O terceiro dia do Ciclo de Debates sobre saúde mental no contexto de pandemia e ensino remoto, promovido pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da Universidade Estadual de Ponta Grossa, foi voltado ao debate sobre a saúde mental de docentes que são mães e pais. A atividade ocorreu nesta quinta-feira, 04, com a participação da professora do curso de Serviço Social e do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG, Lislei Preuss. A mediação foi realizada pelo estagiário e discente do curso de Serviço Social na UEPG, Holiver Hilan, e auxílio de Cristiane Gonçalves de Souza, da PRAE.
A professora conta suas experiências com o sistema de ensino remoto adotado durante a pandemia. “O ensino remoto demanda repensar e recriar diariamente as nossas aulas e metodologias”, destaca. Lislei fala que a dificuldade de adaptação dos professores de cursos presenciais ao novo sistema foi muito grande, pois além das mudanças para ministrar as disciplinas, é necessário ter acesso à Internet rápida e equipamentos atualizados e de qualidade.
Preuss apresenta dados de um questionário, realizado pela Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) em 2020, para os docentes da graduação e pós-graduação, sobre as aulas remotas no período de isolamento. O relatório mostra que 51,3% dos docentes nunca tiveram experiência com disciplina EaD, e 55,9% nunca elaboraram material para aula à distância. A primeira inserção desses professores ao EaD foi no contexto da pandemia e com a convivência familiar intensificada, o que dificulta o trabalho dos profissionais responsáveis por crianças que necessitam de atenção constante.
A convidada destaca que todas as mudanças exigidas dos professores afetam a saúde mental dos mesmos, que começam a se sentir inseguros por conta da incerteza sobre a aprendizagem dos alunos: “Gosto de ver o semblante dos alunos, pois o corpo fala muito. Lecionar sem esse contato é muito frustrante”. Ansiedade, insônia, obesidade e excesso de produtividade têm sido consequências comuns entre os docentes, e a desmotivação é queixa recorrente de professores e alunos. A professora usa como exemplo uma disciplina ministrada por ela, que no início de 2020 possuía 47 alunos matriculados e, atualmente, possui 33 alunos. Nas aulas síncronas, ela diz que participam de 7 a 13 alunos, o que, apesar da compreensão dos professores sobre as diferentes realidades de seus alunos, é decepcionante e desgastante.
Lislei explica, também, como os projetos de extensão e pesquisa da instituição têm funcionado com segurança, sem que os alunos entrem em contato de forma presencial com a comunidade. A professora observa que foi preciso buscar novas metodologias, novas técnicas de coleta de dados e olhar os resultados por um novo viés. Foram alcançadas e beneficiadas pelos projetos de extensão 144.231 pessoas em 173 municípios, como expõe a Diretora de Extensão, Sandra Maria Scheffer, em pesquisa mencionada pela convidada do debate. O elo entre a universidade e a comunidade não pode ser rompido e, para isso, a dedicação dos docentes para as pesquisas e projetos é ainda maior.
A docente traz para o debate a questão das mulheres, mães, que ficam sobrecarregadas com os cuidados com as crianças e os serviços domésticos presentes no cotidiano de forma paralela às exigências do trabalho. Além disso, ela destaca a importância da visibilidade da situação dos professores em um contexto em que estão com os salários defasados e imersos em inúmeras atividades, com excesso de trabalho. A saúde mental dos professores está abalada em decorrência de inúmeras situações, e o Ciclo de Debates da quinta-feira possibilitou uma maior atenção ao assunto, finalizando o evento com relatos emocionantes de alguns docentes da UEPG.
O quarto e último dia do Ciclo de Debates acontece na sexta-feira, 05/03, e aborda a atenção psicossocial a estudantes negras(os) e indígenas.
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