que dos 85 pacientes entrevistados, o que ajudou no processo de abstinência foi além da fé, mas também o apoio e acolhimento que a religião evangélica os oferece. Uma nova reestruturação de vida na comunidade, com ajuda dos líderes religiosos.
As estatísticas podem ser preocupantes, mas há possibilidades reais de encontrar uma saída, “uma luz no fim do túnel”. As comunidades terapêuticas normalmente têm alguma denominação religiosa como evangélica, católica e espírita. Esta é uma das possibilidades mais comuns entre os ex-dependentes. Em grande parte de sua vida, Riva alcoolizou-se, fez uso de cigarro, crack, cocaína e maconha e agora, retoma os estudos dentro da comunidade que oferece este apoio. Atualmente, Riva estuda para a prova do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). Ele também está fazendo curso de capacitação para ajudar outros usuários a fazerem a escolha de entrar no “bote salva-vidas” e não serem levados por uma correnteza cruel que destroi tudo o que toca.
De acordo com o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o álcool é apontado como a substância mais perigosa, superando até mesmo o crack, responsável por cerca de 10% da carga total de doenças no país. O cigarro, por sua vez, é a substância que mais causa mortes entre os brasileiros, com 11,7 milhões de tabagistas espalhados pelo Brasil. Anualmente morrem cerca de 161.853 pessoas, sendo em média 443 mortes por dia segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Esta reportagem integra uma coletânea de livro-reportagem investigativo. Este capítulo trata sobre a comunidade terapêutica auxilia na recuperação de dependentes . Acompanhe no Periódico as próximas publicações.
Ficha técnica
Produção: Juliana Emelly
Edição e publicação: Giovana Guarneri e João Fogaça
Supervisão de produção: Hendryo Anderson André
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Kossar Furtado