Bispo emérito de Ponta Grossa concilia rotina de espiritualidade e estudos
Desde a infância, Sérgio Arthur Braschi já sentia um profundo desejo de se tornar padre. O amor pelo sacerdócio caminhou lado a lado com outras grandes paixões de sua vida: a música, a pesquisa espacial e a sede insaciável de aprender. Hoje, em sua fase emérita, dom Sérgio leva uma vida simples, marcada pelas atividades religiosas e horas de estudo, mesmo diante da luta contra um câncer.
O bispo reside em Ponta Grossa com a sobrinha e a sobrinha-neta e adota uma rotina espiritual e de estudos. O religioso possui uma capela em sua residência e celebra a missa todos os dias sozinho. Entre momentos de orações e estudo bíblico, dom Sérgio dedica cerca de duas horas diárias para os afazeres religiosos. Mas o dia a dia do bispo não se limita apenas à doutrina. Diariamente, ele acompanha notícias sobre a pesquisa espacial e mantém-se informado sobre o que acontece no cosmos.
O interesse pelo estudo do universo não é recente. Em 1986, o religioso adquiriu um telescópio para acompanhar a passagem do cometa Halley e, desde então, nunca mais deixou de olhar para o céu sem buscar compreender aquilo que é visto fora da Terra. Dom Sérgio segue atento às inovações espaciais e entende que a ciência deve andar lado a lado com a religião. “Se um dia encontrarmos vida em outras galáxias, isso não anula a ação de Deus. Ele que criou todas as coisas, escolheu se encarnar aqui. Isso demonstra que temos um valor especial”.
Vida religiosa
Crédito: Assessoria de Comunicação/ Diocese de Ponta Grossa
Dom Sérgio nasceu em 3 de dezembro de 1948, em Curitiba. Decidido desde criança que iria se tornar padre, o jovem entrou no Seminário Maior Rainha dos Apóstolos, em 1967, para iniciar a graduação em Filosofia Universidade Católica do Paraná. Em 1969, partiu a Roma, Itália, para estudar Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG). “A distância da família e dos amigos foi muito dolorosa, mas nunca pensei em desistir porque sabia que iria realizar o maior sonho da minha vida”.
Após quatro anos, voltou ao Brasil para ser ordenado padre no dia 8 de julho de 1973 e ser designado como vigário da Paróquia Santa Teresinha, em Curitiba. No ano seguinte, iniciou uma caminhada de doze anos, atuando na formação de novos padres. Até que em 1986 voltou a Roma para realizar o mestrado em Teologia Dogmática na PUG. Logo em seguida, dedicou-se ao doutorado, mas não conseguiu concluí-lo, devido ao falecimento de um irmão e o adoecimento da mãe. “Tive uma crise pessoal. Não tinha condições de continuar meu doutorado, sabendo que a minha mãe precisava dos meus cuidados”.
Em 1998, o então padre Sérgio foi nomeado bispo auxiliar de Curitiba pelo papa João Paulo II. “Ser padre sempre foi o meu maior sonho, mas ser bispo nunca passou pela minha cabeça. Quando recebi a nomeação, aceitei com muita alegria por ter sido destinado a esta importante missão”. Trabalhou na arquidiocese de Curitiba até 2003, quando foi nomeado bispo da Diocese de Ponta Grossa, atividade que exerceu até 2024.
Espiritualidade no mundo contemporâneo
“Acredito em uma mudança de época e não apenas em uma época de mudanças”, enfatiza dom Sérgio, ao fundamentar sua visão sobre o papel da Igreja no mundo contemporâneo. Para ele, a missão evangelizadora deve continuar viva, acompanhando as transformações sociais do nosso tempo, mas fiel à essência do evangelho.
Apesar das estatísticas apontarem para a diminuição no número de fiéis católicos em alguns países, como o caso do Brasil, o bispo não demonstra preocupação. Para ele, mais importante do que números, é a qualidade do cristão. “A maior preocupação é que as pessoas testemunhem e sejam presença transformadora na sociedade, perante os graves problemas que a humanidade enfrenta”.
Dom Sérgio destaca que a Igreja precisa ser uma presença atuante diante das dores e desafios do mundo, e se posicionar com coragem. Ao mesmo tempo, reconhece que a realidade política do país também é motivo de reflexão. “Vemos uma polarização muito radical no Brasil e isso me entristece”. O bispo ressalta que a Igreja não assume posições partidárias, mas defende a postura ativa dos cristão na vida pública. “Devemos estimular a participação dos leigos na política, a não desanimar diante da conjuntura, se informar e ter cuidado com o voto.”
Segundo dom Sérgio, a transformação social passa pelo envolvimento de pessoas de bom caráter e de valores para os poderes públicos. Por isso, segundo ele, a Igreja deve continuar sendo formadora de consciência cidadã, comprometida com o bem comum. Mesmo diante dos desafios e das incertezas do tempo presente, ele mantém o olhar esperançoso. “Sou otimista”.
Vocação inabalável
A vida de dom Sérgio ganhou um capítulo desafiador em 2021, quando recebeu o diagnóstico de um câncer na garganta. O religioso passou aproximadamente dois anos realizando quimioterapia e imunoterapia. Embora o tratamento tenha conseguido conter o avanço da doença, ainda não foi suficiente para erradicá-la. Mesmo assim, segue sereno, sustentado pela fé. “Não me preocupo. Sei que muitas pessoas rezam por mim e confio nos cuidados de Deus”.
Ao completar 75 anos, dom Sérgio enviou uma carta de renúncia ao papa, assim como pede o direito canônico da Igreja católica. O bispo teve o pedido aceito no dia 10 de junho de 2024. Desde então, não exerce mais função administrativa na diocese de Ponta Grossa. Mesmo estando na fase emérita e lutando contra um câncer, dom Sérgio segue ativo na Igreja. O bispo auxilia dom Bruno Elizeu Versari, atual bispo diocesano, em festas paroquiais, celebrações de missas e realizações de sacramentos. “Diante da doença, cumpro as tarefas dentro do que é possível. Agradeço a Deus por ter conseguido manter minha vocação, que sempre foi o grande sonho de minha vida”.
Ficha técnica
Produção: João Bobato
Edição e publicação: Gabrieli Mendes, Giovana Guarneri e Maria Cecília Mascarenhas
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão e publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado