Esgotamento crônico compromete saúde mental dos trabalhadores e resulta na Síndrome de Burnout

Pessoas entre 35 e 49 anos são as mais afetadas 

Rotinas exaustivas, longas jornadas de trabalho, pressões que demandam alta responsabilidade ou competitividade, inseguranças e conflitos entre a vida pessoal e profissional. Esses são alguns dos caminhos que levam uma pessoa até a Síndrome de Burnout, caracterizada pela exaustão extrema, estresse e esgotamento físico e mental resultante no ambiente de trabalho. 

O burnout envolve sofrimentos psicológicos e problemas físicos. Traduzido do inglês “burn”, quer dizer queima, e “out” exterior, desde do início de 2025, a síndrome foi incluída na lista de doenças ocupacionais (enfermidades causadas ou agravadas pelo trabalho) na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, foram notificados 1.458 casos entre 2014 e 2024. A maior parte dos registros se concentrou na região Sudeste (52,81%), logo após o Nordeste (29,77%), Sul (12,35%), Centro-Oeste (2,88%) e Norte (2,19%). Os dados são de um estudo da Revista Brasileira de Medicina do Trabalho com base numa coleta de informações na plataforma DATASUS. 

Nas estradas e rodovias há 17 anos, o caminhoneiro Jaciel Félix enfrentou algumas situações estressantes em decorrência da rotina pesada. “O estresse é muito por causa da pressão, tem que faturar, fazer média, cuidar de onde parar para não ser assaltado.Tem posto que não pode estacionar mesmo pagando o pátio”. Ele também relata que durante sua trajetória como motorista profissional, já chegou a trabalhar cerca de 12 a 16 horas por dia. “Nunca tive outro emprego que trabalhasse tanto como nessa área”.

O caminhoneiro de 47 anos diz que nunca teve nenhum problema relacionado à saúde mental, mas que há cansaço em relação ao trabalho. “É uma rotina puxada, já estive em situações de ficar 65 dias trabalhando, sem folgas e, quando consegui pegar, foram apenas 4 dias e já tive que viajar.”. 

A psicanalista Luana Trentin, explica que o burnout está relacionado ao esgotamento e ao estresse crônico, mas que é difícil de ser identificado. “Em algumas estatísticas, está listado como outra situação de saúde mental. É complicado detectar qual foi o motivo que causou.” Ela também diferencia o  burnout da depressão e ansiedade. O burnout é um fenômeno ocupacional e que não existe fora do ambiente de trabalho, já a depressão e a ansiedade são casos clínicos amplos, pois podem acontecer em qualquer ambiente. “O estresse normal não chega a atrapalhar a produção, mas com o burnout não tem, o trabalho é o fator que deixa deprimido”. A psicanalista entende que sintomas depressivos e ansiosos podem fazer parte da síndrome, mas que ela não faz parte da depressão e da ansiedade porque são tipos diferentes de sintomas. 

Segundo o Ministério da Saúde, o estresse e o cansaço excessivo podem indicar o início da doença, porém, a psicanalista reforça que há outros sintomas que envolvem o burnout e que o principal deles é o cinismo. “A pessoa fica meio debochada, meio cínica com tudo que acontece e as relações dela se alteram por causa disso.” Para ela, é importante procurar um profissional qualificado quando perceber algum sinal, seja um psicólogo, psicanalista ou psiquiatra. Ela defende que as empresas precisam mudar a cultura dentro das instituições e prestar atenção aos alertas. “É sobre prevenção e treino dos gestores, para que eles consigam detectar sinais de silêncio e cinismo”, explica.

A técnica em segurança do trabalho Sheren Campos diz que as empresas devem fazer pausas programadas, rodízios de atividades, incentivo à práticas de autocuidado, realizar palestras sobre saúde mental e abrir espaço para ouvir os trabalhadores. “Quando olhamos para a segurança, não é só prevenir acidentes físicos, mas também criar um ambiente saudável, sem excesso de pressão e medo constante”. 

 

Como prevenir e onde buscar ajuda? 

De acordo com o Ministério da Saúde, a melhor forma de prevenir a Síndrome de Burnout são estratégias que ajudam a diminuir o estresse e a pressão no trabalho. Algumas das dicas envolvem realizar atividades físicas, conversar sobre o que está sentindo, buscar momentos de lazer, fazer algo que “fuja” da rotina diária, e descansar adequadamente (pelo menos 8 horas diárias). Em alguns casos, podem ser utilizados medicamentos com prescrição médica. 

 

Ao levar em conta que há dificuldades para que alguns trabalhadores consigam seguir as recomendações, justamente devido à rotina pesada, existem locais que oferecem ajuda em casos de saúde mental, que também envolvem o burnout. Em Ponta Grossa, as unidades da atenção primária e os centros de atenção psicossocial (CAPS) são locais que fazem o acolhimento e primeira avaliação das pessoas com queixas de burnout.

Ficha técnica 

Produção: Fernanda Matos

Edição e publicação: Anna Perucelli e Larissa Oliveira

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão e publicação: Aline Rosso e Kevin Kossar Furtado

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