Por trás dos pompons: o crescimento do cheerleading em Ponta Grossa

De treinos improvisados em praças ao reconhecimento institucional, o cheer pontagrossense se consolida como um dos maiores do Paraná

O cheerleading em Ponta Grossa, guarda uma trajetória marcada por resistência, disciplina e amor ao esporte. A modalidade, antes restrita a apresentações escolares e eventos esportivos, transformou-se em um movimento atlético e cultural que mobiliza mais de 130 atletas na cidade. De acordo com dados da Liga Cheerleading Ponta Grossa (LCPG), entre 2022 e 2024 o número de equipes inscritas no Campeonato Paranaense cresceu de 25 para cerca de 40. Atualmente, o município de Ponta Grossa conta com 11 equipes universitárias, igualando-se a Curitiba e Maringá em representatividade.

O cheerleading  pontagrossense se divide entre as equipes universitárias da  Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e da Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR), e a equipe All Star do Rebellion, que representam diferentes vertentes do esporte. Enquanto o  cheer universitário tem foco na representação institucional e no espírito acadêmico, o All Star se configura como uma modalidade puramente competitiva, com coreografias mais complexas e com alto nível técnico, praticada em academias especializadas.

Entre 2015 e 2016, os primeiros grupos começaram a surgir na cidade. Equipes como Asas Negras, Bulleaders, Pirates e Anjos em Chamas foram pioneiras na prática. Sem locais adequados, treinavam em blocos de universidades ou em parques públicos. Douglas Cobiank, conhecido como Doug, é um dos  pioneiros que acompanhou toda a evolução do esporte na cidade. “Nessa época as equipes dificilmente tinham elevações de dificuldade nas apresentações, era apenas dança com pompons”, relembra o atleta do Presas de Marfim, equipe da qual faz parte desde 2016.

O aprimoramento  do cheer como um esporte, em Ponta Grossa, começou a crescer em 2017, quando alguns times contrataram técnicos especializados no esporte. Presas de Marfim, time universitário da UTFPR, contratou um técnico para introduzir o cheerleading competitivo. “Com o treinamento especializado, conseguimos evoluir o nível das performances e abrir caminho para o cheer como esporte de fato”, explica Doug. Com isso, as equipes começaram a consolidar o nome da cidade nos campeonatos estaduais.

A criação da Liga Cheerleading Ponta Grossa (LCPG), em 2014, foi outro marco decisivo. A organização passou a promover eventos, incentivar a prática esportiva e intermediar o diálogo com o poder público. Por meio da LCPG, o cheer conquistou visibilidade e, em 2025, garantiu apoio da Prefeitura Municipal com a cessão do Ginásio Jamal para treinos aos finais de semana. “Esse reconhecimento é fruto de anos de insistência e organização dos atletas ligados ao cheer”, afirma Doug. Guilherme de Campos, técnico e atleta que atua no Rebellion All Star desde 2018, destaca que a estrutura adequada é essencial para a segurança dos atletas. “O cheer exige técnica e preparo físico, e não é recomendável treinar em qualquer lugar. Ter um espaço fixo é uma conquista coletiva.”

O Rebellion Gym, atual sede da equipe Rebellion All Star, é o único espaço privado da cidade com estrutura específica para o esporte. Equipado com piso de absorção de impacto, o ginásio tornou-se referência regional. A representatividade e diversidade no cheer também têm crescido.

Para Renan de Oliveira, atleta do Rebellion desde 2024, o esporte tem quebrado estereótipos de gênero. “Quando comecei, imaginei que seria base por causa de ideias limitantes sobre o papel dos homens no cheer. A criação da categoria all boy mudou tudo para mim. Foi uma realização muito grande poder competir em igualdade”, comenta. O surgimento dessa categoria ampliou o espaço para diferentes formações e fortaleceu o sentimento de pertencimento dentro da comunidade.

Já no ambiente universitário, o Arlequinas Cheerleading, equipe da UEPG, representa um exemplo de persistência. Maria Vitória Carollo, integrante desde 2022, relata as dificuldades enfrentadas nos primeiros anos. “Treinávamos na quadra do Colégio Polivalente, emprestada, mas sofríamos muito com a falta de estrutura, principalmente nos dias de chuva, quando a água entrava na quadra”, lembra. Apesar dos obstáculos, o time cresceu e, em 2024, conquistou o feito de participar do Campeonato Paranaense, em Curitiba. “Foi o auge do Arlequinas até agora, levar o nome da UEPG para fora da cidade foi uma emoção indescritível”, conta.

Hoje, Ponta Grossa reúne mais de 130 atletas ativos em diversas equipes, entre universitárias e independentes, como Asas Negras, The Flames e Devils. O número expressivo reflete o avanço da modalidade e o engajamento local. A cidade, antes carente de reconhecimento institucional, agora começa a colher os frutos de uma década de esforço coletivo.

Mesmo assim, o cenário ainda exige políticas mais consistentes. O apoio da LCPG e a conquista do espaço público para treinos são passos importantes, mas insuficientes diante da demanda crescente. “O cheer é um esporte que envolve técnica, preparo físico e investimento”, reforça Guilherme.

Por trás dos pompons, há histórias de superação, identidade e pertencimento. O que começou como uma dança improvisada em praças hoje se firma como um movimento esportivo e cultural que molda uma nova geração de atletas ponta-grossenses, e coloca a cidade, definitivamente, no mapa do cheerleading paranaense.

Ficha técnica

Produção: Ingrid Müller, Lucas Jolondek e Yasmin Aguilera
Edição e publicação: Giovana Guarneri
Supervisão de produção: Aline Rosso
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado

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