Diagnósticos de endometriose no Brasil aumentam 76% desde 2022

Cerca de 40% das mulheres diagnosticadas com a doença têm dificuldades para engravidar

Nos últimos três anos, o número de mulheres em busca de diagnóstico para endometriose tem crescido de forma significativa no país. De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), os atendimentos na Atenção Primária de Saúde (APS) relacionados à doença subiram de 82.693, em 2022, para 115.765 em 2023. Já em 2024, os números preliminares indicam um novo salto, alcançando 145.744 registros. O aumento acumulado no período é de aproximadamente 76%, o que evidencia não apenas o avanço na detecção da doença, mas também o impacto das ações de conscientização e a ampliação do acesso a serviços especializados pelo sistema público de saúde.

Mas, afinal, o que é endometriose? A endometriose é uma doença ginecológica crônica caracterizada pela presença de tecidos semelhantes ao do endométrio em outras regiões do corpo, como ovários, trompas, peritônio e até na parte posterior da pelve. O endométrio é o tecido que reveste a parte interna do útero, têm um papel fundamental no ciclo menstrual e na reprodução. Estima-se que a doença afete de 6% a 13% das mulheres em idade reprodutiva.

Segundo o artigo de Andrea Prestes Nácul e Poli Mara Spritzer, Aspectos atuais do diagnóstico e tratamento da endometriose, embora a teoria mais aceita para a origem da doença seja a menstruação retrógrada, quando o sangue menstrual, em vez de sair do corpo, retorna pelas trompas e se espalha na cavidade abdominal, estudos recentes indicam que alterações na biologia do endométrio também desempenham papel importante no surgimento das alterações endometriais.

O tecido endometrial, sob a influência dos hormônios durante o ciclo menstrual, pode sofrer mudanças que causam sangramentos dentro do abdômen, especialmente no período da menstruação. Esse processo gera desconfortos como cólicas menstruais intensas, dores durante o sexo e pode impactar a fertilidade. O sangue presente na cavidade abdominal provoca inflamações que podem levar à formação de aderências entre os órgãos. Essas aderências distorcem a anatomia da pelve feminina, dificultando o funcionamento das trompas e a possibilidade de engravidar.

Camila Gasparro, coordenadora de enfrentamento à mortalidade materna no Ministério da Saúde, afirma que é preciso olhar para endometriose de uma forma mais acolhedora e atuante, além de saber qual o papel da atenção primária no tratamento e acolhimento das mulheres que fazem a queixa da doença. “No Brasil, temos cerca de oito milhões de mulheres com endometriose, com uma demora, em média, de sete anos para conseguir um diagnóstico”. Camila, também portadora da doença, comenta que começou a se preocupar a partir do momento em que sentiu dor no período menstrual, nas relações sexuais e piora na qualidade de vida. “Sentir dor não é normal. Mulheres sentirem dor no dia a dia não está tudo bem”.

 

Mulheres com endometriose 

Mãe de dois filhos, Adriana Baptista foi diagnosticada com endometriose aos 21 anos, com um caso de impossibilidade de gravidez. Antes da primeira gravidez e de iniciar um tratamento de nove meses com aplicações de injeções no ovário, recebeu a notícia da maternidade. “Meu sonho era ser mãe, mas me disseram que meu caso era quase 100% de chances de não ter filhos. Para quem quer ser mãe e tem essa doença,  que não perca a fé, nunca”, ressalta. Engravidar com a doença não é impossível. Um levantamento realizado pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) mostrou que, ainda que 40% das mulheres com a doença tivessem alguma dificuldade para engravidar, as outras 60% conseguiam gestar sem nenhum problema.

Ultrassom com a doença, os pontos pretos são os focos de endometriose profunda

Em março deste ano, o Ministério da Saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS) promoveram um webinário no YouTube com o objetivo de ampliar a conscientização sobre a endometriose. Intitulado “Dor não é normal: conscientização sobre a endometriose, o evento abordou a importância do diagnóstico precoce e os impactos da doença na qualidade de vida das mulheres. Além disso, os órgãos desenvolveram, entre 2022 e 2023, o projeto Endometriose Brasil. O objetivo foi capacitar cerca de 40 mil profissionais da saúde, incluindo médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde, para melhorar o diagnóstico e o tratamento da endometriose.

Mulheres que se identificam com esses sintomas e relatos devem buscar a orientação de ginecologistas, o Sistema Único de Saúde (SUS) ou redes de apoio especializadas.

Este texto integra uma coletânea de livro-reportagem investigativo, este é o primeiro capítulo. Acompanhe no Periódico as próximas publicações.

 

Ficha técnica

Produção: Yasmin Taques

Edição e publicação: Ester Roloff e João Fogaça

Supervisão de produção: Hendryo André

Supervisão e publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado

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