A lei que proíbe o uso de celulares em sala de aula define que as escolas terão autonomia para definir regras sobre o uso de aparelhos nos intervalos. Foto: Julia Almeida.
Dando continuidade à análise sobre a restrição do uso de celulares em sala de aula, esta matéria foca em como as escolas particulares de Ponta Grossa estão enfrentando essa mudança. Diferente da realidade das escolas públicas, as instituições privadas tendem a apresentar um processo de adaptação marcado por maior autonomia administrativa e normas mais rígidas.
Em um colégio particular da cidade a restrição ao uso dos celulares já era uma prática antes mesmo da aprovação da nova lei. A coordenadora pedagógica, Adriane Martins, explica que os professores se sentiam incomodados com a constante necessidade de chamar a atenção dos alunos, e que as notificações aos pais acabavam gerando desgastes desnecessários. Com a chegada da legislação, a escola decidiu formalizar o procedimento. “Na matrícula, os pais assinam um termo de responsabilidade. Se o aluno for pego com o celular, o aparelho é recolhido e só devolvido aos responsáveis”, afirma Adriane. Isso contribui para alinhar expectativas, minimizar conflitos e criar um ambiente mais favorável à aprendizagem.
O colégio permite que o aluno leve o aparelho, contudo estabelece que ele permaneça no silencioso ou, de preferência, desligado na mochila durante todo o período letivo, incluindo os intervalos. A única exceção é em casos de justificativas pedagógicas, que precisam ser previamente autorizadas. Para reforçar o cumprimento da norma, todas as salas são monitoradas por câmeras, e o descumprimento recorrente pode levar à suspensão. “O primeiro mês foi complicado, mas agora os alunos já estão lidando melhor com a regra”, conta a coordenadora. Ela também destaca que, embora o celular seja frequentemente visto como um vilão, ele pode ser um aliado valioso se usado corretamente. “O problema é o uso desenfreado, se bem aplicado, pode sim contribuir muito com a aprendizagem.”
De acordo com Adriane, a pandemia agravou a dependência dos jovens nas redes sociais, tornando o processo de adaptação mais desafiador. No entanto, ela nota que, após a implementação da restrição, houveram melhorias significativas no desempenho dos estudantes em sala de aula.
Já em outra escola , a situação é um pouco diferente. Gustavo, aluno do terceiro ano do Ensino médio da instituição, relata que o cumprimento da lei varia conforme o professor. “Tem professor que pega no pé mesmo, porém outros não ligam muito”, relata o aluno. Para ele, a proibição trouxe prejuízos em certos aspectos da aprendizagem. “Antes, dava para usar o celular para pesquisar alguma coisa na hora da atividade. Agora não pode mais e isso dificulta em algumas tarefas”, ressalta.
A diferença de abordagem entre escolas particulares também evidencia que, embora sigam a mesma legislação, a aplicação da restrição ainda é flexível e depende muito da instituição e do perfil de cada docente. Enquanto alguns educadores se beneficiam do apoio da lei para impor limites mais rígidos, outros ainda enfrentam resistência ou preferem uma abordagem mais tranquila, priorizando o diálogo e a autonomia do estudante.
Esta reportagem integra uma coletânea de livro-reportagem investigativo. Confira outros materiais relacionados ao assunto no site do Periódico.
Ficha técnica
Texto: João Fogaça
Edição e publicação: Maria Cecília Mascarenhas, Luiz Cruz e Julia Almeida.
Supervisão de produção: Hendryo André
Supervisão da publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado
