Fachada da loja matriz, na Rua Saldanha Marinho, em 1991. Foto de arquivo
A fotografia é uma espécie de janela. É possível ver registros e histórias, coisas que existiram ou aconteceram no passado e não voltam mais. São cenas e fatos com valor sentimental, cultural e histórico que, por meio de um clique, ficaram eternizadas, congeladas no tempo para futuras gerações. Com a fotografia, o passado é alcançado e tornam possível entender, com imagens, a lenta e poética passagem do tempo.
A fotografia tem o poder de registro dos fatos, uma forma de arquivo de momentos importantes da vida: casamentos, formaturas, batizados, viagens, reuniões familiares e tantos outros instantes que marcam memórias. Esse foi o trabalho do pontagrossense Carlos Jendreick . Quando jovem, Jendreick teve a oportunidade de trabalhar no Foto Weiss, onde descobriu a paixão pelo universo fotográfico e o poder de uma imagem.
Alguns anos depois, em 1950, deu início ao sonho de inaugurar o próprio negócio: um estabelecimento fotográfico, abrindo oficialmente as portas da Carlos Foto.
Durante sete décadas, a loja da Rua Saldanha Marinho foi lugar de produção de imagens analógicas das famílias e do cotidiano da cidade. Com os avanços na área da fotografia, a empresa migrou para a produção digital e investiu em tecnologia. A loja marcou a vida de muitos clientes, não apenas moradores de Ponta Grossa, mas de toda a região.
O crescimento do Carlos Foto
Jendreick era um estudioso da fotografia. Isso ajudou a empresa a se destacar. , Em razão da demanda por fotografia na cidade, o estabelecimento cresceu e abriu uma filial no calçadão de Ponta Grossa.
O maior empreendimento de Jendreick foi a abertura de um laboratório fotográfico em 1973. Até então, a impressão de fotos acontecia apenas na cidade de São Paulo. O envio dos filmes para impressão fora do estado ocasionava a demora no processo de revelação e ampliação das imagens.
Foi por meio dos estudos e do empreendedorismo de Carlos Jendreick, que o sonho do Laboratório Multicolor saiu do papel e se tornou o primeiro espaço para revelação fotográfica na região dos Campos Gerais.

Equipe do laboratório Multicolor, pioneiro em fotografia colorida nos campos Gerais
De pai para filho
Aos 18 anos, Roberto Jendreick, filho de Carlos, iniciou sua trajetória no ramo fotográfico. Aos 21, assumiu a responsabilidade pela administração da loja. Hoje, 52 anos depois, relembra com carinho dessa trajetória. “Desde criança, meu pai já era dono do Foto Carlos. Eu e meus irmãos crescemos aprendendo com ele. Cursei Administração de empresas para assumir os negócios de meu pai”.

Roberto em meio a retratos e imagens da família Jendreick, que decoravam o escritório do Foto Carlos. Foto: Maria Cecília Mascarenhas
O trabalho na loja
Pessoas passaram a viajar horas apenas para conseguir revelar suas memórias no Foto Carlos. Vinham de todas as cidades dos Campos Gerais, Taís Maria Cruz, trabalhou no Laboratório Multicolor por quase 20 anos. “A gente brincava entre nós, de que ficávamos nas salas escuras e conhecíamos o mundo através das imagens que revelávamos”. Taís destaca que o laboratório era como uma fábrica de lembranças, e que através dele era possível registrar e congelar a memória e os momentos importantes da vida de muitas pessoas.
De acordo com Taís, o dia a dia no laboratório era corrido. “Perdíamos a noção de tempo entre a impressão de uma imagem e outra”. Tais relata ainda que, devido ao alto custo da fotografia, o costume da época era que as pessoas utilizassem apenas um filme no decorrer do ano, o que gerava um ritmo de trabalho intenso no verão. Em épocas de muita demanda, era necessário fazer longas jornadas de trabalho para dar conta dos pedidos no laboratório. “Você não sabia se tinha sol, se chovia, se estava frio. Eu lembro que teve um ano que nevou aqui em Ponta Grossa, e um colega entrou no laboratório gritando para nós irmos ver a neve. Quando a gente saiu para a rua foi uma festa”, diz ela.
Mauricio Hirano, de 52 anos, começou a trabalhar no Foto Carlos no final do ano passado, mas suas memórias do estabelecimento não tiveram início nesse período. “É uma das lojas que me encantava na infância por ter uma decoração bonita de Natal, estúdios fotográficos e as vitrines que chamavam muita atenção. É um lugar que me marcou muito, uma recordação muito boa da loja”, relata. Ele se sente feliz em ter trabalhado nos últimos dias do estabelecimento. “Eu fico feliz em fazer parte dessa história e encerrar esse ciclo ao lado do seu Roberto”.
Encerramento de um ciclo
Após sete décadas de funcionamento, o Foto Carlos decide fechar as portas. Segundo Roberto,atual dono do estabelecimento, o fechamento ocorre pelo desejo de aposentar-se e pela falta de herdeiros para continuar a história do estabelecimento

A empresa resolveu finalizar suas atividades na cidade este ano. Foto: Maria Cecília Mascarenhas
Roberto Wagnitz Introvini, cliente há mais de 60 anos sente perder algo de valor.: “É uma perda para a cidade. Nasci em 1954 e frequentava o Foto Carlos desde que me conhecia”, recorda.
Maurício Hirano auxilia a família Jendreick no processo de encerramento da empresa. “A gente fica muito triste pelo fechamento da loja, um estabelecimento de muitos anos, tradicional na cidade. É um local que acompanhou a vida de muitas famílias, registrou momentos importantes, e deixou sua marca em Ponta Grossa.”

Roberto Jendreick realizando cobertura de um evento, pela empresa Foto Carlos. Fonte: Arquivo pessoal
Ficha técnica
Produção: Maria Cecília Mascarenhas
Edição e publicação: Amanda Stafin
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Kossar Furtado
