
Entre 2008 a 2017, SUS gastou R$ 468 milhões em internações de complicações de aborto, 75% deles provocados, segundo Ministério da Saúde
“Sempre tive medo de qualquer pessoa descobrir. Até com as pessoas mais próximas de mim. Eu não conseguia confiar, tinha medo de ficar sozinha”, relata Jéssica Pinheiro (Nome Fictício). Cada mulher carrega consigo um emaranhado de vivências e traumas e passam por estas situações somente pelo fato de serem mulheres. O aborto é julgado e repreendido de todas as formas pela sociedade muito antes da existencia de Cristo. A história de qualquer uma pode ser desconsiderada quando “valores” são postos em primeiro lugar.
Durante uma entrevista no dia 5 de maio, a atriz Paolla Oliveira defendeu durante uma participação no programa Roda Viva a legalização do aborto. “Eu sou a favor. Acho que isso deve ser visto e revisto em relação às leis, mas é uma decisão da mulher, tem que ser. Acho um grande retrocesso a gente não pensar nisso como uma possibilidade”, ponderou a atriz. Após a declaração, Paolla começou a receber inúmeros comentários de ódio nas redes sociais. “Perdeu minha admiração”, “Ela é bonita, apenas”, “Então você não deveria ter nascido… sua mãe teria que abortar”, são alguns dos comentários do recorte postado na página do Metrópole.

Crédito: Fabrício Zvir
Se neste cenário, em que Paolla somente se declarou a favor da legalização, ela foi massacrada. A realidade, de todas aquelas que fazem parte do um milhão de mulheres que abortam por ano no Brasil(Conselho Nacional de Enfermagem), é submetida a julgamentos, estigmas e correm riscos na tentativa de exercer o direito do seu próprio corpo. Quem opta por realizar o aborto no Brasil, sem se enquandrar nos critérios legais, como explicado no primeiro capítulo, além do julgamento social, corre risco de vida e da condenação no tribunal.
De acordo com a médica responsável pelos pré-natais no município de Mallet (PR), Christina Musial Abib, a conduta do médico diante de uma paciente que realizou aborto clandestino é pautada pelo sigilo profissional e pela necessidade de assistência humanizada. O médico não pode denunciar a paciente à polícia ou às autoridades judiciais, mesmo que o aborto seja ilegal. “O foco principal é o bem-estar e a saúde da paciente, oferecer tratamento médico adequado para qualquer complicação e garantir o atendimento com respeito e confidencialidade.”, pontua a médica.

Crédito: Júlia Almeida
A pesquisa dos tipos de métodos abortivos foi fundamentada a partir de dados de instituições da saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde do Brasil, a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) e organizações que atuam em direitos reprodutivos, como o Guttmacher Institute e a Ipas. Também foram consideradas evidências científicas disponíveis em publicações acadêmicas de bases como PubMed, Scielo e The Lancet, além de relatórios de ONGs e estudos etnográficos sobre práticas inseguras de aborto.

Crédito: Júlia Almeida
Esta reportagem é um enquadramento dos métodos abortivos existentes e faz parte de uma série que está sendo produzida para a matéria de Produção e Edição de Textos Jornalísticos III. No próximo capítulo vamos abordar o relato da adolescência de Ana Alice (Nome Fictício).
Ficha técnica
Produção: Fabrício Zvir
Edição e publicação: Julia Almeida, Juliane Goltz, Mariana Krankel, Rafaela Tzaskos e João Fogaça
Supervisão de produção: Hendryo André
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado