
A falta de oportunidades de emprego e dificuldades com a língua portuguesa são problemas recorrentes
Aos 67 anos, abrir mão de tudo aquilo que foi construído durante a vida como emprego consolidado, casa, cultura e moradia no país de origem não é tarefa fácil. Mas esse é o desafio que Jose Manuel enfrenta desde novembro de 2024. O cidadão venezuelano chegou em Ponta Grossa há cerca de seis meses. Na Venezuela, deixou o emprego que exercia há 30 anos na mesma empresa, os bens e as amizades.
A história de Jose não é a única. Em 2024, o Brasil registrou a entrada de 194.331 novos imigrantes, conforme dados divulgados pela Secretaria Nacional de Justiça (Senajus). Entre eles, os venezuelanos são os que mais buscam o país como opção de moradia, com aproximadamente 97.724 registros apenas no ano passado. Pessoas de outros países como Paraguai, Bolívia e Haiti também procuram o Brasil, por oferecer, em relação aos países vizinhos, melhores oportunidades de vida aos estrangeiros.
Entre os motivos que levam famílias inteiras a fazer o movimento de migração estão a guerra, pobreza extrema, problemas políticos em seu país e melhores perspectivas de vida. Outros imigrantes levam em consideração as oportunidades de emprego, investimentos, estudo ou mesmo a possibilidade de se reunir com familiares que já estão no Brasil.
O motivo que levou Jose a vir ao Brasil foi encontrar a família. “Primeiramente minha esposa veio para cá. Há três anos que ela e meus filhos estão aqui em busca de oportunidades de melhores condições de vida e emprego. Eu fiquei sozinho na Venezuela, pois tinha trabalho lá. Mas a minha esposa me pedia para vir”. Para ele, agora, o mais importante é estar com a família reunida.
A venezuelana Greisy Gonzalez tem 33 anos e chegou no país há cerca de seis anos em busca de emprego. Ela comenta que passou os primeiros dois anos em Manaus. Por indicação de uma amiga, também venezuelana, descobriu Ponta Grossa e veio para cidade em 2019, em busca de trabalho. Greisy conta que se instalou na cidade com sua irmã e, posteriormente, conseguiu trazer seus pais. Assim conseguiu reunir a família.
No momento, a venezuelana tenta revalidar o seu diploma em Ciências Contábeis. Esse é um grande problema que enfrenta aqui no país. Deu início ao processo em 2023 e até hoje não conseguiu. “Tem sido muito difícil e frustrante o fato de não poder validar meu diploma. Estou tentando novamente este ano. Se não conseguir, terei que buscar uma nova área de conhecimento e realizar uma segunda graduação”.
Na busca por espaço no mercado de trabalho, Greisy conta que sofreu por ser imigrante. “Muitas pessoas criticam os imigrantes, dizem que eles estão tentando tirar o emprego dos brasileiros”, desabafa. “Eu acredito que o imigrante está procurando o seu lugar, um espaço para chamar de lar, para se sentir parte. A gente não vem pra tirar o lugar e a profissão de ninguém. A gente é grata por estar aqui e ter a oportunidade de ter emprego”.
Espaços de auxílio aos imigrantes em Ponta Grossa
Carlos Daniel Piñanez Monges veio do Paraguai há um ano em busca de uma melhor saúde pública. O objetivo dele é tratar a diabetes pelo Sistema Único de Saúde. Monges observa que a Cáritas e a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), através do projeto de extensão Processos Migratórios e Intercâmbio (PROMIGRA), são essenciais para promover a inclusão e adaptação do estrangeiro no país. “O PROMIGRA não é somente um curso de línguas, é intercâmbio, vivência e, também, proporciona oportunidades aos imigrantes”. Monges destaca, ainda, a importância das ações desenvolvidas na Cáritas. Ela foi essencial para sua adaptação na cidade. Monges comenta que a entidade tem sido fundamental, por exemplo, no processo de mediação de vagas de empregos.
Além dessas organizações, a prefeitura realiza atendimento aos estrangeiros que chegam à cidade, por meio do Comitê Municipal de Migrantes Apátridas e Refugiados de Ponta Grossa. Criado pela lei n° 19.727/2021, é coordenado pela Fundação Municipal de Assistência Social. Trata-se de mais um espaço de acolhimento e orientação ao migrante.
professora da UEPG e integrante do PROMIGRA, Pascoalina Bailon de Oliveira Saleh, é responsável pela coordenação das aulas de português para imigrantes. “Estamos recebendo cada vez mais imigrantes que precisam desses espaços. A universidade tem o papel de fazer essa articulação, porque é uma instituição pública voltada para o bem-estar da população”. Pascoalina comenta que as aulas têm o objetivo de auxiliar os imigrantes em questões como a ampliação dos conhecimentos acerca da cultura brasileira, interação com outros migrantes, com professores brasileiros e, também, para prestar orientações sobre seus direitos.
“Agradeço muito as oportunidades. Quando cheguei aqui, foi fácil tirar a documentação e ter acesso à saúde. As pessoas foram muito solícitas para que tudo desse certo”, agradece a venezuela Greisy Gonzalez pelos serviços prestados por instituições brasileiras.
Ficha tecnica
Produção: Maria Cecília Mascarenhas
Edição e publicação: Larissa Oliveira, Isabele Machado e Daniel Klemba
Supervisão e produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Aline |Rosso e Kevin Kossar Furtado