Profissionais que passaram pela violência obstétrica, hoje apoiam e orientam outras mulheres | Foto: Isabele Machado
A mãe de três filhos, Ruth Rodrigues, é advogada especialista em violência obstétrica há 10 anos. Ela também atua como presidente do Coletivo Nacional de Enfrentamento à Violência Obstétrica Nascer Direito, presidente da Primeira Comissão de Combate à Violência Obstétrica do OAB, do Distrito Federal e pós-graduada na prevenção de violência obstétrica pelo Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina (CESUSC). Ruth passou por uma cesárea e dois partos domiciliares, no qual um teve uma intercorrência e precisou ser transferida para um hospital, onde sofreu diversas violências obstétricas, e foi daí que surgiu a motivação para seu primeiro livro, a história de seu parto e como conheceu a violência obstétrica, que foi publicado em 2018.
Desde então, começou a trabalhar com o tema, levando o máximo de informações sobre o direito para as mulheres no Instagram. “Foi aí que eu comecei a notar que havia uma deficiência na assistência jurídica a essas vítimas ”, relata. Em abril de 2022, lançou o eBook ‘Parto sem Violência’, um manual simples e didático para ensinar as mulheres o que é a violência obstétrica (VO), quais são seus direitos e como tentar garanti-los. Ambos os e-books são pagos.
A advogada recebe em média, por semana, duas a três mulheres que buscam os seus direitos. Segundo Ruth, o processo exige uma análise cuidadosa, pois as ações da VO são mais delicadas. “Violência obstétrica não é erro médico, são coisas diferentes, o erro médico é mais fácil de ser provado, já a violência obstétrica a gente ainda precisa lutar muito”. Para Rodrigues, é irrelevante ter uma punição específica para esse tipo de violência no código penal. “Não é criminalizando que vamos resolver o problema, precisamos utilizar as leis que já temos a favor das mulheres”, relata.
Por último, Ela também participou do livro ‘Maternar’ com coautoria de 27 mulheres, onde escreveu o capítulo 25, que fala da violência (in)visível, publicado em 2025 pela editora Chave Mestra. Além disso, também já participou de outras obras jurídicas.

A advogada Ruth Rodrigues durante o lançamento do livro Maternar, no qual assina o capítulo sobre violência obstétrica. | Foto: Arquivo pessoal
Relatos de uma doula
Doulas são profissionais que auxiliam as gestantes de forma física, emocional e informativa. A história de Juliane Carrico, começa em 2018, quando conheceu uma doula e descobriu o que era a violência obstétrica, época em que nem pensava em ser mãe. Aquela conversa lhe despertou curiosidade sobre a profissão. “Lembro que brinquei falando que eu queria fazer um curso de enfermagem, ou medicina para poder atuar dentro do cenário, mas sem entender mesmo o que a doula fazia”, comenta. Em 2020 ela engravidou, e a partir daí conheceu outras profissionais da área, em seu parto também teve a presença de uma doula, onde, teve uma experiência 98% positiva, porém, ainda foi vítima da violência obstétrica. Foi preciso dois anos para Juliane identificar o que havia acontecido e realizar a denúncia.
Hoje Juliane faz parte do Coletivo de Doulas de Ponta Grossa, onde são realizadas rodas de conversa, preparação para gestantes e familiares, auxilio pós-parto, pintura gestacional, acompanhamento do parto, cuidados com o recém nascido, oficinas e workshops. Juliane conta que em sua primeira atuação, foi proibida de entrar na maternidade. Um parto de 32 semanas que precisou ser inibido, ou seja, foi necessário atrasar ou impedir o início do trabalho de parto e por isso a presença de Juliane não foi permitida, foi o que alegaram os profissionais da saúde. “Foi uma experiência difícil para ela e para mim, mas me ensinou a lidar com a prematuridade. Em outras situações em que isso aconteceu, eu bati o pé e entrei”, afirma Juliane.
Juliane relata que já presenciou muitas cenas de violência obstétrica nas maternidades da cidade. Segundo ela, não cabe a doula dizer à família que isso aconteceu se esta não tiver identificado, visto que pode acabar corrompendo a experiência do nascimento da criança.
Esta reportagem integra uma coletânea de livro-reportagem. Este capítulo traz a experiência de mulheres que tiveram seus direitos violados durante o parto. Acompanhe no Periódico as próximas publicações.
Ficha Técnica
Produção: Isabele Machado
Edição e publicação: Emanuely Almeida, Fabrício Zvir, Giovana Guarneri, Gabrieli Mendes e Rafaela Conrado.
Supervisão de produção: Hendryo André
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado
