Em pesquisa, Check Point Software faz novo alerta para o aumento de ataques hacktivistas, inclusive no Brasil
Para o analista de segurança José Ricardo Baptista, o hacktivismo já não pode mais ser visto apenas como uma prática de grupos independentes na internet. Ele ressalta que, diante da atual instabilidade geopolítica, as fronteiras entre o ativismo digital e as operações patrocinadas por estados-nações estão cada vez mais difusas. Isso significa que, além de representar uma forma de manifestação ideológica, o hacktivismo hoje pode carregar um peso estratégico que afeta diretamente setores críticos como energia, comunicação e transportes.
O hacktivismo é um termo que une “hacking” e “ativismo”. A prática utiliza as habilidades em cibersegurança para realizar manifestações ideológicas. É uma atividade tecnológica que possibilita aos usuários realizar mobilizações sociais, por meio da internet, principalmente pelo uso das redes sociais, com o objetivo de difundir seus ideais.
Contudo, o hacktivismo pode seguir outros caminhos. Segundo o artigo A influência do ciberativismo e do hacktivismo no contexto sociopolítico, de Ádila Marcele de Lima Silva, a ideia que originou o movimento é sobre agir em prol do bem maior, por meio do ativismo em causas sócio-políticas. No entanto, surgem hacktivistas que realizam atos que mais prejudicam a imagem da prática do que contribuem com o movimento. Com o passar dos anos, o hacktivismo ganhou grupos que ficaram conhecidos por diferentes ações, como interceptação de dados, técnicas que permitem furar bloqueios de censura na internet e ataques de negação de serviço (DDoS – Distributed Denial of Service).
A repercussão das ações hacktivistas levanta debates sobre a legitimidade dessa prática. Muitas vezes, elas são classificadas como crimes cibernéticos, mas, segundo o artigo de Ádila, essa visão é equivocada. Isso porque os verdadeiros responsáveis por crimes digitais são os crackers, que exploram falhas em sistemas com objetivos pessoais, cometendo atos como invasão de privacidade, roubo de informações e chantagem.
Em pesquisa de 2023, a Check Point Software apontou tendências que moldam os ataques DDoS (tentativa maliciosa de tornar um serviço online indisponível). A formação de grupos hacktivistas apoiados pelo Estado alterou significativamente o cenário geral, pois esses grupos possuem muito mais recursos e organização, o que amplia as suas capacidades para criar ferramentas de ataque sofisticadas, atingir um leque mais amplo de vítimas e operar com relativa impunidade.
Segundo Baptista, as linhas entre as operações cibernéticas patrocinadas por estados-nações e o hacktivismo tradicional se tornaram confusas. Diante da crescente instabilidade geopolítica, ele alerta que organizações, principalmente as que atuam em áreas de infraestrutura essencial, precisam incluir a ameaça hacktivista em seus planos de análise e gestão de riscos.
Hacktivismo e geopolítica
O hacktivismo voltou ao debate com a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. Menos de dois anos depois, grupos e indivíduos com motivações políticas voltaram a agir com força, dessa vez para mostrar seu ponto de vista em meio ao conflito entre Israel e Hamas, afirma relatório de 2024 da Radware.
No caso do conflito entre Israel e o Hamas, o relatório aponta que ações hacktivistas chegaram a níveis recordes. Israel se tornou o principal alvo, registrando 1.480 ataques DDoS em 2023, que atingiram inclusive organizações de grande porte.
Anonymous
O Anonymous é o maior exemplo do hacktivismo. Não se trata de um grupo, mas sim de uma ideologia formada por hackers, ativistas de causas sociais e até indivíduos que não possuem conhecimento tecnológico. A organização não possui liderança e os hackers não precisam solicitar autorização para integrar o grupo. No Brasil, os Anonymous iniciaram operações desencadeadas de modo espontâneo por grupos e indivíduos independentes, ao invadir sites de bancos e retirá-los do ar.
Baptista explica que o crescimento das mídias no geral tem relação direta com a expansão dos Anonymous. “Cada vez mais pessoas têm acesso a internet e inteligências artificiais, isso acarreta em mais pessoas adquirindo conhecimento técnico e muitas vezes se convertendo a ideais como o do Anonymous”.
Entre os grupos mais conhecidos por realizar ataques, estão especialmente os pró-russos NoName057(16) e Anonymous Sudan, que são seguidos por milhares de pessoas no Telegram. Com cada ataque bem-sucedido, o número continua a crescer, de acordo com Security Report.
Esta reportagem integra uma coletânea de livro-reportagem investigativo. Este capítulo trata sobre a expansão do hacktivismo no Brasil. Leia o capítulo anterior aqui. Acompanhe no Periódico as próximas publicações.
Ficha técnica
Produção: Rafaela Tzaskos
Edição e publicação: Emanuely Almeida, Ester Roloff, Gabriele Proença e João Fogaça
Supervisão de produção: Hendryo André
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Kossar Furtado
